São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Por causa do petróleo, sunitas se recusam a endossar federalismo; xiitas querem papel maior do islã

Impasse ameaça atrasar nova Constituição

DA REDAÇÃO

Sob pressão dos EUA, líderes iraquianos se reuniram ontem na tentativa de eliminar os impasses que ainda impedem a apresentação de um projeto de Constituição para o Iraque.
Embora o primeiro-ministro Ibrahim al Jaafari tenha afirmado estar otimista quanto às possibilidades de uma primeira versão da Carta ser apresentada aos iraquianos ainda hoje, numa sessão do Parlamento, como programado, alguns membros da comissão de elaboração da Constituição não descartam a hipótese de postergar essa data.
O embaixador norte-americano no Iraque, Zlamay Khalilzad, acompanha o premiê Jaafari em sua expectativa e afirmou que o documento deve mesmo ser apresentado hoje.
Os principais pontos que estão atrasando a finalização da Carta são dois: a falta de consenso sobre a implantação do sistema federalista no país e a insistência dos xiitas em que a Constituição tenha um viés mais religioso.
O federalismo é vigorosamente combatido pelos sunitas -que sob Saddam Hussein (1979-2003) estavam no poder, embora sejam minoria no Iraque. "Não seremos subjugados e continuaremos a insistir em nossas exigências", afirmou à agência de notícias Associated Press o negociador sunita Kamal Handoum. "Temos certeza de que o federalismo significa divisão e não pode ser aprovado."

Petróleo
Na verdade, por trás da questão do federalismo está a disputa de poder sobre os territórios ricos em petróleo. O federalismo significa uma independência administrativa maior para cada unidade da Federação, e os sunitas temem que sejam prejudicados pelo sistema porque os principais campos de petróleo do Iraque ficam no sul do país, onde predominam os xiitas, e no norte, onde a maioria é curda.
Os curdos, por sua vez, reivindicam que sua autonomia seja contemplada pelo texto constitucional, além de pedirem a redefinição das fronteiras das áreas sob seu domínio, resolvendo o problema da região de Kirkuk, rica em petróleo, da qual foram expulsos por Saddam Hussein.
Os EUA vêm a provação da Constituição como fundamental para uma eventual retirada de suas tropas do Iraque. Segundo declarou o embaixador Khalilzad à rede de notícias CNN, a Carta pode incluir os sunitas na política iraquiana e isolar os radicais baathistas (membros do partido de Saddam Hussein, o Baath), que, acredita-se, estejam por trás de grande parte dos atentados no país.
Jawad al Maliki, um membro da comissão constitucional disse ontem que, se um acordo não for alcançado, "podemos emendar a Constituição provisória e estender por duas semanas" o prazo para a apresentação da nova.

Violência
Cinco soldados norte-americanos morreram ontem vítimas de bombas colocadas nas estradas por insurgentes iraquianos.
Três dos militares foram mortos em explosão perto de Tuz, 180 km ao norte de Bagdá. Numa estrada que liga o Iraque à Jordânia, uma bomba matou outro soldado; e mais um foi morto em Bagdá.
Também na capital iraquiana, a explosão de um homem-bomba matou dois civis e feriu quatro.
Em Samarra, a 110 km de Bagdá, dois policiais foram encontrados mortos; e um policial foi morto em Kirkuk e outro na região de Baquba.
A despeito da violência no Iraque, dois senadores norte-americanos pediram ontem que a Casa Branca envie mais tropas ao país. O democrata Joseph Biden e o republicano John McCai afirmaram que as tropas no Iraque não são suficientes para combater a insurgência, e que as forças iraquianas não darão conta de controlar o país quando os EUA saírem de lá.
Richard Lugar, chefe do Comitê de Relações Exteriores do Senado, disse ser muito pouco provável que o pedido de seus colegas seja atendido.


Com agências internacionais

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