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foco
Na Venezuela, glamour de coroação de Miss resiste à polarização política
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Sem reeleição indefinida e
com mandato de apenas um
ano, o segundo cargo mais importante da Venezuela já tem
uma nova ocupante: a morena
Dayana Mendoza, 21, foi a escolhida para representar o país
no próximo Miss Universo, a
ser disputado em maio do ano
que vem.
A candidata do Estado do
Amazonas derrotou suas 27
adversárias anteontem à noite
durante um concorrido evento
que, por quatro horas, concentrou 66% da audiência, segundo a emissora de TV Venevisión, do megaempresário Gustavo Cisneros. Tradicionalmente, é o programa mais assistido do ano no país -e talvez seja o único espaço público
ainda poupado pela polarização política da era Chávez.
Não é pouco ser a mulher
mais bonita da Venezuela.
Trata-se de representar o país
que mais ganhou concursos de
beleza mundo afora, entre os
quais quatro Miss Universo.
Mal comparando, a responsabilidade de Mendoza será parecida com a da equipe brasileira na Copa do Mundo: obter
o primeiro lugar é quase uma
obrigação.
"Arquitetura do sorriso"
O evento deste ano, presenciado pela reportagem da Folha, teve lugar no Poliedro de
Caracas, um auditório gigante
com jeito de ginásio de esportes tomado pelas ruidosas torcidas, divididas por Estado.
Mais perto do palco, as cadeiras se dividiram entre jurados, convidados, familiares e
profissionais de beleza -na
credencial de um deles, lia-se
"odontólogo de misses". "Faço
a arquitetura do sorriso", explicou Moises Kaswan, quatro
Miss Universo no currículo.
Ao longo do espetáculo, não
faltaram os desfiles de maiô e
de gala, o júri internacional, as
perguntas "difíceis", o momento politicamente correto e
o delicado chorinho sem lágrimas da campeã.
Também como é de praxe, as
concorrentes estavam mais à
vontade desfilando seminuas
do que na hora de responder a
perguntas como: "Acredita no
destino ou na sorte?" ou "O
que você espera de um homem?".
A mais confusa foi a Miss
Trujillo. Quando lhe pediram
para definir a mulher venezuelana, disse: "Todas as mulheres venezuelanas temos um
pouco de sabor latino, sabor
europeu. Tão elegantes como
as argentinas, tão bonitas como as francesas e, sobretudo,
tão quentes como as porto-riquenhas".
Já a resposta da Miss Vargas
teve algo de metafísico. Diante
da pergunta sobre qual era o
seu maior medo, devolveu: "É
estar aqui, parada, e não saber
o que dizer. Mas acredito que
eu superei isso muito bem". E
ponto final.
A parte politicamente correta ficou por conta de uma miss
surda que trouxe várias crianças de sua fundação. Foi aplaudida pelo auditório na linguagem dos sinais -mãos balançando para cima.
Brasileiro no júri
O favoritismo de Mendoza
foi confirmado pelo júri de cerca de 20 pessoas, formado sobretudo por profissionais de
beleza, com a exceção de uma
mulher apresentada apenas
como "boa amiga da casa".
Entre os jurados estava o
brasileiro Valfridoan Menezes. Apresentado como o "rei
da micropigmentação", divide
seu tempo à frente de filiais do
estúdio Meneuzes (o nome
vem da numerologia) em Caracas, Nova York e Brasil. Sua
cliente mais famosa, diz, é a
atriz Fernanda Montenegro.
"O Brasil e a Venezuela são
muito parecidos. Primeiro pela miscigenação, essa mescla
de raças e costumes dá destaque às duas mulheres", diz Menezes, 60, em entrevista em
seu estúdio, ontem. Para ele, a
grande diferença entre os concursos de miss dos dois países
está no patrocínio.
"O sucesso aqui na Venezuela é o mesmo que houve no
Brasil nos anos 50 e 60, quando o concurso era no Maracanãzinho. Mas nós perdemos os
patrocínios, enquanto aqui
tem cada vez mais", explica.
Com o roteiro de um concurso de miss cumprido à risca, a surpresa ficou por conta
de um homem que, no final,
subiu ao palco, roubou a coroa
de uma das misses e se sentou
por milésimos de segundo no
trono, antes de de ser tragado
por uma montanha de seguranças.
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