São Paulo, sábado, 15 de maio de 2010

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Falha na tradução minimiza gafe de Lula em Moscou

Presidente critica invasão do Afeganistão pela União Soviética, mas é salvo por má qualidade da transposição de suas frases para o russo

Brasileiro confunde mídia local ao dizer que solução para conflitos no país passa por projetos de produção de alimentos da Embrapa


DO ENVIADO A MOSCOU

Uma falha na tradução diluiu o que poderia ter sido uma gafe cometida pelo presidente Lula ontem em Moscou.
Durante a entrevista coletiva concedida ao lado do presidente russo, Dmitri Medvedev, Lula desviou o discurso em defesa da paz no Oriente Médio para lembrar a invasão soviética do Afeganistão (1979-1989).
O comentário foi feito quase no fim da entrevista, dominada pela questão nuclear iraniana. Lula disse que o Irã é "apenas parte" do que precisa ser feito no Oriente Médio, a começar pelo conflito entre Israel e os palestinos. Em seguida fez uma relação com a história recente do país anfitrião.
"Eu passei parte da minha juventude sendo contra a invasão do Afeganistão pela Rússia. Agora, quero paz no Afeganistão também", disse o presidente, puxando o braço de Medvedev, que pareceu surpreso.
Jornalistas russos que presenciaram a entrevista, porém, disseram que mal entenderam a declaração, devido à má qualidade da tradução simultânea.
A confusão dos russos aumentou quando Lula disse que uma solução para o conflito no Afeganistão poderia incluir um projeto da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para a produção de alimentos no país asiático.
Medvedev começou a demonstrar impaciência. Quando Lula voltou a falar do Irã, o russo o interrompeu.
"Eu e o presidente Lula concordamos em conversar por telefone depois [da visita ao Irã]", disse Medvedev, encerrando abruptamente a entrevista.
Jornalistas russos consultados pela Folha contaram ter ficado surpresos com a menção à fracassada presença soviética no Afeganistão, em apoio ao governo marxista contra rebeldes muçulmanos. Mas ficaram em dúvida sobre qualificar o comentário de gafe.
"A invasão do Afeganistão está associada a um período em que a União Soviética estava ruindo", disse Alexander Gabuev, do jornal "Kommersant". "Se Lula tivesse mencionado a Tchetchênia ou a Geórgia, aí sim seria constrangedor."
Torcedor apaixonado de futebol, Medvedev recebeu de presente uma camisa da seleção brasileira. Questionado pela Folha sobre o que achara da convocação de Dunga, pensou alguns segundos antes de responder, lacônico: "Gostei". (MN)


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