São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

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"Presidente quer mulheres na cozinha", critica ativista

Para jornalista, perseguição do governo à população feminina estimulou engajamento


Asieh Amini comprou briga com Ahmadinejad em 2006, ao dizer que era mentira que as mulheres iranianas não eram mais apedrejadas

DO ENVIADO A TEERÃ

Uma das mais conhecidas feministas do Irã afirma que o governo Ahmadinejad é responsável pelo ápice da luta por igualdade de direitos em 30 anos de Revolução Islâmica.
"Nenhum outro presidente nos perseguiu tanto, nunca se fez tanto para nos colocar de volta na cozinha. Isso despertou muito ativismo", diz a poeta e jornalista Asieh Amini, 36, primeira mulher a ocupar o cargo de editora em um jornal iraniano, nos anos 90. Ela comprou briga com o presidente em 2006, ao dizer que era mentira que mulheres não eram mais apedrejadas no país. (RJL)

 

PERSEGUIÇÃO
Com Ahmadinejad, nós, as mulheres, começamos a enfrentar mais problemas na seleção nas universidades, para lançar livros, para estar em filmes. Cresceu a perseguição a quem não usa o hijab ou o lenço, aumentou a vigilância do que estamos fazendo e sobre festas particulares.
Na época do [presidente Mohammad] Khatami [1995-2007], nunca fui presa. Neste governo, já fui detida e investigada quatro vezes. Isso despertou ainda mais nosso ativismo.

SEM CENSURA
Quis abrir uma ONG e o governo nem respondeu. Mas continuo dando palestras. Luto pela igualdade no casamento e pelo direito de herança, pelo fim da poligamia e da punição pelos "crimes de honra".
Depois da ONU, dei um seminário para o Conselho de Advogados de Shiraz. Se eu me censurasse, estaria na cozinha. Oficialmente, não posso fazer o que faço. Meu escritório foi fechado, meu blog é bloqueado. Mas só me calo se cortarem minha garganta.

SECULARISMO
Acho que ateias, islâmicas, seculares precisam se unir. E não acreditar que a religião é que nos oprime. No início, o islã tinha mulheres com poder. Quem nos oprime são os homens. Sou a favor do secularismo. Sou muçulmana, mas acho que o governo não deveria entrar dentro da sua casa para dizer o que se pode ou não fazer.

MAIS QUALIFICADAS
Somos 65% dos estudantes universitários, há pelo menos 20 anos somos mais qualificadas e educadas que os homens.
Mas ainda não temos cargos nas empresas, nem no governo. Somos parte de uma sociedade tradicional, onde discurso e estrutura do poder não nos levam em conta. Esta eleição foi a primeira em que todos os candidatos tiveram de falar de mulheres na campanha e em que houve debates. Em dez anos, estaremos ainda melhores.



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