São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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Aliados de Morales disputam butim de referendo

Diferentes correntes de partidários do presidente cobiçam cargos de governadores destituídos em referendo do último domingo

FLAVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ

O partido de Evo Morales e seus aliados já se lançaram numa disputa aberta pelo prêmio que o referendo revogatório de domingo lhes deu: a oportunidade de levar os governos dos departamentos de La Paz e Cochabamba, que, ao lado de Santa Cruz, são os principais pólos econômicos da Bolívia.
No tira-teima que testou nas urnas os mandatos de presidente e governadores, três departamentos perderam seus governos. Os opositores José Luis Paredes e Manfred Reyes Villa deixaram os de La Paz e Cochabamba. O governista Alberto Aguilar não chefiará mais o empobrecido Oruro.
A guerra aberta em La Paz já começou. Um deputado nacional suplente pelo governista MAS (Movimento ao Socialismo), René Paredes, foi o primeiro. Anteontem, fez-se carregar por um grupo de apoiadores até a sede de governo, aclamado como "governador".
René diz ser apoiado por sindicatos de El Alto. Há pelo menos mais quatro candidatos do partido do governo, e o aliado MSM (Movimento Sem Medo) já anunciou que também incluirá um nome na disputa.

Espaço para El Alto
As lideranças da populosa cidade, na região metropolitana de La Paz e majoritariamente indígena, cobrarão espaço na disputa. Uma das quatro cidades mais populosas do país, teve 91% de seus votos favoráveis ao presidente. Foi a cidade também que, com as províncias, ajudou a derrubar o então governador Paredes, que ganhou na capital.
"É necessário que o candidato seja de El Alto", disse ao jornal "La Razón" Ismael Herrera, presidente da influente Federação das Juntas de Vizinhos da cidade, que liderou a rebelião contra o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada em 2003.
Ontem, o governador de Cochabamba, o único que resistia a aceitar os resultados do referendo, renunciou, mas seguiu acusando o governo de ter fraudado resultados. "Não vou expor o povo a confrontações."
Até anteontem, Reyes Villa reiterava que não deixaria o cargo, que batalharia legalmente para mantê-lo e que o povo lhe apoiaria nas ruas. A desistência dispersou o clima de tensão que se formava na cidade. Na praça em frente à sede de governo de Cochabamba apoiadores de Morales faziam vigília para pressionar o governador.

Regras eleitorais
O processo para a escolha dos substitutos dos governadores promete problemas. A lei do referendo prevê que Morales deve indicar um interino até que eleições sejam chamadas.
O prazo não está determinado, o que causa grita na oposição. Ontem, o porta-voz de Morales, Iván Canelas, disse que a convocação será "o mais breve possível", entre 90 e 120 dias.
Setores governistas também se articulam para fazer com que o mandato do futuro eleito não termine em 2009, como previsto. Querem ao menos que os novos governadores, que apostam que serão governistas, sigam no poder até o fim do governo de Morales, em 2010.
O presidente Morales obteve votação maciça nos três departamentos. Em Oruro e La Paz, em torno de 80%. Em Cochabamba, 68%.
Segundo informe da OEA (Organização dos Estados Americanos), a votação na Bolívia apresentou irregularidades. A entidade, que convocou 120 observadores para fiscalizar o pleito, disse que em 9% das mesas observadas não se respeitou o direito a voto secreto e que em 32% delas houve problemas com o cadastro eleitoral.

Cubanos são alvo
Ontem, uma ONG defensora de direitos humanos acusou homens da União Juvenil Cruzenha, um dos braços mais radicais da oposição a Morales, e integrantes de um comitê cívico de San Ignacio, na zona rural de Santa Cruz, de fazer refém um grupo de médicos cubanos que trabalha no departamento.
Os opositores acusam os cubanos de serem espiões e teriam proibido os médicos de voltar à cidade.


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