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Julgamento sobre mala
atinge Chávez e Cristina
Eles dizem serem falsas gravações que os ligam a caso
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Ao mesmo tempo em que Bolívia e Venezuela expulsaram
os embaixadores americanos
de seus territórios, a relação
entre a Argentina e os EUA
também se tornou mais tensa
nesta semana devido ao início
do julgamento do chamado "caso da mala", em Miami.
O governo argentino afirmou
em um comunicado, na última
quinta-feira, que as relações
entre os dois países foram "afetadas" após a divulgação de gravações do FBI americano que
envolvem os governos da Argentina e da Venezuela no julgamento contra o venezuelano
Franklin Durán.
O empresário é acusado de
formar parte de um grupo de
supostos agentes venezuelanos
encarregados de pressionar o
empresário Guido Antonini
Wilson a não revelar a origem e
o destino dos US$ 800 mil que
levava em uma mala com a qual
tentou entrar na Argentina em
agosto do ano passado. Segundo o promotor, o destino do dinheiro seria a campanha da hoje presidente da Argentina,
Cristina Kirchner.
No comunicado, o governo
argentino pede a extradição de
Wilson ao país e afirma que o
material foi apresentado pela
promotoria "com base em material armado e produzido pelo
FBI, ou seja, com conhecimento de autoridades políticas dos
EUA". A Embaixada dos EUA
na Argentina decidiu não pôr
lenha na fogueira do caso e afirmou apenas que sua Justiça é
independente do governo.
Nas gravações apresentadas
pela Promotoria, o grupo de supostos agentes venezuelanos
pressiona Antonini Wilson para que não revele a origem do
dinheiro. Quando ele pergunta
quem pode garantir que não será preso, lhe respondem "[o então presidente Néstor] Kirchner e Chávez".
Também afirma que foi um
ex-funcionário kirchnerista
quem teria lhe entregado a mala com dinheiro. As gravações
foram feitas por Wilson, que
começou a colaborar com o FBI
e se tornou vítima no caso.
Entre os cinco acusados no
caso, quatro foram presos. Três
deles se declararam culpados
em troca de redução da pena.
Durán, único a alegar inocência, é quem está sendo julgado.
O quinto acusado está foragido.
Chávez
Também nas gravações, o advogado venezuelano Moisés
Maionica, outro acusado, afirma que o "vice-ministro da Justiça da Argentina" (cargo que
não existe no país) teria viajado
para a Venezuela para se encontrar com membros do serviço de inteligência venezuelano
e juntos abafarem o caso.
Em seu depoimento, na
quinta-feira, Maionica ainda
afirmou que o presidente Hugo
Chávez pediu ao chefe da inteligência, Henry Rangel Silva, que
oferecesse US$ 2 milhões para
que Wilson não revelasse informações sobre o dinheiro contido na mala.
Chávez diz que o julgamento
é um "show" e que estaria
"comprado".
A relação entre Argentina e
EUA já tinha se abalado no fim
do ano passado, quando surgiram as primeiras suspeitas de
que o dinheiro seria para a
campanha de Cristina e a presidente afirmou ser vítima de
uma "operação lixo", mas, nos
últimos meses, houve um esforço dos países para retomar a
relação.
"O subsecretário de Estado
para o Hemisfério Ocidental
dos EUA, Thomas Shannon,
veio três vezes ao país neste
ano, e os dois países haviam
concordado em restabelecer os
vínculos. Mas tudo mudou na
quinta, quando o governo acusou os EUA de estarem por trás
de uma operação política para
desestabilizar a Argentina",
disse à Folha Jorge Castro, diretor do Instituto de Planejamento Estratégico.
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