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AMÉRICA LATINA
Além da censurar o projeto que envolve os EUA, Marco Aurélio Garcia diz que o Brasil quer ajudar mais o vizinho
Governo Lula critica o Plano Colômbia
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Nós [o governo brasileiro] não
vemos com simpatia o Plano Colômbia", afirmou ontem o chefe
da assessoria especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Marco Aurélio Garcia, ao participar de seminário acadêmico sobre a política externa do PT, na
UnB (Universidade de Brasília).
Além de censurar publicamente
o Plano Colômbia, Garcia deixou
claro que o novo governo está disposto a se envolver mais ativamente para a solução do conflito colombiano, algo evitado até agora pelo Itamaraty.
O Plano Colômbia é um esforço lançado em 2000, orçado em US$
7,5 bilhões, para combater o narcotráfico e a guerrilha no país vizinho. Os EUA já contribuíram com US$ 2 bilhões, equipamento
e logística militar. É o principal projeto estratégico de Washington na América Latina.
Criticar abertamente o plano é criticar a política dos EUA na região. O governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) também não gostava do projeto, mas
preferia falar mal apenas em conversas reservadas. A estratégia era
evitar o envolvimento do Brasil
nos problemas do vizinho e constrangimentos com Washington.
Segundo a Folha apurou, o governo Lula está realmente disposto a colaborar mais para o fim da crise colombiana. Mas ainda está
avaliando quais são as ações concretas que poderia tomar.
"O presidente Lula está disposto a contribuir", disse Garcia. O primeiro passo de uma maior cooperação será o repasse de informações colhidas pelo Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) sobre
a Colômbia.
Garcia se comprometeu a fornecer ao presidente colombiano, Álvaro Uribe, os dados que o Sivam tem sobre o seu país. O sistema de
vigilância da Amazônia alcança
parte do território colombiano.
No Itamaraty, o Plano Colômbia também recebe críticas veladas. O temor é que a repressão empurre guerrilheiros colombianos para o território brasileiro.
Segundo o assessor especial do
presidente, o governo reforçou a
vigilância da área de fronteira
com a Colômbia. "Nós seremos
rigorosos no controle de fronteira", afirmou.
Existem também censura à presença de militares americanos na
região e ao uso de agrotóxicos para acabar com plantações de coca.
Após o seminário, Garcia disse a
jornalistas que, "em breve", haverá "novidades sobre a Colômbia".
Sem detalhar, afirmou apenas que
se tratava de "reforçar a ação de
solidariedade".
A posição brasileira em relação
à Colômbia se encaixa na nova estratégia do governo visando uma
participação brasileira mais ativa
no continente. A interferência do
Brasil na crise venezuelana foi o
primeiro passo nessa direção.
As novas diretrizes para as relações exteriores também têm um
componente de maior "generosidade" comercial com os vizinhos.
Garcia afirmou que a autorização
dada anteontem para a compra
de pneus reformados de Paraguai
e Uruguai integra essa estratégia.
A importação desse tipo de
pneus estava proibida e incomodava os parceiros do Brasil no
Mercosul. Mesmo com as divergências internas sobre a decisão
de liberar a compra, Lula decidiu
autorizá-la para satisfazer os vizinhos.
Com relação ao Iraque, outro
ponto no qual discordam Brasília
e Washington, Garcia disse que
não se trata de uma questão ideológica, mas de preocupações sobre os efeitos que a guerra teria sobre a economia brasileira.
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