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Greve inédita contra cortes tira "Le Monde" das bancas
Jornal quer demitir 130 para buscar equilíbrio financeiro; paralisação é a segunda em 64 anos
Mais influente vespertino da França deve US$ 273 milhões e há sete anos dá prejuízo; sindicatos querem alternativa a demissões
DA REDAÇÃO
O vespertino francês "Le
Monde" deixou ontem de circular pela segunda vez nos 64
anos de sua história, em razão
de uma greve de 24 horas pela
qual os funcionários protestam
contra o plano de recuperação
econômica da empresa, que
prevê a demissão de 130 pessoas, entre elas 87 jornalistas,
ou um quarto da Redação.
O jornal havia deixado de circular uma vez em 1976, mas
não por problemas internos.
Na época os jornalistas protestaram contra a compra do concorrente "France Soir" pelo
grupo de mídia Hersant, o que,
argumentavam, oligopolizaria
a mídia escrita na França.
O atual presidente da empresa, Eric Fottorino, disse que o
plano de recuperação é fundamental para a sobrevivência do
jornal e que pior seria sua entrega ao controle acionário de
terceiros. Dois grupos de mídia,
o espanhol Prisa e o francês Lagardère, estariam interessados
em ampliar sua participação.
A imprensa escrita mundial,
de forma geral, passa por uma
crise por conta da queda no número de anunciantes e da ascensão dos meios on-line e de
jornais de distribuição gratuita.
O plano de recuperação do
"Monde" foi anunciado no dia
4, e a greve, decidida por 251 votos a zero, com quatro abstenções. Fottorino argumenta que
há sete anos o jornal dá prejuízo. No ano passado ele perdeu
US$ 31,6 milhões, o dobro do
que em 2006. A dívida acumulada é de US$ 273 milhões.
Além das demissões, às quais
se somam as 90 aposentadorias
do ano passado, o grupo que
edita o jornal quer se desfazer
de uma editora, das revistas
"Cahiers du Cinéma" e "Télérama" e publicações católicas, todas, em conjunto, deficitárias.
Estrutura peculiar
O "Monde", criado no final
de 1944 por um grupo de jornalistas liderado por Hubert Beuve-Mery, a partir do confisco de
uma gráfica pertencente a um
jornal conivente com a ocupação nazista da França, tem uma
estrutura empresarial peculiar.
Seu maior acionista (22%) é a
Sociedade dos Redatores, formada pelos próprios jornalistas
do grupo. No ano passado ela
foi responsável por uma crise,
ao se recusar a reeleger para a
presidência o veterano jornalista Jean-Marie Colombani.
Alain Minc demitiu-se pouco
depois da presidência do Conselho de Administração.
Fottorino, 47, que foi diretor
de Redação a partir de 1998, assumiu a direção da empresa no
início deste ano, com a missão
de tornar o jornal lucrativo.
Em sua edição de sábado (ele
não circula aos domingos) o
jornal anunciou que não circularia ontem. A edição online
prosseguiu no ar, mas sem textos da Redação.
Com uma média diária de
354 mil exemplares, o "Le
Monde" é lido por estimados 2
milhões de franceses. É tido como um jornal de centro-esquerda, respeitado nos círculos
empresariais e acadêmicos.
Mas seus problemas econômicos, com a paralela redução
do número de sucursais e correspondentes, tornou-o bem
mais dependente das agências
de notícias e o fez perder a antiga exclusividade de enfoque na
busca de informações.
Com agências internacionais
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