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Jovens franceses estão mais engajados
Pesquisa indica maior interesse pelas presidenciais; mobilização evoca 2002 para barrar finalista da extrema direita
Segundo Instituto Ipsos,
81% dos jovens votarão no
1º turno do dia 22; voto não
é obrigatório; há cinco anos
63% disseram querer votar
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A menos de dez dias do primeiro turno das eleições presidenciais na França, pesquisa
indica que os jovens resolveram fazer as pazes com as urnas. Quatro de cada cinco jovens pretendem votar no dia
22, seja para impedir o avanço
de candidatos extremistas, seja
para tentar impor a sua agenda
na vida política do país.
De acordo com pesquisa do
instituto Ipsos, 81% dos eleitores de 18 a 35 anos manifestaram o interesse de votar neste
ano. Nas presidenciais de 2002
eles eram 63%.
"De 2002 para cá, a política
se tornou muito mais importante para mim, especialmente
depois do plebiscito sobre a
Constituição européia. Procuro ler mais sobre os problemas
da França, li as propostas dos
candidatos e estou refletindo.
Meu interesse principal é a
questão econômica", diz Demien Contie, 25 anos, estudante de medicina em Paris.
Os temas econômicos e sociais lideram a lista das principais motivações para a escolha
do próximo presidente da
França. Para 82% dos ouvidos
pela pesquisa, a razão para votar é a expectativa de apoiar um
candidato capaz de solucionar
a questão dos sem-teto.
Estima-se hoje que haja 100
mil pessoas sem domicílio fixo
no território francês e um igual
contingente populacional vivendo em habitações improvisadas como campings e trâileres. No caso dos jovens, a falta
de recursos para alugar uma
moradia leva cerca de 260 mil,
já no mercado de trabalho ou
estudantes, a ainda morar com
os pais ou com parentes.
Lembrança de 2002
A despeito dos debates sobre
os rumos econômicos da França, é um certo revanchismo que
parece motivar boa parte dos
jovens a entrar no universo dos
eleitores. Em 2002, o candidato da extrema direita, Jean Marie Le Pen, da Frente Nacional,
foi para o segundo turno presidencial, desbancando o candidato socialista, Lionel Jospin. A
diferença de votos entre Jospin
e Le Pen foi de apenas 195 mil.
No segundo turno, Le Pen foi
derrotado por Jacques Chirac,
mas o feito da extrema direita
provocou trauma entre os franceses. "Vou votar para barrar a
extrema direita. Se eu não votar, outros escolherão no meu
lugar", diz Guillaume Ibnaissa,
25, estudante de cinema.
Não há estatística oficial do
número de jovens inscritos para votar neste ano, mas todos os
candidatos procuram adaptar
os seus programas às expectativas dessa fatia do eleitorado.
Ségolène Royal, do Partido
Socialista, e Nicolas Sarkozy, da
UMP, acenam com propostas
de aumentos de alocações para
estudantes e de estímulo ao
primeiro emprego. Idéias que
também estão incorporadas no
discurso do candidato que se
diz de centro, François Bayrou.
Flerte de Le Pen
Mesmo Le Pen, com forte rejeição na parcela mais jovem da
população, procura se aproximar desses eleitores e traz fotos
de estudantes em alguns de
seus cartazes de campanha.
"Gostaria de ver [no novo
presidente] uma preocupação
com a inserção dos jovens no
mercado de trabalho e uma solução para aumentar o poder
aquisitivo", afirma Morgan Dalin, tradutor de 27 anos.
A mobilização da juventude
francesa não se restringe ao
tradicional nicho dos contestadores de esquerda ou de extrema esquerda. Militantes de direita e do centro "saíram do armário" e vão às ruas e à internet
para fazer campanha.
No site www.jeunespopulaires.com/web, os jovens partidários do UMP, de Sarkozy, organizam eventos e debates. A
juventude socialista, que apóia
Ségolène, no site www.lesjeunespoursegolene.com, segue a
mesma linha. Na reta final da
campanha, os participantes
também promovem concertos
e festas para animar a campanha da candidata.
Mas talvez os jovens do UDF,
de Bayrou, tenham sido os mais
inovadores ao criar o site
www.sexycentriste.com. Um
dos objetivo do site é o de promover encontros e, quem sabe,
ajudar os ativistas a achar a sua
alma gêmea política. É até possível fazer um teste para medir
as afinidades, como nos serviços de internet destinados a encontros amorosos.
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