São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

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Israel congela avanço militar à espera de solução diplomática

Início de terceira fase de operação é adiado, mas bombardeios a Gaza continuam

Emissários do Hamas estão no Egito para negociar condições de cessar-fogo; secretário-geral da ONU começa hoje visita à região

Ibraheem Abu Mustafa/Reuters
Explosão em Rafah, no sul da faixa de Gaza, após o lançamento de bomba por caça israelense, no 18º dia da ofensiva militar

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT

Em meio a uma intensa guerra de nervos e sinais de que o cessar-fogo pode estar próximo, o gabinete israelense decidiu congelar o plano de abrir uma nova fase da ofensiva contra o grupo fundamentalista Hamas, a fim de dar chance a uma saída diplomática. Emissários do Hamas estão no Cairo, onde negociam com o governo egípcio os termos de um acordo para pôr fim à violência.
Após 18 dias pressão militar à faixa de Gaza, os ataques aéreos israelenses continuam, mas a invasão do principal centro urbano do território palestino entrou em ritmo lento, enquanto o Egito avança na mediação de uma trégua.
O governo de Israel e líderes do Hamas mantêm o discurso belicoso, mas em ambos os lados crescem os indícios de que há interesse em torno de um cessar-fogo. Do lado palestino, o Hamas está dividido entre os líderes de Gaza, que querem o fim dos ataques, e os dirigentes no exílio, que endurecem os termos para aceitar a trégua.
Na noite de segunda-feira, o primeiro-ministro do governo do Hamas, Ismail Haniyeh, deixou claro em rara aparição na TV de que está disposto a aceitar um cessar-fogo.
Por outro lado, o birô político do grupo, sediado em Damasco, disse ontem que um cessar-fogo só será aceito se Israel retirar suas tropas de Gaza e reabrir as passagens da fronteira. Rejeitou ainda a presença de força multinacional na fronteira com o Egito, mas indicou que poderia aceitar tropas turcas.
Entretanto, com suas instituições de poder destruídas, centenas de militantes mortos ou presos e a crescente preocupação em perder o poder em Gaza, o Hamas parece cada vez mais inclinado para a posição mais pragmática, de Haniyeh.
Segundo um morador de Gaza que falou com a Folha por telefone pedindo para não ser identificado, a destruição em Gaza é tamanha que os fundamentalistas começam a temer a reação da população. Embora mantenha militantes armados em trajes civis nas ruas a fim de sufocar qualquer oposição, o grupo começa a ser responsabilizado pela devastação.

Caminhos paralelos
No lado israelense, o ministro da Defesa, Ehud Barak, disse ontem que a ofensiva militar e os esforços diplomáticos para um cessar-fogo correm paralelos, incluindo a visita à região do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que começa hoje. "Mas a guerra continua, e o Exército continua alcançando seus objetivos", disse Barak.
Israel adiou até amanhã o envio de um negociador ao Egito, e o premiê Ehud Olmert colocou pressão sobre o Hamas. "Queremos terminar isso. Mas, se o Hamas continuar disparando foguetes, enfrentará o punho de ferro de Israel."
O líder da oposição, Binyamin Netanyahu, que encabeça a corrida à sucessão de Olmert, defende a continuação da ofensiva até tirar o Hamas do poder.
Em meio à crescente crise humanitária em Gaza e o alto número de civis entre os mortos, Israel se prepara para não sofrer retaliações nos tribunais internacionais. O governo informou que cada ação militar é precedida de uma análise legal para garantir que ela não contraria o direito internacional.
Mas o esforço tem sido insuficiente para conter a pressão de organizações humanitárias, que querem uma investigação sobre supostos abusos do Exército em casos como o bombardeio a escolas da ONU em Gaza.
Questionado pela Folha, o ministro da Justiça de Israel, Daniel Friedman, disse que não há base legal para tais suspeitas. "O Exército toma todas as precauções para evitar danos a civis. Eu me pergunto se outro exército encararia esse tipo de situação, em que os terroristas usam os civis como escudos, com tanto cuidado."


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