São Paulo, sábado, 15 de abril de 2006

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IRAQUE SOB TUTELA

Situação difícil no Iraque leva mais americanos a defender a abstenção do seu país nas questões internacionais

Cresce isolacionismo nos EUA, diz pesquisa

DO "USA TODAY"

Os americanos, ansiosos com relação aos custos da Guerra do Iraque e ao impacto que o conflito possa exercer sobre a economia mundial, hesitam cada vez mais quanto ao envolvimento de seu país em operações internacionais.
Em pesquisa do "USA Today" e do instituto Gallup, cerca de metade dos entrevistados afirmou que os EUA "deveriam se concentrar em seus interesses, internacionalmente, e deixar que os outros países avancem como melhor puderem, sem interferência". Três anos atrás, apenas um terço dos consultados se sentia assim.
"Aparentemente, uma posição mais introspectiva vem ganhando força ao longo do espectro da sociedade americana", disse Charles Kupchan, ex-assessor do Departamento de Estado e do Conselho de Segurança Nacional e hoje professor na Universidade Georgetown. Ele classifica a mudança como "conseqüência inevitável da situação no Iraque".
Esse clima de isolacionismo se torna aparente não apenas na proporção de americanos que desejam que os soldados dos EUA sejam retirados total ou parcialmente do Iraque, que chega a 64%. Também se pode perceber sua influência nas preocupações quanto à imigração ilegal -80% dos entrevistados a classificam como "completamente descontrolada".
A atitude com relação ao comércio internacional também piorou. Dois terços dos entrevistados disseram que os trabalhadores americanos são os mais prejudicados. Além disso, 50% disseram que as empresas americanas são as mais prejudicadas; 39% pensam o contrário.
Em seu Discurso sobre o Estado da União, em janeiro, e em numerosas ocasiões desde então, o presidente George W. Bush vem lançando alertas quanto ao isolacionismo e ao protecionismo. "Trata-se de um momento de definição para esses debates, em minha opinião", ele declarou na segunda-feira em discurso na universidade Johns Hopkins. "Minha posição é clara: sou completamente favorável a que os EUA mantenham seu envolvimento com o resto do mundo".
O crescente ceticismo quanto aos benefícios do envolvimento internacional pode dificultar a obtenção de apoio, pela Casa Branca, a iniciativas internacionais como tratados de comércio e missões militares.
No entanto Ivo Daalder, do Instituto Brookings, e outros críticos alegam que o presidente vem tentando classificar divergências de opinião quanto ao Iraque como isolacionismo. "Ele está usando o termo isolacionismo como ferramenta política", disse Daalder.
As tendências de opinião pública lembram a situação que existia durante a Guerra do Vietnã. Em 1964, quando os EUA começaram a concentrar forças militares no Vietnã do Sul, apenas 20% dos americanos consideravam que o país deveria "cuidar de seus assuntos". Quando os protestos contra a guerra atingiram sua maior plenitude, em 1972, essa porcentagem havia dobrado.
O desejo de abandonar envolvimentos internacionais chegou a um pico quando a Guerra Fria acabou, mas houve uma reversão da tendência depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Por volta de dezembro de 2002, o apoio ao envolvimento internacional era o mais elevado já registrado depois do Vietnã.
A situação voltou a se alterar com a invasão do Iraque, em março de 2003.


Tradução de Paulo Migliacci


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