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depoimento
Rodízio de racionamentos remete ao Haiti
DE CARACAS
"Ontem faltou água/ anteontem faltou luz/ teve
torcida gritando quando a
luz voltou." A música da
Legião Urbana bem que
poderia ter saído da Venezuela sob Hugo Chávez,
que, nos últimos anos,
convive com um rodízio de
racionamentos.
Em 2007, quando cheguei, havia filas de até quatro horas para comprar
dois quilos de leite em pó.
À custa de muita importação o governo minimizou
o problema, mas o desabastecimento continua à
espreita e, às vezes, volta a
assombrar, com o desaparecimento temporário de
produtos como açúcar, café e até papel higiênico.
Agora, é a vez da crise
energética. As duras medidas têm provocado situações haitianas, com cidades inteiras às escuras por
até quatro horas. Só que,
ao contrário do miserável
país caribenho, a Venezuela boia num mar de petróleo e tem um presidente pra lá de hiperativo.
Caracas foi poupada dos
cortes, mas sofre com a
falta de água e com uma
crescente violência -é a
cidade com a quarta taxa
de homicídios mais alta do
mundo, diz um estudo mexicano. No perigoso centro, à noite, o trânsito caótico dá lugar a um deserto.
As incertezas sobre o
que acontecerá amanhã
estão por todo lado. Entre
os estrangeiros, o esporte
favorito é discutir a enorme e imprevisível flutuação do câmbio paralelo,
pois muitos recebemos o
salário em dólar ou euro.
Nestes três anos, o câmbio já desceu a 3,40 bolívares fortes por dólar e já bateu os 7 bolívares, com o
salário variando na mesma proporção. Só na semana passada, foi de 7%.
Com tantos problemas,
parte da oposição torce
para que a situação piore e
deixe a governabilidade
insustentável. A lógica de
derrubar Chávez de qualquer forma já virou piada.
No Twitter, a personagem fictícia María Ale López, espécie de velhinha de
Taubaté às avessas, pede
que todos deixem as torneiras abertas. Desconfio
de que muitos levam o pedido a sério.
(FM)
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