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RELIGIÃO
Nova ação da polícia da moral contra a moda feminina desaconselhada pelo islã abre debate de proporções inusitadas no país
Irã amplia repressão às roupas "impróprias"
PAUL HUGHES
DA REUTERS, EM TEERÃ
Esqueça os inspetores nucleares, a instabilidade no Iraque ou o
problema cada vez maior das drogas. O tópico mais quente no Irã
hoje em dia é a moda feminina: o
que as mulheres podem ou não
podem vestir.
A polícia da moral e os guardiães dos valores islâmicos lançaram uma onda de repressão ferrenha à "vestimenta imprópria",
apreendendo casacos justos e calças curtas de shoppings da moda
e detendo dezenas de mulheres
diariamente por desobedecerem
às normas islâmicas referentes à
vestimenta.
Esse conjunto de normas foi imposto após a Revolução Islâmica
de 1979 e requer que as mulheres
cubram os cabelos e usem roupas
longas e largas, que escondam totalmente seus corpos.
Roshanak, 27, ficou dois dias
presa porque deixou cair seu lenço da cabeça quando estacionava
o carro. "Meu marido teve de pagar 10 milhões de rials (US$ 1.266)
para me soltar, e estou aguardando julgamento. Meu advogado
disse que posso ser açoitada."
Embora essa repressão não seja
novidade -ela costuma se intensificar durante o verão, quando o
calor leva muitas mulheres a testar os limites da lei-, o nível de
discussão que a está acompanhando é algo inusitado. Segundo
a imprensa iraniana, o Ministério
do Interior está redigindo novas
diretrizes para deixar claro o que
pode ser vestido e o que não pode.
Para muitas pessoas, lançar diretrizes explícitas sobre o comprimento aceitável dos casacos de
mulheres ou decretar se sandálias
e brincos são proibidos coloca em
risco os avanços muito pequenos
que as mulheres iranianas conquistaram nos últimos anos.
O jornal reformista "Sharq" disse: "A maneira como as pessoas se
vestem é uma decisão que cabe a
cada um. O governo não deve
aprovar uma lei como essa". Mas
muitos clérigos, alarmados com o
fato de cada vez mais mulheres estarem abrindo mão da roupa preto que as recobria dos pés à cabeça, em favor de lenços coloridos,
casacos justos e calças capri (que
deixam descoberta a parte inferior das pernas), acham que já é
hora de uma lei dessa.
"Algumas mulheres saem na
rua a meio milímetro de quebrar
o código de vestimenta islâmico",
comentou o clérigo Ahmad Khatami. "É uma tendência muito perigosa." Um clérigo de alto nível
propõe a criação de um ministério de defesa da moral e dos bons
costumes, semelhante àquele usado pelo Taleban no Afeganistão.
Um grupo de linha dura atribui
o aumento dos casos de estupro à
desobediência das determinações
religiosas.
Analistas políticos dizem que a
questão pode representar um teste do futuro das liberdades sociais, especialmente agora, quando conservadores islâmicos praticamente expulsaram os reformistas do poder.
O presidente reformista Mohammad Khatami, que teria encorajado normas menos rígidas
de vestimenta desde que foi eleito,
em 1997, está em seu último ano
de mandato. Seus aliados perderam a maioria parlamentar para
os conservadores, em fevereiro,
numa eleição em que candidatos
reformistas foram desqualificados em massa.
"Os moderados no campo conservador sabem que uma repressão severa em questões sociais poderia provocar uma reação popular em contrário, mas, mesmo assim, os tradicionalistas querem
criar caso", disse o analista político Hossein Rassam.
No campo conservador, porém,
há quem discorde do endurecimento. Mesmo o aiatolá Ali Khamenei, o líder religioso supremo
do Irã, adotou um tom conciliatório em discurso na semana passada. "A imitação cultural é um perigo sério. Mas não me interpretem mal: não me oponho à moda,
a variedade e à inovação."
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