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Raúl não comenta, mas TV noticia medidas
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Num movimento inusual, o principal noticiário da TV cubana estatal divulgou ontem as liberação total de viagens de cubanos-americanos à ilha -frisando que o endurecimento e prometeu ampliar a informação
O governo Raúl Castro ainda
não havia se pronunciado sobre
as medidas anunciadas pelos
EUA até o fechamento desta
edição, mas o certo é que a liberação de viagens de cubanos-americanos à ilha é histórica:
restabelece um parâmetro que
só vigorou durante a gestão
Jimmy Carter (1977-1982) nos
últimos 47 anos de conflito.
Além disso, cubanos comuns
e autoridades esperam do fim
da proibição frutos imediatos:
que o fluxo maior a Cuba leve
algum alívio para uma economia em crise -cerca de US$
500 milhões extras. Na semana
passada, o governo anunciou
déficit de 73% na balança comercial em 2008 e o preço do
níquel, principal produto de exportação, despenca a ponto de
inviabilizar a exploração em algumas minas do país.
Se a liberação de viagens era
uma promessa de campanha
esperada, a permissão para que
empresas de telecomunicações
ofereçam serviços à Havana como TV a cabo, hoje ilegal na
ilha,não havia sido antecipada e
dependerá de uma improvável
anuência do regime.
Apesar da retórica da Casa
Branca de que a medida espalhará a mensagem democrática
em Cuba, esse é, de todo modo,
o primeiro "buraco" para transações comerciais-empresariais entre os países desde a
permissão para a venda de comida e remédio no começo desta década. "Parece-me positivo
se as empresas puderem oferecer serviços para melhorar a
conexão de internet na ilha",
diz Phill Petters, especialista
em Cuba do americano Lexington Institute. Para além da censura do regime na rede, atualmente, o embargo impede que
ligação por fibra ótica com os
EUA.
Primeiro revés
Quando o Congresso americano aprovou o primeiro relaxamento para as viagens de familiares, em março, o oficial
"Granma" classificou a medida
de "primeiro revés" para os anticastristas de Miami. Mas o
próprio Fidel Castro reclamou
de Barack Obama não ter aventado permitir as viagens de todos os americanos a Cuba, proibidas desde 1963.
Em geral, analistas de Cuba
ouvidos pela reportagem concordam com Fidel: o gesto de
Obama é positivo, ainda que
nada audaz. Mas Jorge Piñón,
da Universidade de Miami,
Luiz Bernardo Pericás, da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), além do
próprio Petters, estão otimistas. Um dos motivos é que Obama não descartou novas medidas e deixou claro que toda a
política está "sob revisão". Uma
das críticas, porém, foi a ausência de menção à retomada de
contatos diplomáticos diretos,
já que Obama tem defendido a
ferramenta com outros países.
Para Petters, os anúncios serão saudados cautelosamente
por líderes latino-americanos
na Cúpula das Américas, em
Trinidad e Tobago, onde o tema
de Cuba se instalou como teste
para Obama. "Há um consenso
na região sobre a normalização
das relações. Concordaria com
o presidente Lula se a avaliação
dele fosse a de que esse gesto é
pouco, considerando que os
EUA têm contatos com vários
regimes não democráticos em
várias partes do globo."
Leia o comunicado da Casa
Branca sobre Cuba
www.folha.com.br/091033
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