São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

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Na Venezuela, glamour de coroação de Miss resiste à polarização política

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Sem reeleição indefinida e com mandato de apenas um ano, o segundo cargo mais importante da Venezuela já tem uma nova ocupante: a morena Dayana Mendoza, 21, foi a escolhida para representar o país no próximo Miss Universo, a ser disputado em maio do ano que vem.
A candidata do Estado do Amazonas derrotou suas 27 adversárias anteontem à noite durante um concorrido evento que, por quatro horas, concentrou 66% da audiência, segundo a emissora de TV Venevisión, do megaempresário Gustavo Cisneros. Tradicionalmente, é o programa mais assistido do ano no país -e talvez seja o único espaço público ainda poupado pela polarização política da era Chávez.
Não é pouco ser a mulher mais bonita da Venezuela. Trata-se de representar o país que mais ganhou concursos de beleza mundo afora, entre os quais quatro Miss Universo. Mal comparando, a responsabilidade de Mendoza será parecida com a da equipe brasileira na Copa do Mundo: obter o primeiro lugar é quase uma obrigação.

"Arquitetura do sorriso"
O evento deste ano, presenciado pela reportagem da Folha, teve lugar no Poliedro de Caracas, um auditório gigante com jeito de ginásio de esportes tomado pelas ruidosas torcidas, divididas por Estado.
Mais perto do palco, as cadeiras se dividiram entre jurados, convidados, familiares e profissionais de beleza -na credencial de um deles, lia-se "odontólogo de misses". "Faço a arquitetura do sorriso", explicou Moises Kaswan, quatro Miss Universo no currículo.
Ao longo do espetáculo, não faltaram os desfiles de maiô e de gala, o júri internacional, as perguntas "difíceis", o momento politicamente correto e o delicado chorinho sem lágrimas da campeã.
Também como é de praxe, as concorrentes estavam mais à vontade desfilando seminuas do que na hora de responder a perguntas como: "Acredita no destino ou na sorte?" ou "O que você espera de um homem?".
A mais confusa foi a Miss Trujillo. Quando lhe pediram para definir a mulher venezuelana, disse: "Todas as mulheres venezuelanas temos um pouco de sabor latino, sabor europeu. Tão elegantes como as argentinas, tão bonitas como as francesas e, sobretudo, tão quentes como as porto-riquenhas".
Já a resposta da Miss Vargas teve algo de metafísico. Diante da pergunta sobre qual era o seu maior medo, devolveu: "É estar aqui, parada, e não saber o que dizer. Mas acredito que eu superei isso muito bem". E ponto final.
A parte politicamente correta ficou por conta de uma miss surda que trouxe várias crianças de sua fundação. Foi aplaudida pelo auditório na linguagem dos sinais -mãos balançando para cima.

Brasileiro no júri
O favoritismo de Mendoza foi confirmado pelo júri de cerca de 20 pessoas, formado sobretudo por profissionais de beleza, com a exceção de uma mulher apresentada apenas como "boa amiga da casa".
Entre os jurados estava o brasileiro Valfridoan Menezes. Apresentado como o "rei da micropigmentação", divide seu tempo à frente de filiais do estúdio Meneuzes (o nome vem da numerologia) em Caracas, Nova York e Brasil. Sua cliente mais famosa, diz, é a atriz Fernanda Montenegro.
"O Brasil e a Venezuela são muito parecidos. Primeiro pela miscigenação, essa mescla de raças e costumes dá destaque às duas mulheres", diz Menezes, 60, em entrevista em seu estúdio, ontem. Para ele, a grande diferença entre os concursos de miss dos dois países está no patrocínio.
"O sucesso aqui na Venezuela é o mesmo que houve no Brasil nos anos 50 e 60, quando o concurso era no Maracanãzinho. Mas nós perdemos os patrocínios, enquanto aqui tem cada vez mais", explica.
Com o roteiro de um concurso de miss cumprido à risca, a surpresa ficou por conta de um homem que, no final, subiu ao palco, roubou a coroa de uma das misses e se sentou por milésimos de segundo no trono, antes de de ser tragado por uma montanha de seguranças.


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