São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2008

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FBI controla até batina para encontro, diz padre brasileiro

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Os cerca de 50 brasileiros católicos que participarão de encontros com o papa Bento 16 em Nova York, entre sexta-feira e domingo, têm tido uma boa oportunidade para exercitar a santa paciência. Depois de ter autorizado o FBI (a polícia federal dos EUA) a investigar sua vida por dois meses, cada fiel recebeu uma lista de proibições para o encontro, como não usar carro próprio.
Até os sacerdotes têm de se adequar. "Não podemos entrar [no local da reunião] com a túnica", conta o padre José Carlos da Silva, da igreja Santa Rita, no distrito do Queens, em Nova York, um reduto de brasileiros.

 

FOLHA - Como a comunidade brasileira participará da visita do papa?
PADRE JOSÉ CARLOS DA SILVA -
Uma jovem vai participar de um seminário no sábado. Dois brasileiros vão nos representar na missa do estádio dos Yankees. Antes de viajar, haverá um encontro com imigrantes de vários países no aeroporto JFK, e 50 brasileiros estarão lá. Vamos rezar um dos mistérios do terço em português. E eu fui escolhido para estar entre 3.000 sacerdotes em uma missa que ele rezará para o clero na [catedral] Saint Patrick.

FOLHA - Como esses 50 brasileiros foram selecionados?
SILVA -
Anunciamos na missa e selecionamos os 50 primeiros interessados. O FBI então teve dois meses para checar a vida de cada um deles. O convite é protegido com tarja magnética e é intransferível. E há muitas exigências: ninguém pode chegar [ao aeroporto] com carro próprio. Tem de ir de ônibus escoltado pelo FBI. E tem de levar documento de identidade daqui ou do Brasil.

FOLHA - Imigrantes ilegais poderão ir?
SILVA -
Claro. Algo que foi deixado claro é que o FBI não iria se importar com o status imigratório de ninguém.

FOLHA - Quais as outras restrições?
SILVA -
Não podemos levar comida, água, nada. Não pode nem guarda-chuva. Todo mundo vai ser revistado.

FOLHA - O senhor também?
SILVA -
Sim; todos os padres também. E não podemos entrar com a túnica. Vamos de calça preta, sapato preto, roupa de padre mesmo, e com a túnica na mão, para o New York Palace Hotel, na [avenida] Madison. Aí lá dentro poderemos colocar a túnica e iremos para o encontro. Podemos levar câmera, mas não filmadora.

FOLHA - Qual é a relação da igreja com a comunidade brasileira daqui?
SILVA -
Além de celebrar a fé, estamos ao lado dos imigrantes e temos projetos de solidariedade, aula de português para as crianças, aula de futebol. Procuramos ajudar. Quando alguém morre, o funeral nos EUA é caríssimo, e tentamos ajudar a pagar. São US$ 6.000 se for feito aqui e uns US$ 14 mil para mandar o corpo para o Brasil.

FOLHA - Como a acolhida de ilegais será inserida na visita?
SILVA -
Em encontro [com o presidente George W. Bush] o papa Bento 16 pedirá justiça para os imigrantes. Nossos bispos nos EUA têm uma campanha em defesa dos imigrantes sem documentos.

FOLHA - Quais os desafios da Igreja Católica nos EUA?
SILVA -
Um deles é atingir os jovens. A Igreja Católica nos Estados Unidos é uma igreja de imigrantes, especialmente mexicanos, que vêm para cá adultos. Outro desafio é o custo de manter as igrejas. Muitas fecham por falta de freqüentadores. Isso é muito ruim. O que leva o brasileiro a fazer uma experiência em outra igreja [no caso das pentecostais] é o fato de as pessoas aqui serem muito sozinhas. A comunidade que oferece amigos, diversão e culto fica com esses fiéis. Não condeno, tento acolher.


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