São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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Governo Aznar trouxe prosperidade ao país

DO COLUNISTA DA FOLHA

O que surpreende nas eleições espanholas de hoje não é o fato de que todas as pesquisas indiquem uma vitória do PP (Partido Popular, centro-direita), no governo há oito anos, todos com José María Aznar, que, no entanto, preferiu deixar o cargo e indicou Mariano Rajoy como candidato.
A surpresa é que as pesquisas, realizadas antes dos atentados, ainda deixem dúvidas sobre a repetição ou não da maioria absoluta pelo PP, depois que o partido presidiu a criação de 4,2 milhões de empregos, com o que o desemprego se reduziu de 22%, quando Aznar assumiu em 1996, para os atuais 11,2%.
É bastante paradoxal, mas o conservador PP conseguiu, na prática, o que muitos líderes mundiais conservadores ou liberais viam, apenas na teoria, como a grande sedução de Luiz Inácio Lula da Silva: manter o equilíbrio orçamentário e, não obstante, dar atenção ao social.
Lula, por enquanto, está na promessa. Aznar, não. Pegou o país com um déficit na altura de 5% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda nacional) e o transformou em superávit (0,6% no ano passado). Na área social, não há melhor política do que criação de empregos.
Pedro Arias Veira, professor da Universidade de Santiago de Compostela, chega a dizer que "desde a segunda metade dos anos 90 (os anos José María Aznar, portanto), se atravessa a melhor etapa da história econômica espanhola". Não existe período precedente, conclui, que resista a uma comparação séria.
Ninguém discute os números, mas há, de um lado, o temor de insustentabilidade e, de outro, uma diferente atribuição de responsabilidades por essa "melhor etapa econômica".
Grande parte do crescimento econômico espanhol se assenta em um "boom" da construção civil. São 500 mil residências anuais, mais que Alemanha e França juntas, elas que são as duas maiores economias européias.
Mas, para comprá-las, os espanhóis enterraram-se em dívidas. Ao terminar 2003, elas ascendiam a 467,8 bilhões. Um aumento nos juros, hoje baixíssimos, ou uma desaceleração econômica que faça aumentar o desemprego poderiam provocar o estouro da bolha. Mesmo sem crise, o crédito hipotecário "iniciará sua desaceleração durante 2004", já antecipa a Associação Hipotecária Espanhola.
A outra chave da prosperidade espanhola é a integração à Europa, que despeja no país, a fundo perdido, o equivalente a 1% de seu PIB por ano.
Mais: é a integração à Europa que permite juros baixos, dá segurança aos investidores e abre mercados para a produção espanhola.
Na verdade, o milagre espanhol é simples de enunciar: nem a esquerda, quando governou, fez a folia econômica de que a direita sempre suspeita, nem a direita fez a demolição do Estado de bem-estar social que é marca registrada da Europa.
O próprio Aznar reconhecia indiretamente, em janeiro, os méritos de todos. "Estamos há 25 anos em democracia (a contar da Constituição de 1978). Provavelmente, os melhores 25 anos de nossa história". Ora, o PSOE governou 12 desses 25 anos (entre 1982/96).
Do lado contrário, o professor Josep Fradera, crítico de Aznar, também concede: "o conservadorismo do PP não é do estilo thatcheriano (da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher), com um ataque frontal ao sistema social herdado.
É muito agressivo politicamente com o adversário, mas muito cauteloso naquilo que lhe possa alienar apoios sociais".
É claro que, como crítico, Fradera acha que, se o PP continuar governando, "os efeitos a longo prazo se farão sentir".
Se o eleitor votar hoje não com olhos no longo prazo nem nos atentados de quinta, mas pelo que sente no seu próprio bolso, o razoável é supor que o bom andamento da economia permita a Rajoy dar seqüência ao governo de Aznar, com ou sem maioria absoluta. (CR)


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