São Paulo, terça-feira, 15 de março de 2011

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Dificuldades só crescem no caminho para o norte

Escassez é a regra, mas internet funciona bem

DO ENVIADO À PROVÍNCIA DE FUKUSHIMA (JAPÃO)

A reportagem da Folha saiu no sábado à noite de Tóquio em direção a Sendai, 300 km ao norte da capital, local mais próximo do epicentro do megaterremoto.
É um avanço lento: em dois dias, percorremos 250 km, de trem suburbano e depois de van, até Fukushima. O trem-bala, se estivesse funcionando, percorreria o trajeto em apenas 1h30.
Os problemas aumentam à medida que subimos no mapa, por estradas secundárias, já que a pista expressa está fechada. Para entender os desvios, o motorista Carlão, dekasségui da zona norte de São Paulo, conta com GPS.
No início, o primeiro sinal do terremoto está nas imensas filas de combustível, vendido de forma racionada. Já tivemos que enfrentar duas delas, que foram insuficientes para encher completamente o tanque do veículo.
Depois de Hitachi, a surpresa foi o desaparecimento repentino do trânsito. A explicação: algumas dezenas de quilômetros adiante, na mesma rodovia 6, está a usina nuclear de Fukushima 1, cujo drama para controlar os problemas é acompanhado de perto por todo o país.
Fica uma sensação ruim, de que deveríamos estar no outro sentido.
Praticamente não há restaurantes abertos, e as lojas de conveniência, quando muito, têm bobagens como batata frita, bolacha e doces.
O desabastecimento na região é a regra. Ao meio-dia de ontem, paramos numa pequena loja que misturava lavanderia e loja de conveniência. Só havia cenoura e garrafinhas plásticas de leite com chá -eis o nosso almoço.
Falta comida, sobra gentileza. No abrigo para desabrigados pela usina nuclear, ganhamos água. Antes, uma mulher de meia-idade nos deu um pacote de bolacha quando fomos pedir algumas informações -e ainda nos agradeceu!
Nos hotéis em Mito e em Fukushima, fomos obrigados a assinar um termo pelo qual nos comprometemos a não tomar quaisquer medidas judiciais caso soframos danos provocados por "desastres naturais".
O funcionamento dos hotéis da região é precário e obriga a improvisar. Na noite de domingo, em Mito, a calefação não funcionava, e o termômetro no quarto marcava 15C -fora, estava -3C. A solução foi usar o secador de cabelos: deixei o botão apoiado contra o abajur para que o ar quente no quarto fosse constante.
Ontem, o problema era a falta de água, obrigando o uso de parte das poucas garrafas de água de que dispomos na viagem pela área. Porém, para um jornalista, mais essencial do que água é o acesso à internet, e ela tem funcionado com perfeição, tanto nos quartos quanto no telefone celular.
Já as constantes réplicas dos tremores provocam sustos em quem não está acostumado com eles.
No maior deles, estávamos numa loja de equipamentos eletrônicos quando tudo começou a tremer. Assustados, corremos para o estacionamento. Apenas uma funcionária da loja saiu. Para lembrar que o adaptador que tínhamos em mãos ainda não havia sido pago. (FABIANO MAISONNAVE)


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