São Paulo, Quinta-feira, 15 de Julho de 1999
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Até o Chile, país-modelo, vive recessão

do Conselho Editorial

O Chile talvez seja o melhor exemplo de como a crise econômica devastou a América Latina.
Desde que enterrou o câmbio fixo, em 1982, o país passou a crescer ininterruptamente, na ditadura como na democracia, à taxa média anual de 7%.
Em abril, no entanto, surgiu o mais forte sinal de alarme: o Imacec (Índice Mensal de Atividade Econômica) mostrou retrocesso de 6% em relação a igual mês do ano anterior. É a maior queda desde março de 1983, quando o retrocesso fora de 8,01%.
O dado de abril apenas confirmou que o Chile estava tecnicamente em recessão, definida como dois trimestres consecutivos de retração econômica.
O esfriamento econômico tornou-se tão acentuado que o próprio Banco Central já foi obrigado a rever sua projeção de crescimento para 99, reduzindo-a de 3,8% para 3%.
A consequência inexorável é o aumento do desemprego, que terminou o ano de 98 em 7,2%, mas saltou, no trimestre março/maio, o mais recente oficialmente divulgado, para 9,8%.
Poucos analistas imaginam que 1999 terminará sem que o desemprego pule para o patamar dos dois dígitos.
O Chile é, igualmente, o melhor exemplo de aplicação continuada do receituário neoliberal. Começou a implementá-lo durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-89), mas foi a partir da crise cambial de 1982 que o modelo de privatizações, desregulamentação, abertura da economia etc, ganhou força total e incontrastável (com o Congresso fechado e a repressão de qualquer dissidência, não havia como opor-se ao governo e às suas políticas).
Depois da redemocratização, a política liberal continuou, mas houve forte inversão nas prioridades de investimentos, agora voltados mais para o social.
Nem uma coisa nem a outra bastaram para evitar que também o Chile entrasse em crise recessiva, com o inevitável reflexo na popularidade do presidente. (CR)


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