São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Bush é recebido por Bento 16 nos jardins do Vaticano e dá força a rumores de conversão

DO "FINANCIAL TIMES", EM ROMA

Em uma demonstração pública do relacionamento especial que mantêm, o Papa Bento 16 ontem rompeu o protocolo e recebeu o presidente George W. Bush nos jardins do Vaticano, o que serviu para reanimar as especulações da imprensa italiana quanto a uma possível conversão do presidente norte-americano ao catolicismo.
Acredita-se que Bush, um cristão evangélico que foi recebido em audiência pelo papa mais vezes do que qualquer outro presidente dos EUA, tenha sido o primeiro chefe de Estado em visita ao Vaticano a ser recebido fora do gabinete privado do papa.
"Que grande honra, que grande honra", disse Bush, quando os dois entraram na Torre de São João, uma construção da era medieval, para uma conversa privada. Contemplando os amplos jardins, Bush perguntou sobre seu tamanho. "Não tão grandes quanto o Texas", respondeu um assessor do Vaticano.
"Sim, mas mais importantes", respondeu o texano.
Os enviados descreveram a cena como notável quebra de protocolo, com o objetivo de retribuir a recepção para 13,5 mil convidados realizada na Casa Branca quando do aniversário do papa, em abril, na sua recente visita aos EUA.
Na recepção, quando um entrevistador católico perguntou o que ele via nos olhos do papa, Bush, que segue a religião metodista, respondeu simplesmente: "Deus".
Marcello Pera, um filósofo e senador italiano que co-escreveu um livro com Bento 16 quando este ainda era cardeal, diz que os dois homens têm um relacionamento profundo e especial, fundado, primordialmente, em uma crença compartilhada de que a religião deve desempenhar papel central na vida política e na formação da opinião pública, e não em suas visões conservadoras sobre o aborto e o casamento homossexual.
Ainda que os EUA preservem a separação entre Igreja e Estado, não existe uma muralha entre religião e política, segundo Pera. "Trata-se de uma parte da história dos EUA. O país tem um senso de missão [cristã]. A Europa é mais laica. Bento 16 gosta mais do modelo norte-americano. O que fica claro é que o relacionamento deles não é pessoal, mas sim conceitual."
Comentaristas católicos italianos previram confiantemente, ontem, que Bush se converteria ao encerrar seu mandato seguindo os passos de seu irmão Jeb, que se casou com uma católica, e do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.
Mas fontes próximas ao Vaticano dizem ter visto poucos sinais reveladores, apontando que os dois não rezaram juntos, durante o encontro.
A visita ao Vaticano faz parte da última turnê européia de Bush, que deixa a Casa Branca em janeiro. Ontem à noite, ele foi recebido em Paris para um jantar com o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Antes de voltar aos EUA, visita ainda o premiê britânico, Gordon Brown.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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