Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
entrevista
"Pressão de fora não deterá a repressão"
DE PEQUIM
A China reprimirá os monges tibetanos se achar necessário, sem se importar com
as críticas internacionais. E,
mesmo assim, podem ocorrer distúrbios nas Olimpíadas, mas sem um cenário assustador para o regime comunista.
A opinião é do historiador
americano Tom Grunfeld,
que morou vários anos no Tibete e estuda a região desde
1966. Ele é professor do Empire State College, da State
University de Nova York e
autor de "The making of modern Tibet" (a construção do
Tibete moderno). Leia trechos da entrevista que ele
deu à Folha, por telefone.
FOLHA - Há quem defenda que
o governo chinês vai pegar mais
leve por causa das Olimpíadas,
Mas há quem defenda que a repressão será maior para intimidar
qualquer um que tentar estragar
os Jogos. O que pode acontecer?
GRUNFELD - Há um racha entre círculos políticos em Pequim entre os que querem
uma linha suave e os que pedem pelo pulso firme. Outro
tema é a quem culpar. Os
mais suaves culpam as políticas chinesas e a linha-dura
culpa o dalai lama, a CIA etc.
Os últimos argumentam que
nada que a China faça cria
problemas, e que as políticas
chinesas apenas melhoram
as coisas. Então qualquer atividade negativa é criada por
fontes externas.
FOLHA - Tem participação externa?
GRUNFELD - Não ficaria surpreso se houvesse agitação
do exterior. Uma faísca pode
colocar fogo em toda a pradaria, como diria Mao [Tsé-tung]. Mas o campo precisa
estar seco para a faísca pegar
e, na minha opinião, são as
políticas repressivas chinesas desde o início dos 90 que
secaram o campo e o deixaram suscetível ao fogo.
FOLHA - A repressão no Tibete
pode levar a uma onda de crítica
internacional ao país que leve a
um boicote das Olimpíadas?
GRUNFELD - Tudo isso já foi
tentado no Fórum Internacional da Mulher há muitos
anos e, fora um punhado de
manifestações e algumas
poucas pessoas fazendo declarações negativas, quase
nada aconteceu. Não vejo um
cenário assustador, mas distúrbios são prováveis.
FOLHA - Entre acabar com os
protestos no Tibete e sua imagem internacional, como a China
deve equilibrar esses dois lados?
GRUNFELD - Creio que a China provavelmente reprimirá
sempre que achar necessário. É uma solução de curto
prazo que funcionará para
eles porque têm uma força
enorme. Mas, no longo prazo, repressão tem efeito contrário porque afasta as pessoas ainda mais.
FOLHA - Além de mais violentos,
no que são diferentes os atuais
protestos?
GRUNFELD - Se o que a gente
escuta é verdade, há envolvimento da população leiga.
No passado, manifestantes
eram predominantemente
do clero. E houve ataques
contra indivíduos das etnias
han e hui, seus carros e lojas.
Antes, os ataques se concentravam em prédios governamentais e delegacias.
Interessante que a agência
estatal Xinhua tenha escrito
sobre o assunto e que alguns
estrangeiros tenham visto
comedimento na polícia. Isso é inusitado, se compararmos com práticas no passado.
Texto Anterior: Ativista na Índia fala em mortos e feridos em Lhasa Próximo Texto: Câmara dos EUA aprova nova lei sobre escutas Índice
|