São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2011 |
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MOISÉS NAÍM O James Bond de Teerã
Seu nome é Manssor Arbabsiar, seu apelido é "Scarface", e alguns de seus amigos no Texas, onde ele vive há muitos anos, o chamam "Jack". Ele é um dos James Bonds do Irã. Se Jack é o 007 de Teerã, então Gohlam Shakuri, membro residente no Irã da força Quds, iraniana, uma unidade da Guarda Revolucionária Islâmica, talvez seja o 006. Abdul Reza Shahlai possivelmente seja o equivalente a Miss Moneypenny, que, nos filmes de 007, era secretária de M, a chefe de todos os espiões. O governo dos EUA diz que Jack foi contatado por seu primo Abdul Reza Shahlai, um membro da Força Quds. Eles traçaram um plano brilhante: matar o embaixador da Arábia Saudita nos EUA. Uma boa maneira de fazer isso seria explodir uma bomba perto dele em um restaurante em Washington. A perda de muitas vidas inocentes também foi discutida. A opinião de Jack? "Grande coisa." As boas ideias de Jack, Abdul Reza e Gohlam não pararam por aí. Como, por exemplo, a de terceirizar o assassinato, encarregando o Zetas, um cartel mexicano de drogas. Depois de a ideia ter sido aprovada em Teerã e o dinheiro ter começado a fluir de lá para Jack e amigos, eles puseram mãos à obra. Procuraram e identificaram os "prestadores de serviços" mexicanos, negociaram os valores (US$ 1,5 milhão), discutiram o "modus operandi", o "timing", colaborações futuras (explodir embaixadas), etc. O problema é que o "prestador de serviços" mexicano também estava trabalhando para a DEA americana (a agência de repressão às drogas). Resultado: o FBI capturou "Jack" e redigiu um documento de 21 páginas para um juiz de Nova York, descrevendo a conspiração em detalhes. Tudo mentira! Diz o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Para ele, isso é consequência do fato de que o movimento "Ocupem Wall St." está prestes a derrubar o governo americano. E o capitalismo. O aiatolá denunciou "o tratamento intransigente das autoridades americanas aos manifestantes" e, para que não fiquem dúvidas, explicou que essa brutalidade policial "nem é vista em países subdesenvolvidos com regimes ditatoriais". "O movimento acabará crescendo e derrubará o sistema capitalista e o Ocidente", disse Khamenei. Ele explica que Obama precisa de algo que desvie as atenções do colapso americano iminente. E o que poderia funcionar melhor que acusar o Irã, que nunca nem sequer usou de violência dentro ou fora de suas fronteiras, de tentar assassinar o embaixador saudita? Qual é a história real aqui? Não saberemos por algum tempo. Mas sabemos o seguinte: 1) Os conflitos entre Arábia Saudita e Irã pela influência sobre sua região são muito grandes; 2) Há uma batalha feroz entre o aiatolá (que controla a força Quds) e o presidente Ahmadinejad; 3) As sanções internacionais estão tendo um efeito sobre a economia iraniana, e isso está intensificando a turbulência interna; 4) Em períodos de caos, é possível que idiotas tenham a chance de tomar decisões importantes. 5) O movimento "Ocupem Wall St." não vai derrubar Obama. Nem o Ocidente. @moisesnaim AMANHÃ EM MUNDO Paul Krugman Texto Anterior: Acusação de estupro contra Strauss-Kahn é arquivada em Paris Próximo Texto: Mídia diz que Chile reprime cobertura de manifestações Índice | Comunicar Erros |
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