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São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

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Inspeção não pode se arrastar, diz Powell

Secretário americano afirma que a melhora na cooperação iraquiana com a ONU não passa de "truque" para enganar o mundo

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse ontem que o Conselho de Segurança (CS) da ONU não deve permitir que as inspeções de armas se "arrastem indefinidamente". Para Powell, que representou os EUA na reunião do CS, a melhora da cooperação do Iraque com os inspetores da ONU são "truques" que não devem enganar a comunidade internacional.
O secretário americano disse que o ditador Saddam Hussein não teria demonstrado o nível de cooperação exigido pela resolução 1441 do CS, de 8 de novembro. Ela dava uma "última chance" para o país se desarmar, exigindo uma cooperação ativa de Bagdá nas inspeções e ameaçando o país com "sérias consequências" se não o fizesse, sugestão de uma ação militar.
"Precisamos continuar a colocar pressão sobre o Iraque, precisamos garantir que a ameaça de uso da força não será removida", disse o secretário. "A ameaça de uso da força deve permanecer. O uso da força deve sempre ser a última alternativa. Mas deve ser uma alternativa", afirmou Powell.
Falando depois à CNN, Powell disse que os EUA decidirão sobre uma ação militar "em semanas".
"Ainda há uma chance para a paz, mas ela não ocorrerá se recuarmos da pressão", disse ele.
Numa curta declaração sobre o assunto, o presidente George W. Bush afirmou que Saddam "será desarmado de uma maneira ou de outra". A Casa Branca disse que Bush mantém o otimismo de que o Iraque se dobrará aos apelos para que se desarme, evitando assim a necessidade de os EUA liderarem uma invasão.
Powell demonstrou impaciência com a demora do processo de desarmamento e com o conteúdo dos relatórios divulgados ontem.
"Não podemos permitir que esse processo se arraste indefinidamente", disse. Segundo ele, o CS da ONU precisará decidir em breve se já é o momento de impor ao país as "sérias consequências" previstas na resolução 1441.
As declarações de Bush e de Powell são sinais claros de que a Casa Branca colocou-se numa espécie de "prisão retórica": depois de apregoar a guerra com tanta veemência, sobram poucas alternativas para um recuo sem que o presidente Bush sofra uma derrota política considerável em época de crise econômica.
Pesquisa divulgada ontem pelo "New York Times" revela uma queda na popularidade de Bush e mostra que a maioria quer dar mais tempo às inspeções.
Os EUA já enviaram cerca de 150 mil militares para regiões próximas ao Iraque, além de porta-aviões, aviões, helicópteros e blindados. Se o país decidir atacar, isso deverá acontecer nas próximas semanas, como vários membros do governo Bush reiteram com frequência.
Powell disse estar satisfeito com o avanço no nível de colaboração dos iraquianos, mas afirmou que o regime de Saddam Hussein ainda não tomou a decisão política de se desarmar voluntariamente.
"Eles [os inspetores da ONU" continuam sendo observados [pelas autoridades iraquianas". Continuam a ser grampeados. E ainda não têm acesso ao que querem ver no Iraque, não podem realizar seu trabalho de forma satisfatória", afirmou Powell.
Após a Guerra do Golfo (91), Saddam concordou em destruir, sob supervisão internacional, todas as suas armas de destruição em massa, como determinaram resoluções da ONU.
Nos últimos 12 anos, no entanto, Bagdá tem dificultado, das mais diferentes formas, o trabalho dos inspetores da ONU.
Em 1998, Bagdá expulsou os inspetores, acusando-os de serem espiões dos EUA. A partir de então, as inspeções ficaram paralisadas e só foram retomadas no final de novembro, após a administração Bush deixar claro que invadiria o Iraque caso as exigências da ONU não fossem cumpridas.


Com agências internacionais


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