São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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Lugo reitera prazo para revisão de Itaipu

Presidente paraguaio diz a jornal que renegociação de dívida deve ser concluída até agosto, quando completa um ano no cargo

Assunção não diz, porém, que medidas serão tomadas em caso de fracasso; Lugo quer "destravar diálogo" em reunião com Lula em abril

DA REDAÇÃO

O presidente paraguaio, Fernando Lugo, reiterou em entrevista ao espanhol "El Mundo" que o prazo para chegar a um acordo com o Brasil sobre a hidrelétrica binacional de Itaipu é 15 de agosto, quando seu governo completa um ano. Mas não disse que medidas serão tomadas caso não se chegue a uma solução negociada.
A persistência do impasse entre os governos paraguaio e brasileiro levou Lugo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a acertarem para o próximo dia 8 um encontro em Brasília "para destravar politicamente as negociações", disse à Folha Ricardo Canese, chefe da delegação paraguaia para Itaipu.
A renegociação da dívida da usina foi tema central da campanha de Lugo à Presidência. O cerne da reivindicação reside na quantia que o Brasil paga pela parte paraguaia da energia produzida na hidrelétrica binacional. O Paraguai detém 50% do produzido, mas utiliza apenas 6%. O restante é vendido compulsoriamente ao Brasil.
Assunção reivindica "soberania energética", o que significa principalmente liberdade para vender a outros países a parte não utilizada internamente e a preço de mercado. O Brasil abate nos repasses pela energia a dívida contraída pelo Paraguai na construção de Itaipu.
Segundo Lugo, o repasse ao Paraguai é hoje de US$ 109 milhões, valor que o Brasil ofereceu aumentar para US$ 200 milhões. A proposta, feita pelo Brasil em reunião bilateral no final de janeiro, foi considerada insuficiente e rejeitada. "Queremos entre US$ 1,2 bilhão a US$ 1,8 bilhão", afirmou.
"Primeiro, queremos esgotar os meios bilaterais", garantiu o presidente paraguaio. "Se nesse período não tivermos resposta...", disse, sem completar a frase. Para Canese, o Paraguai "não quer se adiantar" sobre eventuais medidas em caso de fracasso nas negociações.
Em abril do ano passado, após a eleição de Lugo, o Brasil admitiu discutir fórmulas de aumentar o valor pago ao vizinho, mas rejeitou rever o Tratado de Itaipu -cuja legitimidade é questionada no Paraguai por ter sido firmado em 1973, quando vigoravam regimes militares nos dois países.
Em dezembro, o Paraguai propôs ao Brasil repassar toda a dívida de Itaipu, de US$ 19,6 bilhões -a serem pagos até 2023-, aos Tesouros nacionais. Do total, US$ 19 bilhões ficariam com o Brasil -proporcionais ao consumo do país. O chanceler Celso Amorim considerou "irrealista" a proposta.
(AMARO GRASSI)

Com a France Presse


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