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Serviço secreto ordenou inspeção a "Clarín", dizem jornais
Um dos funcionários da Receita que lideraram a blitz a diário teria vínculos com agência de inteligência
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
Depois que a direção da Receita Federal e a Casa Rosada
negaram a autoria da espalhafatosa blitz fiscal empreendida
contra o grupo Clarín, na última quinta-feira, uma nova peça
entrou no quebra-cabeças para
desvendar a história.
A ordem para a operação, que
contou com cerca de 200 agentes e envolveu buscas na sede
do diário "Clarín" e em residências de diretores do grupo, teria
partido da Side (Secretaria de
Inteligência de Estado), órgão
homólogo da Abin brasileira.
A atuação oculta da Side foi
sugerida por jornais argentinos
no fim de semana, depois de
analisar o currículo dos dois
funcionários da Receita que lideraram a blitz e foram afastados pelo diretor, Ricardo Echegaray. Um deles, Andrés Vázquez, teria vínculos anteriores
-e atuais- com a Side.
Há duas versões antagônicas
sobre quem na Side teria disparado a ordem. Uma delas aponta o marido da presidente, Cristina Kirchner, o ex-presidente
Néstor Kirchner, que teria o órgão sob sua influência.
Essa seria a chave para entender a permanência no cargo
de Echegaray, mesmo depois
de afirmar publicamente que
uma megaoperação do órgão
que comanda foi feita nas suas
costas. Echegaray entregou o
cargo a Cristina, que recusou a
renúncia, segundo o jornal "Página 12", aliado do governo.
É também do "Página 12" a
insinuação de que Vázquez
possa ter agido em linha com a
Side, mas sob impulso de adversários do governo, como o
governador de Chubut, Mario
das Neves, peronista que se
opõe aos Kirchner e é pré-candidato à sucessão de Cristina.
Essa hipótese abraça o argumento oficial de que o governo
não seria tão estúpido para determinar uma ação que o prejudicasse com tanta contundência num momento crucial.
Está em discussão no Congresso o projeto do governo da
Lei de Serviços Audiovisuais. O
grupo Clarín é contrário ao
projeto, em que vê tentativa do
governo de controlar a mídia.
Além disso, os interesses
econômicos do Clarín seriam
seriamente afetados pela lei. As
medidas de "desconcentração"
de propriedade previstas obrigariam o grupo a se desfazer de
parte de suas concessões, além
de ver entrar no mercado de TV
a cabo, que hoje domina, um
enorme competidor -as companhias telefônicas ficam autorizadas a operar o "triple play"
(telefone, internet e cabo).
O "Clarín" publicou ontem
um texto em que contesta, com
dados estatísticos sobre seu alcance, a designação de "monopólio" que o governo lhe dá.
"Clarín é o principal grupo de
mídia, mas o cenário é plural e
competitivo", afirma o texto.
A blitz no "Clarín" ajudou a
fortalecer a oposição contra a
lei de mídia do governo, sob a liderança do vice-presidente, Julio Cobos, de quem a Casa Rosada pediu a renúncia, por seu
gesto opositor. "Seria mais fácil
renunciar, mas meu compromisso é com a cidadania e vou
seguir onde estou", disse.
A associação dos empregados
da Receita Federal, por sua vez,
divulgou nota ratificando a
blitz contra o "Clarín" e a competência da Receita para fiscalizar sem distinções. "Não pedimos desculpas nem concedemos privilégios", dizem.
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