São Paulo, sábado, 15 de março de 2008

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Tibetanos enfrentam polícia em Lhasa

Segundo relatos que vazaram para a agência britânica Reuters, desta vez manifestação teve adesão fora do clero budista

Reivindicações vão de autonomia à independência da Província da China; testemunhas falam em mortos e muitos feridos

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Um mercado popular em chamas e lojas de comerciantes chineses e carros da polícia depredados marcaram o dia mais violento dos protestos dos monges budistas contra a ocupação chinesa no Tibete.
Os quatrocentos manifestantes entraram em choque com mais de mil policiais, segundo relatos de testemunhas em Lhasa à agência Reuters.
A tensão começou na segunda-feira, quando cem monges fizeram uma manifestação para celebrar os 49 anos de uma tentativa fracassada de independência da China. Vários monges foram presos. Outros iniciaram greve de fome, exigindo a libertação dos presos.
Os lamas aproveitaram a celebração para exigir autonomia política e a independência da Província chinesa, às vésperas das Olimpíadas de Pequim.
A maior manifestação a acontecer no Tibete desde 1989 atraiu tibetanos comuns, além dos monges, que atacaram chineses da etnia han, majoritária na China. Protestos ali são raros pela pesada segurança do Exército e devido às penas duras contra os separatistas.
Segundo relatórios de tibetanos no exílio com parentes no Tibete, e de turistas americanos, houve tiroteio, muitos feridos e mortos na repressão ao protesto. Dois monges do mosteiro Drepung tentaram suicídio e estão em estado grave, segundo a rádio Free Asia.
A polícia chinesa tentou evitar a passeata de ontem pela manhã, fechando a entrada de um mosteiro com viaturas, que foram atacadas por multidão na porta do edifício religioso.
O mercado Tromsikhang, construído em 1993, ficou em chamas depois dos distúrbios. Segundo testemunhas ouvidas pela agência Reuters, um tibetano coberto de sangue passou carregado por ali, enquanto dezenas de viaturas policiais e ambulâncias se dirigiam ao Hospital Popular 102.
A organização do protesto coincide com a preparação do mais importante evento internacional na história do país, a Olimpíada de Pequim, tratada como a grande oportunidade do país exibir seu desenvolvimento ao mundo.
Os distúrbios em Lhasa provocam pesadelos que alguns líderes comunistas chineses temiam, segundo analistas ouvidos pela Folha.
O cenário mais temido tem como ingredientes o início de protestos em massa no Tibete, que provocam repressão violenta, mortos e feridos. São seguidos por críticas e pressões internacionais, reação destemperada da China, e, por fim, boicote aos Jogos Olímpicos.
O dalai lama pediu ontem que a China "não use a força e dialogue com os tibetanos".
A reportagem da Folha conversou ontem à tarde com estudantes da Universidade de Pequim e do Instituto Tecnológico de Pequim, ambas escolas de elite. Pedindo anonimato, como é comum no país, eles falaram que não tinham ouvido nada sobre os recentes episódios de violência no Tibete.
Em 1989, a mesma comemoração da tentativa de libertação tibetana foi estopim para outros grandes protestos, que se espalharam por todo o país e culminaram no massacre da Praça da Paz Celestial. Hu Jintao, atual presidente chinês, era chefe do PC no Tibete em 1989.


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