São Paulo, sábado, 15 de março de 2008

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entrevista

"Pressão de fora não deterá a repressão"

DE PEQUIM

A China reprimirá os monges tibetanos se achar necessário, sem se importar com as críticas internacionais. E, mesmo assim, podem ocorrer distúrbios nas Olimpíadas, mas sem um cenário assustador para o regime comunista. A opinião é do historiador americano Tom Grunfeld, que morou vários anos no Tibete e estuda a região desde 1966. Ele é professor do Empire State College, da State University de Nova York e autor de "The making of modern Tibet" (a construção do Tibete moderno). Leia trechos da entrevista que ele deu à Folha, por telefone.

 

FOLHA - Há quem defenda que o governo chinês vai pegar mais leve por causa das Olimpíadas, Mas há quem defenda que a repressão será maior para intimidar qualquer um que tentar estragar os Jogos. O que pode acontecer?
GRUNFELD -
Há um racha entre círculos políticos em Pequim entre os que querem uma linha suave e os que pedem pelo pulso firme. Outro tema é a quem culpar. Os mais suaves culpam as políticas chinesas e a linha-dura culpa o dalai lama, a CIA etc. Os últimos argumentam que nada que a China faça cria problemas, e que as políticas chinesas apenas melhoram as coisas. Então qualquer atividade negativa é criada por fontes externas.

FOLHA - Tem participação externa?
GRUNFELD -
Não ficaria surpreso se houvesse agitação do exterior. Uma faísca pode colocar fogo em toda a pradaria, como diria Mao [Tsé-tung]. Mas o campo precisa estar seco para a faísca pegar e, na minha opinião, são as políticas repressivas chinesas desde o início dos 90 que secaram o campo e o deixaram suscetível ao fogo.

FOLHA - A repressão no Tibete pode levar a uma onda de crítica internacional ao país que leve a um boicote das Olimpíadas?
GRUNFELD -
Tudo isso já foi tentado no Fórum Internacional da Mulher há muitos anos e, fora um punhado de manifestações e algumas poucas pessoas fazendo declarações negativas, quase nada aconteceu. Não vejo um cenário assustador, mas distúrbios são prováveis.

FOLHA - Entre acabar com os protestos no Tibete e sua imagem internacional, como a China deve equilibrar esses dois lados?
GRUNFELD -
Creio que a China provavelmente reprimirá sempre que achar necessário. É uma solução de curto prazo que funcionará para eles porque têm uma força enorme. Mas, no longo prazo, repressão tem efeito contrário porque afasta as pessoas ainda mais.

FOLHA - Além de mais violentos, no que são diferentes os atuais protestos?
GRUNFELD -
Se o que a gente escuta é verdade, há envolvimento da população leiga. No passado, manifestantes eram predominantemente do clero. E houve ataques contra indivíduos das etnias han e hui, seus carros e lojas. Antes, os ataques se concentravam em prédios governamentais e delegacias.
Interessante que a agência estatal Xinhua tenha escrito sobre o assunto e que alguns estrangeiros tenham visto comedimento na polícia. Isso é inusitado, se compararmos com práticas no passado.


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