|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aliados de Morales disputam butim de referendo
Diferentes correntes de partidários do presidente cobiçam cargos de governadores destituídos em referendo do último domingo
FLAVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
O partido de Evo Morales e
seus aliados já se lançaram numa disputa aberta pelo prêmio
que o referendo revogatório de
domingo lhes deu: a oportunidade de levar os governos dos
departamentos de La Paz e Cochabamba, que, ao lado de Santa Cruz, são os principais pólos
econômicos da Bolívia.
No tira-teima que testou nas
urnas os mandatos de presidente e governadores, três departamentos perderam seus
governos. Os opositores José
Luis Paredes e Manfred Reyes
Villa deixaram os de La Paz e
Cochabamba. O governista Alberto Aguilar não chefiará mais
o empobrecido Oruro.
A guerra aberta em La Paz já
começou. Um deputado nacional suplente pelo governista
MAS (Movimento ao Socialismo), René Paredes, foi o primeiro. Anteontem, fez-se carregar por um grupo de apoiadores até a sede de governo, aclamado como "governador".
René diz ser apoiado por sindicatos de El Alto. Há pelo menos mais quatro candidatos do
partido do governo, e o aliado
MSM (Movimento Sem Medo)
já anunciou que também incluirá um nome na disputa.
Espaço para El Alto
As lideranças da populosa cidade, na região metropolitana
de La Paz e majoritariamente
indígena, cobrarão espaço na
disputa. Uma das quatro cidades mais populosas do país, teve 91% de seus votos favoráveis
ao presidente. Foi a cidade
também que, com as províncias, ajudou a derrubar o então
governador Paredes, que ganhou na capital.
"É necessário que o candidato seja de El Alto", disse ao jornal "La Razón" Ismael Herrera,
presidente da influente Federação das Juntas de Vizinhos da
cidade, que liderou a rebelião
contra o presidente Gonzalo
Sánchez de Lozada em 2003.
Ontem, o governador de Cochabamba, o único que resistia
a aceitar os resultados do referendo, renunciou, mas seguiu
acusando o governo de ter fraudado resultados. "Não vou expor o povo a confrontações."
Até anteontem, Reyes Villa
reiterava que não deixaria o
cargo, que batalharia legalmente para mantê-lo e que o povo
lhe apoiaria nas ruas. A desistência dispersou o clima de tensão que se formava na cidade.
Na praça em frente à sede de
governo de Cochabamba apoiadores de Morales faziam vigília
para pressionar o governador.
Regras eleitorais
O processo para a escolha dos
substitutos dos governadores
promete problemas. A lei do referendo prevê que Morales deve indicar um interino até que
eleições sejam chamadas.
O prazo não está determinado, o que causa grita na oposição. Ontem, o porta-voz de Morales, Iván Canelas, disse que a
convocação será "o mais breve
possível", entre 90 e 120 dias.
Setores governistas também
se articulam para fazer com
que o mandato do futuro eleito
não termine em 2009, como
previsto. Querem ao menos
que os novos governadores, que
apostam que serão governistas,
sigam no poder até o fim do governo de Morales, em 2010.
O presidente Morales obteve
votação maciça nos três departamentos. Em Oruro e La Paz,
em torno de 80%. Em Cochabamba, 68%.
Segundo informe da OEA
(Organização dos Estados
Americanos), a votação na Bolívia apresentou irregularidades.
A entidade, que convocou 120
observadores para fiscalizar o
pleito, disse que em 9% das mesas observadas não se respeitou
o direito a voto secreto e que
em 32% delas houve problemas
com o cadastro eleitoral.
Cubanos são alvo
Ontem, uma ONG defensora
de direitos humanos acusou
homens da União Juvenil Cruzenha, um dos braços mais radicais da oposição a Morales, e
integrantes de um comitê cívico de San Ignacio, na zona rural
de Santa Cruz, de fazer refém
um grupo de médicos cubanos
que trabalha no departamento.
Os opositores acusam os cubanos de serem espiões e teriam proibido os médicos de
voltar à cidade.
Texto Anterior: EUA deixam de apontar culpado no Cáucaso Próximo Texto: Morales deve focar em diálogo com Congresso Índice
|