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Partidos se igualam, eleitor busca "novidade"
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O consenso, em geral saudado
como ativo político, talvez seja,
paradoxalmente, a causa principal a explicar a ascensão de um
personagem politicamente incorreto como Fortuyn.
Fazer coalizões, em busca do
consenso, reduz diferenças entre
partidos. "O eleitorado está tendo
muita dificuldade para escolher
entre partidos que não diferem
muito uns dos outros", diz, por
exemplo, Anne-Marie Le Gloannec, da Fundação Nacional de
Ciências Políticas da França.
Completa: "Há uma falta de
sentido de direção, que algumas
pessoas podem encontrar na extrema direita".
Reforça Kirsty Hughes (Centro
para Estudo de Políticas Européias, da Bélgica): "A ascensão de
partidos de extrema direita se vincula ao fato de que as pessoas cada
vez confiam menos nos políticos e
não acreditam que eles possam
introduzir mudanças positivas".
Na mesma direção vai Ulrike
Guérot, especialista em Europa
do Conselho Alemão de Relações
Exteriores: "A ascensão da extrema direita é uma prova de que o
público não quer uma integração
européia feita sem apoio popular
ou, mais exatamente, sem o suporte daqueles que se sentem
"perdedores" na globalização".
Nesse ponto, aliás, a extrema direita e a esquerda têm pontos em
comum, na medida em que as
duas correntes criticam ou a globalização em si ou, no mínimo, a
maneira como ela se dá.
O que preocupa especialistas é a
perspectiva de que "comece a haver mais governos, como os da
Áustria e da Itália, em que partidos de extrema direita sejam vistos como membros aceitáveis",
como diz Kirsty Hughes.
Por isso, Hughes afirma que a
eleição holandesa de hoje "será
certamente acompanhada de perto: a Holanda tem uma reputação
de tolerância e de progressismo, e
seria um dia muito triste se essa
reputação fosse arranhada".
Há um segundo ponto, além da
eventual explosão da extrema direita, que dá ao pleito holandês
um interesse que vai além das
fronteiras: o resultado da social-democracia, que comanda, desde
1994, a coalizão governante.
Wim Kok, primeiro-ministro
do PvdA (Partij van de Arbeid,
Partido do Trabalho, versão holandesa da social-democracia), foi
um dos líderes que participaram
das cúpulas da chamada Terceira
Via, depois rebatizada de Governança Progressista.
Desde o ano 2000, todos eles,
menos o britânico Tony Blair, foram derrotados em eleições.
Kok já renunciou à liderança
partidária e também ao cargo de
premiê, mas se mantém interinamente à espera dos resultados da
eleição, que testa pela primeira
vez seu sucessor, Ad Melkert.
A julgar pela pesquisa divulgada
anteontem, a social-democracia
holandesa sofrerá derrota histórica: cairá dos 29% que teve na eleição anterior (1998) para 16,5%.
Se as urnas confirmarem a pesquisa, será inexorável incluir o
partido de Fortuyn na nova coalizão governante, a ser, nessa hipótese, chefiada pela Democracia Cristã. (CR)
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