São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

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depoimento

Rodízio de racionamentos remete ao Haiti

DE CARACAS

"Ontem faltou água/ anteontem faltou luz/ teve torcida gritando quando a luz voltou." A música da Legião Urbana bem que poderia ter saído da Venezuela sob Hugo Chávez, que, nos últimos anos, convive com um rodízio de racionamentos.
Em 2007, quando cheguei, havia filas de até quatro horas para comprar dois quilos de leite em pó. À custa de muita importação o governo minimizou o problema, mas o desabastecimento continua à espreita e, às vezes, volta a assombrar, com o desaparecimento temporário de produtos como açúcar, café e até papel higiênico.
Agora, é a vez da crise energética. As duras medidas têm provocado situações haitianas, com cidades inteiras às escuras por até quatro horas. Só que, ao contrário do miserável país caribenho, a Venezuela boia num mar de petróleo e tem um presidente pra lá de hiperativo.
Caracas foi poupada dos cortes, mas sofre com a falta de água e com uma crescente violência -é a cidade com a quarta taxa de homicídios mais alta do mundo, diz um estudo mexicano. No perigoso centro, à noite, o trânsito caótico dá lugar a um deserto.
As incertezas sobre o que acontecerá amanhã estão por todo lado. Entre os estrangeiros, o esporte favorito é discutir a enorme e imprevisível flutuação do câmbio paralelo, pois muitos recebemos o salário em dólar ou euro.
Nestes três anos, o câmbio já desceu a 3,40 bolívares fortes por dólar e já bateu os 7 bolívares, com o salário variando na mesma proporção. Só na semana passada, foi de 7%.
Com tantos problemas, parte da oposição torce para que a situação piore e deixe a governabilidade insustentável. A lógica de derrubar Chávez de qualquer forma já virou piada.
No Twitter, a personagem fictícia María Ale López, espécie de velhinha de Taubaté às avessas, pede que todos deixem as torneiras abertas. Desconfio de que muitos levam o pedido a sério.
(FM)


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