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Inspeção não pode se arrastar, diz Powell
Secretário americano afirma que a melhora na cooperação iraquiana com a ONU não passa de "truque" para enganar o mundo
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O secretário de Estado dos EUA,
Colin Powell, disse ontem que o
Conselho de Segurança (CS) da
ONU não deve permitir que as
inspeções de armas se "arrastem
indefinidamente". Para Powell,
que representou os EUA na reunião do CS, a melhora da cooperação do Iraque com os inspetores da ONU são "truques" que
não devem enganar a comunidade internacional.
O secretário americano disse
que o ditador Saddam Hussein
não teria demonstrado o nível de
cooperação exigido pela resolução 1441 do CS, de 8 de novembro.
Ela dava uma "última chance" para o país se desarmar, exigindo
uma cooperação ativa de Bagdá
nas inspeções e ameaçando o país
com "sérias consequências" se
não o fizesse, sugestão de uma
ação militar.
"Precisamos continuar a colocar pressão sobre o Iraque, precisamos garantir que a ameaça de
uso da força não será removida",
disse o secretário. "A ameaça de
uso da força deve permanecer. O
uso da força deve sempre ser a última alternativa. Mas deve ser
uma alternativa", afirmou Powell.
Falando depois à CNN, Powell
disse que os EUA decidirão sobre
uma ação militar "em semanas".
"Ainda há uma chance para a
paz, mas ela não ocorrerá se recuarmos da pressão", disse ele.
Numa curta declaração sobre o
assunto, o presidente George W.
Bush afirmou que Saddam "será
desarmado de uma maneira ou de
outra". A Casa Branca disse que
Bush mantém o otimismo de que
o Iraque se dobrará aos apelos para que se desarme, evitando assim
a necessidade de os EUA liderarem uma invasão.
Powell demonstrou impaciência com a demora do processo de
desarmamento e com o conteúdo
dos relatórios divulgados ontem.
"Não podemos permitir que esse processo se arraste indefinidamente", disse. Segundo ele, o CS
da ONU precisará decidir em breve se já é o momento de impor ao
país as "sérias consequências"
previstas na resolução 1441.
As declarações de Bush e de Powell são sinais claros de que a Casa Branca colocou-se numa espécie de "prisão retórica": depois de
apregoar a guerra com tanta veemência, sobram poucas alternativas para um recuo sem que o presidente Bush sofra uma derrota
política considerável em época de
crise econômica.
Pesquisa divulgada ontem pelo
"New York Times" revela uma
queda na popularidade de Bush e
mostra que a maioria quer dar
mais tempo às inspeções.
Os EUA já enviaram cerca de
150 mil militares para regiões próximas ao Iraque, além de porta-aviões, aviões, helicópteros e blindados. Se o país decidir atacar, isso deverá acontecer nas próximas
semanas, como vários membros
do governo Bush reiteram com
frequência.
Powell disse estar satisfeito com
o avanço no nível de colaboração
dos iraquianos, mas afirmou que
o regime de Saddam Hussein ainda não tomou a decisão política
de se desarmar voluntariamente.
"Eles [os inspetores da ONU"
continuam sendo observados
[pelas autoridades iraquianas".
Continuam a ser grampeados. E
ainda não têm acesso ao que querem ver no Iraque, não podem
realizar seu trabalho de forma satisfatória", afirmou Powell.
Após a Guerra do Golfo (91),
Saddam concordou em destruir,
sob supervisão internacional, todas as suas armas de destruição
em massa, como determinaram
resoluções da ONU.
Nos últimos 12 anos, no entanto, Bagdá tem dificultado, das
mais diferentes formas, o trabalho dos inspetores da ONU.
Em 1998, Bagdá expulsou os
inspetores, acusando-os de serem
espiões dos EUA. A partir de então, as inspeções ficaram paralisadas e só foram retomadas no final
de novembro, após a administração Bush deixar claro que invadiria o Iraque caso as exigências da
ONU não fossem cumpridas.
Com agências internacionais
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