São Paulo, sábado, 14 de abril de 2007

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Jovens franceses estão mais engajados

Pesquisa indica maior interesse pelas presidenciais; mobilização evoca 2002 para barrar finalista da extrema direita

Segundo Instituto Ipsos, 81% dos jovens votarão no 1º turno do dia 22; voto não é obrigatório; há cinco anos 63% disseram querer votar

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

A menos de dez dias do primeiro turno das eleições presidenciais na França, pesquisa indica que os jovens resolveram fazer as pazes com as urnas. Quatro de cada cinco jovens pretendem votar no dia 22, seja para impedir o avanço de candidatos extremistas, seja para tentar impor a sua agenda na vida política do país.
De acordo com pesquisa do instituto Ipsos, 81% dos eleitores de 18 a 35 anos manifestaram o interesse de votar neste ano. Nas presidenciais de 2002 eles eram 63%.
"De 2002 para cá, a política se tornou muito mais importante para mim, especialmente depois do plebiscito sobre a Constituição européia. Procuro ler mais sobre os problemas da França, li as propostas dos candidatos e estou refletindo. Meu interesse principal é a questão econômica", diz Demien Contie, 25 anos, estudante de medicina em Paris.
Os temas econômicos e sociais lideram a lista das principais motivações para a escolha do próximo presidente da França. Para 82% dos ouvidos pela pesquisa, a razão para votar é a expectativa de apoiar um candidato capaz de solucionar a questão dos sem-teto.
Estima-se hoje que haja 100 mil pessoas sem domicílio fixo no território francês e um igual contingente populacional vivendo em habitações improvisadas como campings e trâileres. No caso dos jovens, a falta de recursos para alugar uma moradia leva cerca de 260 mil, já no mercado de trabalho ou estudantes, a ainda morar com os pais ou com parentes.

Lembrança de 2002
A despeito dos debates sobre os rumos econômicos da França, é um certo revanchismo que parece motivar boa parte dos jovens a entrar no universo dos eleitores. Em 2002, o candidato da extrema direita, Jean Marie Le Pen, da Frente Nacional, foi para o segundo turno presidencial, desbancando o candidato socialista, Lionel Jospin. A diferença de votos entre Jospin e Le Pen foi de apenas 195 mil.
No segundo turno, Le Pen foi derrotado por Jacques Chirac, mas o feito da extrema direita provocou trauma entre os franceses. "Vou votar para barrar a extrema direita. Se eu não votar, outros escolherão no meu lugar", diz Guillaume Ibnaissa, 25, estudante de cinema.
Não há estatística oficial do número de jovens inscritos para votar neste ano, mas todos os candidatos procuram adaptar os seus programas às expectativas dessa fatia do eleitorado.
Ségolène Royal, do Partido Socialista, e Nicolas Sarkozy, da UMP, acenam com propostas de aumentos de alocações para estudantes e de estímulo ao primeiro emprego. Idéias que também estão incorporadas no discurso do candidato que se diz de centro, François Bayrou.

Flerte de Le Pen
Mesmo Le Pen, com forte rejeição na parcela mais jovem da população, procura se aproximar desses eleitores e traz fotos de estudantes em alguns de seus cartazes de campanha.
"Gostaria de ver [no novo presidente] uma preocupação com a inserção dos jovens no mercado de trabalho e uma solução para aumentar o poder aquisitivo", afirma Morgan Dalin, tradutor de 27 anos.
A mobilização da juventude francesa não se restringe ao tradicional nicho dos contestadores de esquerda ou de extrema esquerda. Militantes de direita e do centro "saíram do armário" e vão às ruas e à internet para fazer campanha.
No site www.jeunespopulaires.com/web, os jovens partidários do UMP, de Sarkozy, organizam eventos e debates. A juventude socialista, que apóia Ségolène, no site www.lesjeunespoursegolene.com, segue a mesma linha. Na reta final da campanha, os participantes também promovem concertos e festas para animar a campanha da candidata.
Mas talvez os jovens do UDF, de Bayrou, tenham sido os mais inovadores ao criar o site www.sexycentriste.com. Um dos objetivo do site é o de promover encontros e, quem sabe, ajudar os ativistas a achar a sua alma gêmea política. É até possível fazer um teste para medir as afinidades, como nos serviços de internet destinados a encontros amorosos.


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