São Paulo, segunda-feira, 14 de setembro de 2009

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Ocidente defende coalizão entre Karzai e opositores

Objetivo é evitar que o Afeganistão mergulhe numa crise política devido às denúncias de fraudes nas eleições do mês passado

Resultados finais devem ser anunciados na quinta-feira; principal antagonista do atual presidente rejeita possibilidade de acordo

DO "FINANCIAL TIMES"

Para tentar evitar uma crise política motivada pelos resultados contestados das eleições no Afeganistão, potências ocidentais têm procurado encorajar políticos de oposição a aceitar um acordo e formar um governo de coalizão com o presidente Hamid Karzai.
Diplomatas esperam que Karzai e seu principal antagonista, Abdullah Abdullah, derrotado na eleição, cheguem a um acordo que evite longas querelas sobre os resultados das urnas do mês passado, justo no momento em que os EUA procuram implementar sua nova estratégia para conter o avanço do Taleban.
Em mais um sinal do agravamento das condições de segurança no país, cerca de 50 pessoas foram mortas desde sexta-feira, entre elas 14 civis afegãos, integrantes de forças de segurança e cinco soldados americanos, mortos em dois ataques separados, por bombas em beira de estrada.
Ainda que muitos analistas considerem a formação de algum tipo de coalizão como a única possibilidade para superar as divisões internas deixadas por uma eleição manchada por sinais de fraude generalizada, a perspectiva de um acordo rápido parece remota. "Os EUA e o Reino Unido estão trabalhando nos bastidores para tentar reconciliar Karzai e Abdullah", disse um diplomata. "Mas não tem havido progresso."
Abdullah já disse que não trabalhará com Karzai -de quem ele já foi ministro, em 2006-, afirmando que a sua administração é muito corrupta. A relação dos países ocidentais com Hamid Karzai também piorou em meio aos sinais de fraudes eleitorais que o beneficiaram.
Vários outros candidatos, menos poderosos que Karzai e Abdullah, parecem estar mais abertos a negociações.
Sarwar Ahmedzai, candidato com reduto eleitoral na Província de Logar, disse ter sido procurado por diplomatas que o encorajaram a participar de uma coalizão. "Tenho 90% de certeza de que o resultado eleitoral levará à formação de um governo de coalizão", disse. "Isso deve levar pouco mais de um mês para ser atingido."

Recontagem
Preocupadas em não dar sinais de que estariam intervindo na política interna do Afeganistão, as potências ocidentais pediram paciência na recontagem de votos que podem alterar resultados preliminares que davam clara vitória para Karzai. A previsão era que os resultados finais fossem divulgados na quinta-feira.
"Os EUA não estão trabalhando por um acordo de divisão de poder", disse Caitlin Hayden, da embaixada americana em Cabul. "Em todo momento deixamos claro nosso apoio ao processo eleitoral, e é o que vamos continuar a fazer."
Apenas a recontagem, no entanto, dificilmente remediará completamente a crescente tensão política que ameaça polarizar ainda mais um país já dividido entre a ampla comunidade pashtun ao Sul, que apoia Karzai, e as minorias do Norte, base de Abdullah.
Um dos cenários possíveis para a recontagem é a reversão dos resultados parciais que dão a Karzai 54% dos votos (com 28% para Abdullah) e a necessidade de realização de um segundo turno. Se isso acontecer, o país poderá viver meses de incerteza, já que as fortes neves do inverno devem adiar qualquer nova votação para a primavera, no ano que vem.
De toda forma, o cenário alternativo, em que alguns votos sejam alterados mas a vitória de Karzai seja ainda assim confirmada em primeiro turno, também parece incapaz de satisfazer a oposição.


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