São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2008

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Greve inédita contra cortes tira "Le Monde" das bancas

Jornal quer demitir 130 para buscar equilíbrio financeiro; paralisação é a segunda em 64 anos

Mais influente vespertino da França deve US$ 273 milhões e há sete anos dá prejuízo; sindicatos querem alternativa a demissões

DA REDAÇÃO

O vespertino francês "Le Monde" deixou ontem de circular pela segunda vez nos 64 anos de sua história, em razão de uma greve de 24 horas pela qual os funcionários protestam contra o plano de recuperação econômica da empresa, que prevê a demissão de 130 pessoas, entre elas 87 jornalistas, ou um quarto da Redação.
O jornal havia deixado de circular uma vez em 1976, mas não por problemas internos. Na época os jornalistas protestaram contra a compra do concorrente "France Soir" pelo grupo de mídia Hersant, o que, argumentavam, oligopolizaria a mídia escrita na França.
O atual presidente da empresa, Eric Fottorino, disse que o plano de recuperação é fundamental para a sobrevivência do jornal e que pior seria sua entrega ao controle acionário de terceiros. Dois grupos de mídia, o espanhol Prisa e o francês Lagardère, estariam interessados em ampliar sua participação.
A imprensa escrita mundial, de forma geral, passa por uma crise por conta da queda no número de anunciantes e da ascensão dos meios on-line e de jornais de distribuição gratuita.
O plano de recuperação do "Monde" foi anunciado no dia 4, e a greve, decidida por 251 votos a zero, com quatro abstenções. Fottorino argumenta que há sete anos o jornal dá prejuízo. No ano passado ele perdeu US$ 31,6 milhões, o dobro do que em 2006. A dívida acumulada é de US$ 273 milhões.
Além das demissões, às quais se somam as 90 aposentadorias do ano passado, o grupo que edita o jornal quer se desfazer de uma editora, das revistas "Cahiers du Cinéma" e "Télérama" e publicações católicas, todas, em conjunto, deficitárias.

Estrutura peculiar
O "Monde", criado no final de 1944 por um grupo de jornalistas liderado por Hubert Beuve-Mery, a partir do confisco de uma gráfica pertencente a um jornal conivente com a ocupação nazista da França, tem uma estrutura empresarial peculiar.
Seu maior acionista (22%) é a Sociedade dos Redatores, formada pelos próprios jornalistas do grupo. No ano passado ela foi responsável por uma crise, ao se recusar a reeleger para a presidência o veterano jornalista Jean-Marie Colombani. Alain Minc demitiu-se pouco depois da presidência do Conselho de Administração.
Fottorino, 47, que foi diretor de Redação a partir de 1998, assumiu a direção da empresa no início deste ano, com a missão de tornar o jornal lucrativo.
Em sua edição de sábado (ele não circula aos domingos) o jornal anunciou que não circularia ontem. A edição online prosseguiu no ar, mas sem textos da Redação.
Com uma média diária de 354 mil exemplares, o "Le Monde" é lido por estimados 2 milhões de franceses. É tido como um jornal de centro-esquerda, respeitado nos círculos empresariais e acadêmicos.
Mas seus problemas econômicos, com a paralela redução do número de sucursais e correspondentes, tornou-o bem mais dependente das agências de notícias e o fez perder a antiga exclusividade de enfoque na busca de informações.


Com agências internacionais


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