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FBI controla até batina para encontro, diz padre brasileiro
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
Os cerca de 50 brasileiros católicos que participarão de encontros com o papa Bento 16
em Nova York, entre sexta-feira e domingo, têm tido uma boa
oportunidade para exercitar a
santa paciência. Depois de ter
autorizado o FBI (a polícia federal dos EUA) a investigar sua
vida por dois meses, cada fiel
recebeu uma lista de proibições
para o encontro, como não usar
carro próprio.
Até os sacerdotes têm de se
adequar. "Não podemos entrar
[no local da reunião] com a túnica", conta o padre José Carlos da Silva, da igreja Santa Rita,
no distrito do Queens, em Nova
York, um reduto de brasileiros.
FOLHA - Como a comunidade brasileira participará da visita do papa?
PADRE JOSÉ CARLOS DA SILVA - Uma
jovem vai participar de um seminário no sábado. Dois brasileiros vão nos representar na
missa do estádio dos Yankees.
Antes de viajar, haverá um encontro com imigrantes de vários países no aeroporto JFK, e
50 brasileiros estarão lá. Vamos rezar um dos mistérios do
terço em português. E eu fui escolhido para estar entre 3.000
sacerdotes em uma missa que
ele rezará para o clero na [catedral] Saint Patrick.
FOLHA - Como esses 50 brasileiros
foram selecionados?
SILVA - Anunciamos na missa e
selecionamos os 50 primeiros
interessados. O FBI então teve
dois meses para checar a vida
de cada um deles. O convite é
protegido com tarja magnética
e é intransferível. E há muitas
exigências: ninguém pode chegar [ao aeroporto] com carro
próprio. Tem de ir de ônibus escoltado pelo FBI. E tem de levar documento de identidade
daqui ou do Brasil.
FOLHA - Imigrantes ilegais poderão ir?
SILVA - Claro. Algo que foi deixado claro é que o FBI não iria
se importar com o status imigratório de ninguém.
FOLHA - Quais as outras restrições?
SILVA - Não podemos levar comida, água, nada. Não pode
nem guarda-chuva. Todo mundo vai ser revistado.
FOLHA - O senhor também?
SILVA - Sim; todos os padres
também. E não podemos entrar
com a túnica. Vamos de calça
preta, sapato preto, roupa de
padre mesmo, e com a túnica
na mão, para o New York Palace Hotel, na [avenida] Madison.
Aí lá dentro poderemos colocar
a túnica e iremos para o encontro. Podemos levar câmera,
mas não filmadora.
FOLHA - Qual é a relação da igreja
com a comunidade brasileira daqui?
SILVA - Além de celebrar a fé,
estamos ao lado dos imigrantes
e temos projetos de solidariedade, aula de português para as
crianças, aula de futebol. Procuramos ajudar. Quando alguém morre, o funeral nos EUA
é caríssimo, e tentamos ajudar
a pagar. São US$ 6.000 se for
feito aqui e uns US$ 14 mil para
mandar o corpo para o Brasil.
FOLHA - Como a acolhida de ilegais
será inserida na visita?
SILVA - Em encontro [com o
presidente George W. Bush] o
papa Bento 16 pedirá justiça
para os imigrantes. Nossos bispos nos EUA têm uma campanha em defesa dos imigrantes
sem documentos.
FOLHA - Quais os desafios da Igreja
Católica nos EUA?
SILVA - Um deles é atingir os jovens. A Igreja Católica nos Estados Unidos é uma igreja de
imigrantes, especialmente mexicanos, que vêm para cá adultos. Outro desafio é o custo de
manter as igrejas. Muitas fecham por falta de freqüentadores. Isso é muito ruim. O que leva o brasileiro a fazer uma experiência em outra igreja [no
caso das pentecostais] é o fato
de as pessoas aqui serem muito
sozinhas. A comunidade que
oferece amigos, diversão e culto fica com esses fiéis. Não condeno, tento acolher.
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