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Analistas vêem suicídio político
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
Um suicídio político. Essa foi a
definição dada por analistas ouvidos pela Folha sobre a suposta decisão do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) de desistir de
disputar o segundo turno das eleições presidenciais da Argentina,
previstas para domingo.
Se sair da disputa, Menem, o
homem que mais tempo permaneceu à frente da Casa Rosada,
deixará o caminho livre para que
Néstor Kirchner se torne o novo
presidente argentino e evitará
amargar a sua primeira derrota
nas urnas.
Para os analistas, Menem se desesperou com a possibilidade de
receber um volume de votos menor que o registrado no primeiro
turno da disputa, em 27 de abril.
As pesquisas apontavam para
uma vitória quase esmagadora de
Kirchner, que poderia receber até
70% dos votos no próximo domingo, contra uma média de 25%
a 30% de Menem.
"É um escândalo. Agora, Menem não terá mais futuro político
na Argentina", afirma Roberto
Bacman, do Ceop (Centro de Estudos e Opinião Pública).
Já o analista político Jorge Giacobbi encarou a hipótese de renúncia de Menem como uma saída "sábia" por parte do ex-presidente. "Seria uma confrontação
sem sentido já que todos sabiam
qual seria o resultado das urnas."
A eventual desistência evitaria
uma maior exposição do ex-presidente, que poderia, após a derrota, perder o pouco de poder que
exerce hoje sobre Províncias como a de La Rioja, onde foi o mais
votado no primeiro turno (84%).
"O ex-presidente passaria a ter
um papel apenas de referência entre alguns setores da política do
país", afirmou o sociólogo Torcuato di Tella. "Ele era um mito,
que agora deve desaparecer da
política nacional."
Influência menor
Para Giacobbi, Menem não terá
mais a influência política que usufruiu nos últimos anos. "Terá importância apenas como referência, algo como o que é [o ex-presidente Raúl] Alfonsín hoje", disse.
Alfonsín foi primeiro presidente eleito após o regime militar. É líder da UCR (União Cívica Radical), partido que historicamente revezou-se no poder com o Partido Justicialista e que praticamente desapareceu na eleição deste
ano.
Alberto Etcheberry, do Instituto
de Estudos Brasileiros da Universidade San Martín, acredita que a
renúncia, se ocorrer, seja uma estratégia de Menem para enfraquecer a vitória de Kirchner. "Daqui a três meses, Menem vai aparecer dizendo que nunca perdeu
uma eleição, pois afinal venceu no
primeiro turno e não disputou o
segundo", disse. Menem teve 25%
dos votos, ficando à frente de
Kirchner.
A possibilidade de uma renúncia começou a ser cogitada na última semana. Anteontem à noite, Menem chegou negar que renunciaria durante um evento em La
Matanza, região metropolitana de
Buenos Aires. Os rumores surgiram quando o ex-presidente
ameaçou entrar na Justiça com
uma denúncia sobre fraude no
primeiro turno.
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