São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Julgamento sobre mala atinge Chávez e Cristina

Eles dizem serem falsas gravações que os ligam a caso

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Ao mesmo tempo em que Bolívia e Venezuela expulsaram os embaixadores americanos de seus territórios, a relação entre a Argentina e os EUA também se tornou mais tensa nesta semana devido ao início do julgamento do chamado "caso da mala", em Miami.
O governo argentino afirmou em um comunicado, na última quinta-feira, que as relações entre os dois países foram "afetadas" após a divulgação de gravações do FBI americano que envolvem os governos da Argentina e da Venezuela no julgamento contra o venezuelano Franklin Durán.
O empresário é acusado de formar parte de um grupo de supostos agentes venezuelanos encarregados de pressionar o empresário Guido Antonini Wilson a não revelar a origem e o destino dos US$ 800 mil que levava em uma mala com a qual tentou entrar na Argentina em agosto do ano passado. Segundo o promotor, o destino do dinheiro seria a campanha da hoje presidente da Argentina, Cristina Kirchner.
No comunicado, o governo argentino pede a extradição de Wilson ao país e afirma que o material foi apresentado pela promotoria "com base em material armado e produzido pelo FBI, ou seja, com conhecimento de autoridades políticas dos EUA". A Embaixada dos EUA na Argentina decidiu não pôr lenha na fogueira do caso e afirmou apenas que sua Justiça é independente do governo.
Nas gravações apresentadas pela Promotoria, o grupo de supostos agentes venezuelanos pressiona Antonini Wilson para que não revele a origem do dinheiro. Quando ele pergunta quem pode garantir que não será preso, lhe respondem "[o então presidente Néstor] Kirchner e Chávez".
Também afirma que foi um ex-funcionário kirchnerista quem teria lhe entregado a mala com dinheiro. As gravações foram feitas por Wilson, que começou a colaborar com o FBI e se tornou vítima no caso.
Entre os cinco acusados no caso, quatro foram presos. Três deles se declararam culpados em troca de redução da pena. Durán, único a alegar inocência, é quem está sendo julgado. O quinto acusado está foragido.

Chávez
Também nas gravações, o advogado venezuelano Moisés Maionica, outro acusado, afirma que o "vice-ministro da Justiça da Argentina" (cargo que não existe no país) teria viajado para a Venezuela para se encontrar com membros do serviço de inteligência venezuelano e juntos abafarem o caso.
Em seu depoimento, na quinta-feira, Maionica ainda afirmou que o presidente Hugo Chávez pediu ao chefe da inteligência, Henry Rangel Silva, que oferecesse US$ 2 milhões para que Wilson não revelasse informações sobre o dinheiro contido na mala.
Chávez diz que o julgamento é um "show" e que estaria "comprado".
A relação entre Argentina e EUA já tinha se abalado no fim do ano passado, quando surgiram as primeiras suspeitas de que o dinheiro seria para a campanha de Cristina e a presidente afirmou ser vítima de uma "operação lixo", mas, nos últimos meses, houve um esforço dos países para retomar a relação.
"O subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental dos EUA, Thomas Shannon, veio três vezes ao país neste ano, e os dois países haviam concordado em restabelecer os vínculos. Mas tudo mudou na quinta, quando o governo acusou os EUA de estarem por trás de uma operação política para desestabilizar a Argentina", disse à Folha Jorge Castro, diretor do Instituto de Planejamento Estratégico.


Texto Anterior: Para governo, grupo se foi "porque quis"
Próximo Texto: Tailândia: Ex-premiê desiste de novo mandato; protestos persistem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.