São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Partidos se igualam, eleitor busca "novidade"

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O consenso, em geral saudado como ativo político, talvez seja, paradoxalmente, a causa principal a explicar a ascensão de um personagem politicamente incorreto como Fortuyn.
Fazer coalizões, em busca do consenso, reduz diferenças entre partidos. "O eleitorado está tendo muita dificuldade para escolher entre partidos que não diferem muito uns dos outros", diz, por exemplo, Anne-Marie Le Gloannec, da Fundação Nacional de Ciências Políticas da França.
Completa: "Há uma falta de sentido de direção, que algumas pessoas podem encontrar na extrema direita".
Reforça Kirsty Hughes (Centro para Estudo de Políticas Européias, da Bélgica): "A ascensão de partidos de extrema direita se vincula ao fato de que as pessoas cada vez confiam menos nos políticos e não acreditam que eles possam introduzir mudanças positivas".
Na mesma direção vai Ulrike Guérot, especialista em Europa do Conselho Alemão de Relações Exteriores: "A ascensão da extrema direita é uma prova de que o público não quer uma integração européia feita sem apoio popular ou, mais exatamente, sem o suporte daqueles que se sentem "perdedores" na globalização".
Nesse ponto, aliás, a extrema direita e a esquerda têm pontos em comum, na medida em que as duas correntes criticam ou a globalização em si ou, no mínimo, a maneira como ela se dá.
O que preocupa especialistas é a perspectiva de que "comece a haver mais governos, como os da Áustria e da Itália, em que partidos de extrema direita sejam vistos como membros aceitáveis", como diz Kirsty Hughes.
Por isso, Hughes afirma que a eleição holandesa de hoje "será certamente acompanhada de perto: a Holanda tem uma reputação de tolerância e de progressismo, e seria um dia muito triste se essa reputação fosse arranhada".
Há um segundo ponto, além da eventual explosão da extrema direita, que dá ao pleito holandês um interesse que vai além das fronteiras: o resultado da social-democracia, que comanda, desde 1994, a coalizão governante.
Wim Kok, primeiro-ministro do PvdA (Partij van de Arbeid, Partido do Trabalho, versão holandesa da social-democracia), foi um dos líderes que participaram das cúpulas da chamada Terceira Via, depois rebatizada de Governança Progressista.
Desde o ano 2000, todos eles, menos o britânico Tony Blair, foram derrotados em eleições.
Kok já renunciou à liderança partidária e também ao cargo de premiê, mas se mantém interinamente à espera dos resultados da eleição, que testa pela primeira vez seu sucessor, Ad Melkert.
A julgar pela pesquisa divulgada anteontem, a social-democracia holandesa sofrerá derrota histórica: cairá dos 29% que teve na eleição anterior (1998) para 16,5%.
Se as urnas confirmarem a pesquisa, será inexorável incluir o partido de Fortuyn na nova coalizão governante, a ser, nessa hipótese, chefiada pela Democracia Cristã. (CR)


Texto Anterior: Europa: Holanda "perde inocência" na eleição de hoje
Próximo Texto: Líder morto era mais sofisticado que Le Pen
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.