São Paulo, quinta-feira, 14 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Ex-auxiliar de Clinton encara nova agenda

CLAUDIA ANTUNES
EM SÃO PAULO

Indicado anteontem como novo encarregado da América Latina no Departamento de Estado dos EUA, o acadêmico de origem chilena Arturo Valenzuela enfrentará desafios práticos muito diferentes dos que encontrou quando serviu à diplomacia regional durante o governo do democrata Bill Clinton.
Nos anos 90, a Casa Branca não tinha diferenças graves com governos da região. Os grandes temas de que Valenzuela tratou na época foram a proposta da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), lançada pelos EUA em 1994, e o agravamento da violência ligada ao narcotráfico na Colômbia.
O fim do embargo a Cuba não estava em questão. Depois que os republicanos conquistaram a maioria do Congresso, no meio do seu primeiro mandato, Clinton sancionou a Lei Helms-Burton, que apertou as restrições a negócios com a ilha.
A Alca foi enterrada em 2005, e a crise econômica tirou o livre comércio da pauta regional. A abordagem repressiva ao narcotráfico é hoje posta em xeque.
O México, parceiro dos EUA no Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), sofre com a queda das exportações ao vizinho. O país descriminalizou o porte de drogas para consumo pessoal e cobra que Washington reprima o fluxo de armas que abastecem os cartéis em seu território.
A Bolívia quer ser reintegrada à ATPDEA, legislação que promove exportações aos EUA, sem atender ao requisito de receber de volta os agentes antidrogas que expulsou no ano passado. O Plano Colômbia é questionado no Congresso americano, por ter falhado em reduzir a produção de cocaína.
O Congresso também hesita em aprovar os acordos de livre comércio assinados com Colômbia e Panamá, inquietando governos aliados.
Além de seguir uma agenda com os sinais inversos aos que promoveu, Valenzuela não poderá mais capitalizar como novidade a superação da retórica que separava os amigos dos inimigos regionais apenas por afinidade ideológica.
Essa retórica mudou ainda sob George W. Bush, quando o diplomata Thomas Shannon -substituindo os ultraconservadores Otto Reich e Roger Noriega- assumiu em 2005 o cargo que passará a Valenzuela. Na Cúpula das Américas, no mês passado, o próprio presidente Barack Obama elevou a distensão verbal a níveis inéditos.
A disposição pragmática fascinou os vizinhos, mas nos EUA a confraternização de Obama com supostos inimigos sofreu ataques. Um assessor do presidente foi à TV para relativizar a abertura. No início deste mês, o relatório anual do Departamento de Estado manteve Cuba na lista dos países acusados de patrocinar o terrorismo.
Foram mensagens aos congressistas e à opinião interna, com os quais a Casa Branca precisará lidar se quiser transformar a retórica conciliatória em gestos.


Texto Anterior: México e crise são maiores desafios de sucessor, diz Shannon
Próximo Texto: Câmara italiana aprova lei anti-imigração
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.