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Tibetanos enfrentam polícia em Lhasa
Segundo relatos que vazaram para a agência britânica Reuters, desta vez manifestação teve adesão fora do clero budista
Reivindicações vão de autonomia à independência da Província da China; testemunhas falam em mortos e muitos feridos
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Um mercado popular em
chamas e lojas de comerciantes
chineses e carros da polícia depredados marcaram o dia mais
violento dos protestos dos
monges budistas contra a ocupação chinesa no Tibete.
Os quatrocentos manifestantes entraram em choque com
mais de mil policiais, segundo
relatos de testemunhas em
Lhasa à agência Reuters.
A tensão começou na segunda-feira, quando cem monges
fizeram uma manifestação para celebrar os 49 anos de uma
tentativa fracassada de independência da China. Vários
monges foram presos. Outros
iniciaram greve de fome, exigindo a libertação dos presos.
Os lamas aproveitaram a celebração para exigir autonomia
política e a independência da
Província chinesa, às vésperas
das Olimpíadas de Pequim.
A maior manifestação a
acontecer no Tibete desde 1989
atraiu tibetanos comuns, além
dos monges, que atacaram chineses da etnia han, majoritária
na China. Protestos ali são raros pela pesada segurança do
Exército e devido às penas duras contra os separatistas.
Segundo relatórios de tibetanos no exílio com parentes no
Tibete, e de turistas americanos, houve tiroteio, muitos feridos e mortos na repressão ao
protesto. Dois monges do mosteiro Drepung tentaram suicídio e estão em estado grave, segundo a rádio Free Asia.
A polícia chinesa tentou evitar a passeata de ontem pela
manhã, fechando a entrada de
um mosteiro com viaturas, que
foram atacadas por multidão
na porta do edifício religioso.
O mercado Tromsikhang,
construído em 1993, ficou em
chamas depois dos distúrbios.
Segundo testemunhas ouvidas
pela agência Reuters, um tibetano coberto de sangue passou
carregado por ali, enquanto dezenas de viaturas policiais e
ambulâncias se dirigiam ao
Hospital Popular 102.
A organização do protesto
coincide com a preparação do
mais importante evento internacional na história do país, a
Olimpíada de Pequim, tratada
como a grande oportunidade
do país exibir seu desenvolvimento ao mundo.
Os distúrbios em Lhasa provocam pesadelos que alguns líderes comunistas chineses temiam, segundo analistas ouvidos pela Folha.
O cenário mais temido tem
como ingredientes o início de
protestos em massa no Tibete,
que provocam repressão violenta, mortos e feridos. São seguidos por críticas e pressões
internacionais, reação destemperada da China, e, por fim,
boicote aos Jogos Olímpicos.
O dalai lama pediu ontem
que a China "não use a força e
dialogue com os tibetanos".
A reportagem da Folha conversou ontem à tarde com estudantes da Universidade de
Pequim e do Instituto Tecnológico de Pequim, ambas escolas
de elite. Pedindo anonimato,
como é comum no país, eles falaram que não tinham ouvido
nada sobre os recentes episódios de violência no Tibete.
Em 1989, a mesma comemoração da tentativa de libertação
tibetana foi estopim para outros grandes protestos, que se
espalharam por todo o país e
culminaram no massacre da
Praça da Paz Celestial. Hu Jintao, atual presidente chinês,
era chefe do PC no Tibete em
1989.
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