São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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Islamabad censura TV e perde ministra

Sherry Rehman, do governista PPP, entrega o cargo após bloqueio do sinal de TVs, atribuído ao presidente Zardari

Linha-dura contra protestos da oposição divide PPP, o mais liberal dos grandes partidos paquistaneses; governo acena com recuo

DA REDAÇÃO

A ministra paquistanesa da Informação, Sherry Rehman, renunciou ontem, após denúncias de censura à transmissão de protestos contra o governo. O sinal das redes independentes TV Geo, a maior do país, e da AAJ TV, foi bloqueado em várias cidades. A TV Geo acusa o presidente, Asif Ali Zardari, de ordenar a censura.
A renúncia da Rehman, durante a madrugada, foi um ato de resistência ao controle da mídia, segundo a imprensa paquistanesa. A saída da ministra, inicialmente recusada pelo premiê Yousuf Raza Gilani, foi confirmada por Rehman ontem de manhã. A Presidência nega ter interferido nas transmissões, normalizadas ontem.
A censura remete ao cenário de convulsão social e repressão que marcou os últimos meses de governo do ex-ditador Pervez Musharraf e culminou no fim do regime militar, em 2008. A oposição a Musharraf unia os rivais PPP (Partido do Povo Paquistanês, de centro-esquerda), atualmente no governo, e PLM-N (Partido da Liga Muçulmana -Nawaz, nacionalista e conservador moderado), maior legenda de oposição.
A cassação dos direitos políticos do ex-premiê Nawaz Sharif e de seu irmão -governador da mais rica Província paquistanesa, substituído por um aliado de Zardari- foi o estopim da atual onda de protestos, que exige o retorno dos juízes afastados pelo ex-ditador.
O governo reagiu com truculência, prendendo mais de 350 opositores e proibindo protestos nas duas principais Províncias, Sindh e Punjab. Mas, pressionado pelas Forças Armadas e pela Casa Branca, Zardari negocia agora a devolução do governo do Punjab à oposição.
A instabilidade paquistanesa prejudica o projeto americano de estabilizar a situação no vizinho Afeganistão -as regiões de fronteira são base de combatentes do Taleban.
A volta dos juízes tem amplo apoio popular e era endossada pelo PPP em campanha, mas foi vetada por Zardari. O retorno do presidente afastado da Suprema Corte ameaçaria a anistia contra ele em processos por corrupção.
Viúvo da carismática Benazir Bhutto, ex-premiê morta em atentado em dezembro de 2007, Zardari foi indicado para a Presidência pela cúpula do PPP (a eleição é indireta), mas nunca teve apoio popular.


Com agências internacionais


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