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Fábrica estatal tem prejuízo na Venezuela
Vizinha à Sidor, que será nacionalizada, a produtora de alumínio Alcasa opera no vermelho há 16 anos
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CIUDAD GUAYANA
Responsável pelas negociações para nacionalizar a siderúrgica argentina Sidor, o ministro venezuelano das Indústrias Básicas e Mineração (Mibam), Rodolfo Sanz, advertiu os
sindicalistas da empresa na última quinta-feira: "Se reproduzirmos aqui o esquema do alumínio, estamos ferrados. Estamos claros aqui?"
Na função acumulada de presidente da Corporação Venezuelana de Guayana (CVG),
controladora de 17 estatais,
Sanz sabe do que está falando:
várias dessas empresas, entre
as quais cinco do "esquema do
alumínio", registram anos operando no vermelho, em meio a
denúncias de corrupção, altos
custos trabalhistas e defasagem
tecnológica.
A CVG foi fundada nos anos
1960, quando o governo venezuelano criou o pólo metalúrgico de Ciudad Guayana, cidade
planejada de 1 milhão de habitantes, 700 km a leste de Caracas, cujos quarteirões e avenidas largas lembram muito Brasília. Suas empresas hoje mantêm 18 mil trabalhadores.
Sem investimento
O caso mais emblemático é o
da Alcasa, fábrica de alumínio
inaugurada em 1967 e hoje
muitas vezes usada na propaganda oficial por ter uma "administração socialista",ou seja,
compartilhada com o sindicato.
Atualmente, emprega cerca de
4.000 pessoas.
Segundo dados oficiais, a Alcasa acumula 16 anos seguidos
no vermelho. Somente em
2007, quando a dívida aumentou 25%, o prejuízo da estatal
foi de R$ 370 milhões, ou seja,
mais de R$ 1 milhão por dia.
"Para cada bolívar [moeda
venezuelana] que a empresa
tem investido em seus ativos
totais, está endividada com
seus credores em 192% e 240%
nos anos 2006 e 2007. O que indica que a participação dos credores sobre o ativo total da empresa é maior do que 100%", relata o balanço da Alcasa.
Há 20 anos sem investimentos para atualização tecnológica, a fábrica, localizada em Ciudad Guayana, tem vários sinais
de abandono. O destaque é a
unidade de produção de carvão,
onde houve um incêndio em 30
de maio do ano passado. Até
agora, não há previsão de quando o local será reconstruído, e a
empresa tem de trazer o produto de fora.
"Na unha"
"Nos últimos 12 anos, houve
uma abandono completo das
empresas da CVG à sua sorte",
disse o secretário-geral do sindicato de trabalhadores da Alcasa, Henry Arias, em entrevista à Folha na sexta-feira, no
sindicato. "Os trabalhadores da
Alcasa merecem uma homenagem. Porque nem o presidente
nem os ministros sabem como
se produz uma gota de alumínio: com as unhas."
Arias afirma que a defasagem
tecnológica da Alcasa tem se
convertido numa ameaça tanto
ao ambiente quanto à saúde
dos funcionários. "Nas áreas de
trabalho, as lâmpadas estão
cheia de alumina. Imagine como entra nos pulmões."
Salários
De um aspecto Arias não reclamou: os salários pagos nas
estatais são várias vezes superiores aos do setor privados.
Um operador de forno da vizinha Sidor, por exemplo, tem
um salário mensal de cerca de
R$ 470 -o impasse nas negociações salariais com o sindicato da empresa foi o motivo alegado por Chávez para nacionalizá-la. Na Alcasa, a mesma função rende dez vezes mais, R$
4.700 -na sexta-feira, foi
anunciado um aumento salarial médio de 10%.
Os valores foram fornecidos
pelos sindicatos das empresas.
O sindicalista disse que "poderia haver" uma relação entre
os salários altos e o déficit da
empresa, mas diz que a culpa da
atual situação é sobretudo da
falta de investimentos.
"Se o Estado fizer as inovações tecnológicas, nós asseguramos a produção."
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