|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasileiros voltam a garimpo sob tensão
Embaixada no Suriname vê indisposição com garimpeiros; 11 suspeitos de ataque ainda estão presos
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Cenário de um ataque a garimpeiros brasileiros na véspera do Natal que terminou com
saques, incêndios e ao menos
25 feridos, a cidade fronteiriça
de Albina, no Suriname, registra retorno intenso desses trabalhadores à região, agora sob
um quadro de "paz vigiada" e
conflitos latentes.
Mas se antes esses garimpeiros compravam, dormiam e se
divertiam no entreposto do rio
Maroni onde foram agredidos a
golpes de facão e pauladas por
surinameses descendentes de
quilombolas, os maroons, o local é hoje somente um ponto de
passagem rumo às lavras remotas na vizinha Guiana Francesa, onde o garimpo é mais promissor do que no Suriname.
O embaixador do Brasil no
Suriname, José Luiz Machado
e Costa, descartou motivação
xenófoba no ataque -provocado pelo assassinato de um maroon-, porém reconhece que a
indisposição contra brasileiros
é crescente no país.
"Antes os brasileiros eram
"invisíveis" no Suriname, garimpavam em pequena escala,
pagavam taxas aos maroons.
Hoje estão contratando gente e
crescendo. Isso começa a incomodar algumas pessoas, e a
tendência é que manifestem resistência", disse o embaixador,
em entrevista à Folha.
Tensão
O ambiente conflitivo do garimpo se estende à Guiana
Francesa, território que vem
aumentando a repressão à atividade. Um exemplo ocorreu
na manhã da última quarta-feira, quando a polícia francesa
prendeu cerca de 15 lavradores
brasileiros na ilha chamada La
Gran Rochelle, usada como entreposto e atalho para a subida
do rio Oiapoque.
Quando os policiais conduziam os detidos -e mais 600
gramas de ouro e dois barcos
apreendidos- para registrar o
caso em Saint Georges, cidade
mais próxima, foram cercados
por cerca de 50 brasileiros, que
conseguiram resgatar cinco
presos e uma embarcação.
"A sorte deles é que a polícia
francesa não reagiu, e só deu tiros de borracha e de advertência", disse o delegado Samuel
Elanio, da Polícia Federal (PF)
em Oiapoque, no Amapá, que
fica a cerca de 15 minutos de
barco de Saint Georges.
Para o adido da PF no Consulado-Geral do Brasil em Caiena,
Alexandre Messias, a expectativa de impunidade e o lucro movem os garimpeiros brasileiros.
"A atividade é tão lucrativa que
a maioria acaba voltando, mesmo perdendo ouro. Sabem que
jamais serão maltratados [pela
polícia francesa], por isso não
temem voltar."
Saldo do ataque
No Suriname, as oito vítimas
do ataque ainda abrigadas pelo
governo brasileiro em hotéis de
Paramaribo deixaram os locais
na semana passada, com US$
200 (R$ 352) como ajuda de
custo do Itamaraty.
Dos cerca de 40 indiciados
sob suspeita de participação no
ataque aos brasileiros, 11 continuam presos, segundo o embaixador Costa. Respondem por
crimes como lesão corporal,
vandalismo, roubo e estupro (o
Itamaraty confirmou dois casos de vítimas brasileiras).
A presença brasileira no Suriname se tornou tema de campanha no país, que define novo
Legislativo no próximo mês de
maio -os membros da Assembleia Nacional elegem o presidente. Criticado pela oposição
por conta da situação em Albina, o governo de Ronald Venetiaan inaugurou na última sexta-feira uma nova unidade policial na cidade, que conta com
20 mil habitantes.
"A presença do Estado lá [Albina] mudou, mas não muito",
diz o ex-garimpeiro José Paulo
Ribeiro, hoje empresário e líder
de um conselho de brasileiros
no Suriname.
Texto Anterior: Diálogo com Cuba não mina repressão Próximo Texto: Antigo reduto da Al Qaeda, Samarra vive decadência Índice
|