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Falha na tradução minimiza gafe de Lula em Moscou
Presidente critica invasão do Afeganistão pela União Soviética, mas é salvo por má qualidade da transposição de suas frases para o russo
Brasileiro confunde mídia local ao dizer que solução para conflitos no país passa por projetos de produção
de alimentos da Embrapa
DO ENVIADO A MOSCOU
Uma falha na tradução diluiu
o que poderia ter sido uma gafe
cometida pelo presidente Lula
ontem em Moscou.
Durante a entrevista coletiva
concedida ao lado do presidente russo, Dmitri Medvedev, Lula desviou o discurso em defesa
da paz no Oriente Médio para
lembrar a invasão soviética do
Afeganistão (1979-1989).
O comentário foi feito quase
no fim da entrevista, dominada
pela questão nuclear iraniana.
Lula disse que o Irã é "apenas
parte" do que precisa ser feito
no Oriente Médio, a começar
pelo conflito entre Israel e os
palestinos. Em seguida fez uma
relação com a história recente
do país anfitrião.
"Eu passei parte da minha juventude sendo contra a invasão
do Afeganistão pela Rússia.
Agora, quero paz no Afeganistão também", disse o presidente, puxando o braço de Medvedev, que pareceu surpreso.
Jornalistas russos que presenciaram a entrevista, porém,
disseram que mal entenderam
a declaração, devido à má qualidade da tradução simultânea.
A confusão dos russos aumentou quando Lula disse que
uma solução para o conflito no
Afeganistão poderia incluir um
projeto da Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para a produção de alimentos no país asiático.
Medvedev começou a demonstrar impaciência. Quando
Lula voltou a falar do Irã, o russo o interrompeu.
"Eu e o presidente Lula concordamos em conversar por telefone depois [da visita ao Irã]",
disse Medvedev, encerrando
abruptamente a entrevista.
Jornalistas russos consultados pela Folha contaram ter ficado surpresos com a menção à
fracassada presença soviética
no Afeganistão, em apoio ao
governo marxista contra rebeldes muçulmanos. Mas ficaram
em dúvida sobre qualificar o
comentário de gafe.
"A invasão do Afeganistão
está associada a um período em
que a União Soviética estava
ruindo", disse Alexander Gabuev, do jornal "Kommersant".
"Se Lula tivesse mencionado a
Tchetchênia ou a Geórgia, aí
sim seria constrangedor."
Torcedor apaixonado de futebol, Medvedev recebeu de
presente uma camisa da seleção brasileira. Questionado pela Folha sobre o que achara da
convocação de Dunga, pensou
alguns segundos antes de responder, lacônico: "Gostei".
(MN)
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