São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Mídia diz que Chile reprime cobertura de manifestações

Fotógrafo fará hoje denúncia formal; governo Piñera acumula dez episódios de violência contra repórteres

Relator da ONU para liberdade de expressão solicitou ao país que autorize a entrada de uma missão oficial

JOÃO PAULO CHARLEAUX
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SANTIAGO

A polícia do Chile será alvo hoje em Santiago da primeira acusação formal de sequestro de um jornalista desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
O caso do fotógrafo Fernando Fiedler, da agência italiana IPS (International Press Service, na sigla em inglês), está entre outros dez episódios de abdução, espancamento e ameaça a jornalistas ocorridos desde o início do governo do presidente centro-direitista Sebastián Piñera, em março de 2010.
Além de Fiedler, outro fotógrafo, Jorge Villegas, da agência chinesa de notícias Xinhua, afirma ter sido intoxicado, em agosto, por uma bomba de gás lacrimogêneo, pressionada contra seu rosto por policiais, durante um protesto estudantil. Outros sete jornalistas apresentaram denúncias semelhantes.
Na última quarta-feira, o relator especial das Nações Unidas para Liberdade de Expressão, Frank La Rue, esteve em Santiago pedindo que o governo chileno autorize a visita de uma missão oficial ao país.

SILÊNCIO
Para La Rue, "a manutenção da ordem não pode silenciar a opinião pública". No processo, o fotógrafo da IPS conta que foi "sequestrado" por um grupo de policiais no dia 6, quando registrava um protesto. Eles teriam espancado Fiedler e apagado imagens de sua câmera fotográfica.
Antes disso, o fotógrafo da agência espanhola Efe Víctor Salas perdeu um olho depois de ser agredido por um policial da cavalaria, quando fotografava uma manifestação na cidade de Valparaíso.
As denúncias apareceram no momento em que Piñera atingiu seu menor índice de aprovação (22%). Há cinco meses, seu governo enfrenta uma onda de protestos estudantis que pode fazer com que 50 mil estudantes percam o ano letivo. "A repressão converteu-se na maior arma para tentar recuperar a popularidade do governo, pelo menos entre o eleitorado conservador", afirmou Eugenio Tironi, analista político do jornal "El Mercurio".

PADRÃO DE VIOLÊNCIA
Para o presidente da Associação dos Correspondentes Estrangeiros, Mauricio Weibel, "a violência é um padrão da polícia, mas cresceu de forma assustadora e impunemente nesse governo".
Weibel disse ainda que o Ministério do Interior não deu nenhuma resposta às 11 denúncias feitas por escrito há mais de um mês. A polícia, por sua vez, disse que tem o direito de manter pessoas sob sua custódia sem acusação por até 12 horas, e afirmou desconhecer as denúncias de agressão.


Texto Anterior: Moisés Naím: O James Bond de Teerã
Próximo Texto: Hugo Chávez expropriará casa de verão de magnata
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.