São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Simpatizantes de Chávez recorrem às grifes

DE CARACAS

O fenômeno da vermelhofobia tem seu lado reverso: onde os chavistas abastecem seus closets? Pois há revolucionários socialistas que não não abrem mão de grifes.
José Sanabria, 47, gerente da loja da americana Tommy Hilfiger no shopping Sambil, diz que os chavistas são clientes certos.
"Uma unidade do Exército em Vargas [Estado no oeste do país] encomendou 30 jaquetas vermelhas. Nossos vermelhos básicos saem muito para esse público", conta. "A diferença desse governo é só de discurso."
Edward Barcelas, 33, supervisor da Lacoste, diz o mesmo. "Para nós é excelente. Porque os chavistas, agora, têm dinheiro."
A busca pelo vermelho mais sofisticado fez um dos estilistas mais famosos da cidade, Giovanni Scuttaro, ajustar sua produção.
"Todos os anos eu mando fazer guayaberas [camisas] vermelhas para eles. Eles têm de ter o que pôr numa reunião com o presidente", diz Scuttaro, que vestiu Chávez para sua primeira posse, em 1999. "Só faço por isso. Para mim, guayabera é branca, bege ou azul", afirma.
A camisa custa 1.428 bolívares fortes, ou US$ 332 no câmbio para produtos não essenciais.
O estilista luta contra a vermelhofobia de seus clientes não chavistas. "Radicais sempre há em todos os países. Mas explico que, se o vermelho fica bonito, que importa a política?"
Giovanni Scuttaro não está sozinho na operação resgate do vermelho. Em abril, um grupo de 25 artistas venezuelanos fez uma exposição chamada "Retomando el Rojo" (Retomando o Vermelho) justamente para combater a censura cromática.
Jaime Mendoza, o curador, diz que é preciso rejeitar o uso ideológico e recuperar todo o "leque simbólico" de sensações e sentimentos ligados ao vermelho.
É também o que pensa a estudante Karla Barrantes, 20, que fazia compras numa boutique em Las Mercedes, parte nobre de Caracas. "O vermelho não é deles. Eu uso", afirma.
Apesar da campanha, William Jose Rosales Parra, 23, vendedor de uma das lojas de Scuttaro, não se anima. "Morro de vontade de usar um terno escuro com uma gravata vermelha. É muito estiloso. Mas é chavista", reclama. "E, nessa parte da cidade, há preconceito."


Texto Anterior: Vermelhos de raiva
Próximo Texto: Turcos aprovam mudança na Carta e avalizam premiê
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.