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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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Analistas vêem suicídio político

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

Um suicídio político. Essa foi a definição dada por analistas ouvidos pela Folha sobre a suposta decisão do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) de desistir de disputar o segundo turno das eleições presidenciais da Argentina, previstas para domingo.
Se sair da disputa, Menem, o homem que mais tempo permaneceu à frente da Casa Rosada, deixará o caminho livre para que Néstor Kirchner se torne o novo presidente argentino e evitará amargar a sua primeira derrota nas urnas.
Para os analistas, Menem se desesperou com a possibilidade de receber um volume de votos menor que o registrado no primeiro turno da disputa, em 27 de abril. As pesquisas apontavam para uma vitória quase esmagadora de Kirchner, que poderia receber até 70% dos votos no próximo domingo, contra uma média de 25% a 30% de Menem.
"É um escândalo. Agora, Menem não terá mais futuro político na Argentina", afirma Roberto Bacman, do Ceop (Centro de Estudos e Opinião Pública).
Já o analista político Jorge Giacobbi encarou a hipótese de renúncia de Menem como uma saída "sábia" por parte do ex-presidente. "Seria uma confrontação sem sentido já que todos sabiam qual seria o resultado das urnas."
A eventual desistência evitaria uma maior exposição do ex-presidente, que poderia, após a derrota, perder o pouco de poder que exerce hoje sobre Províncias como a de La Rioja, onde foi o mais votado no primeiro turno (84%). "O ex-presidente passaria a ter um papel apenas de referência entre alguns setores da política do país", afirmou o sociólogo Torcuato di Tella. "Ele era um mito, que agora deve desaparecer da política nacional."

Influência menor
Para Giacobbi, Menem não terá mais a influência política que usufruiu nos últimos anos. "Terá importância apenas como referência, algo como o que é [o ex-presidente Raúl] Alfonsín hoje", disse. Alfonsín foi primeiro presidente eleito após o regime militar. É líder da UCR (União Cívica Radical), partido que historicamente revezou-se no poder com o Partido Justicialista e que praticamente desapareceu na eleição deste ano.
Alberto Etcheberry, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade San Martín, acredita que a renúncia, se ocorrer, seja uma estratégia de Menem para enfraquecer a vitória de Kirchner. "Daqui a três meses, Menem vai aparecer dizendo que nunca perdeu uma eleição, pois afinal venceu no primeiro turno e não disputou o segundo", disse. Menem teve 25% dos votos, ficando à frente de Kirchner.
A possibilidade de uma renúncia começou a ser cogitada na última semana. Anteontem à noite, Menem chegou negar que renunciaria durante um evento em La Matanza, região metropolitana de Buenos Aires. Os rumores surgiram quando o ex-presidente ameaçou entrar na Justiça com uma denúncia sobre fraude no primeiro turno.


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