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análise
Ex-auxiliar de Clinton encara nova agenda
CLAUDIA ANTUNES
EM SÃO PAULO
Indicado anteontem como
novo encarregado da América Latina no Departamento
de Estado dos EUA, o acadêmico de origem chilena Arturo Valenzuela enfrentará desafios práticos muito diferentes dos que encontrou
quando serviu à diplomacia
regional durante o governo
do democrata Bill Clinton.
Nos anos 90, a Casa Branca
não tinha diferenças graves
com governos da região. Os
grandes temas de que Valenzuela tratou na época foram
a proposta da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas), lançada pelos EUA em
1994, e o agravamento da
violência ligada ao narcotráfico na Colômbia.
O fim do embargo a Cuba
não estava em questão. Depois que os republicanos
conquistaram a maioria do
Congresso, no meio do seu
primeiro mandato, Clinton
sancionou a Lei Helms-Burton, que apertou as restrições a negócios com a ilha.
A Alca foi enterrada em
2005, e a crise econômica tirou o livre comércio da pauta
regional. A abordagem repressiva ao narcotráfico é
hoje posta em xeque.
O México, parceiro dos
EUA no Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do
Norte), sofre com a queda
das exportações ao vizinho.
O país descriminalizou o
porte de drogas para consumo pessoal e cobra que Washington reprima o fluxo de
armas que abastecem os cartéis em seu território.
A Bolívia quer ser reintegrada à ATPDEA, legislação
que promove exportações
aos EUA, sem atender ao requisito de receber de volta os
agentes antidrogas que expulsou no ano passado. O
Plano Colômbia é questionado no Congresso americano,
por ter falhado em reduzir a
produção de cocaína.
O Congresso também hesita em aprovar os acordos
de livre comércio assinados
com Colômbia e Panamá, inquietando governos aliados.
Além de seguir uma agenda com os sinais inversos aos
que promoveu, Valenzuela
não poderá mais capitalizar
como novidade a superação
da retórica que separava os
amigos dos inimigos regionais apenas por afinidade
ideológica.
Essa retórica mudou ainda
sob George W. Bush, quando
o diplomata Thomas Shannon -substituindo os ultraconservadores Otto Reich e
Roger Noriega- assumiu em
2005 o cargo que passará a
Valenzuela. Na Cúpula das
Américas, no mês passado, o
próprio presidente Barack
Obama elevou a distensão
verbal a níveis inéditos.
A disposição pragmática
fascinou os vizinhos, mas
nos EUA a confraternização
de Obama com supostos inimigos sofreu ataques. Um assessor do presidente foi à TV
para relativizar a abertura.
No início deste mês, o relatório anual do Departamento
de Estado manteve Cuba na
lista dos países acusados de
patrocinar o terrorismo.
Foram mensagens aos
congressistas e à opinião interna, com os quais a Casa
Branca precisará lidar se quiser transformar a retórica
conciliatória em gestos.
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