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REINO UNIDO
Polícia tem ordem para multar comportamento anti-social, como jogar lixo no chão ou fazer muito barulho
Governo quer que britânicos tenham boas maneiras
CESAR SORIANO
DO "USA TODAY"
Outrora exportadora de bons
modos, a Grã-Bretanha agora tem
que aprender. A situação chegou
ao ponto de o Parlamento dar à
polícia poderes especiais para tratar comportamentos anti-sociais.
Os maus modos britânicos aparecem na mídia com "yobs" (de
"boy", menino, ao contrário) que
assediam transeuntes. Engravatados passam empurrando sem pedir desculpas e clientes, ao celular,
pagam sem olhar para o caixa.
O primeiro-ministro Tony Blair
e a rainha Elizabeth 2ª pediram
neste ano ao país uma "cultura do
respeito". Muitos livros sobre o
tema foram publicados em 2005.
Lynne Truss lançará "Talk to the
Hand: The Utter Bloody Rudeness of Everyday Life" (algo como
"Fale com Minha Mão: a Maldita
Agressividade Cotidiana").
Ian Gregory, reverendo que
idealizou o Dia da Cortesia (6 de
outubro), diz: "Perdemos a reputação de educados".
Em 1999, o Parlamento deu à
polícia poder para dar ASBOs (inglês para "ordens de comportamento anti-social") por bebedeira, desordem, pichação, lixo no
chão, mendicância agressiva e
mesmo por jardins desarrumados. Tais fatos "podem causar incômodo, alarme ou desordem",
de acordo com o site governamental de prevenção ao crime.
Nas últimas seis semanas, mais
de 4.600 ASBOs foram aplicadas.
A pena para infrações sérias, como assédio repetido, pode chegar
ao equivalente a US$ 35 mil em
multas ou a cinco anos de cadeia.
O mais comum é o banimento
temporário de ônibus ou bares.
Colin Gill, psicólogo da Universidade de Leeds, diz que boas maneiras vêm e vão com o tempo. Os
modos britânicos -por exemplo,
o uso de "senhor" ou simplesmente de "por favor"- surgiram
no século 17 e floresceram no século 19 para proporcionar diálogo
civilizado a pessoas de culturas e
opiniões diferentes. "O culto da
polidez tem a ver com o Império
Britânico, a idéia de que estava no
topo e que tinha a missão de civilizar o mundo", diz Gill. "Modos
são um código para conviver."
Embora a intenção possa ter sido nivelar o império, o código
ajudou a distinguir a classe dominante. "Reforçou uma divisão social entre comandantes e comandados. Modos passaram a identificar a elite", Gill conclui.
Depois da Segunda Guerra, o
império começou a desmoronar,
e com ele o comportamento. Para
Gill, com a ascensão da classe média e a liberdade pessoal trazida
em parte pela cultura pop americana, bons modos foram descartados como antiquados e elitistas.
Gregory lembra: "Pessoas que
vêm visitar notam que nosso
comportamento não é melhor
nem pior que em qualquer lugar".
A inglesa Penny Palmano, com
três filhos, diz que se cansou da
"falta generalizada de respeito das
crianças". Ela escreveu dois livros
para crianças. Palmano culpa o
tratamento mais informal dos
pais nas últimas décadas. "Muitos
pais pensam que educação é opcional, como vidro elétrico no
carro. São habilidades para a vida.
Crianças ficam em desvantagem
se não sabem como se portar."
O humorista Simon Fanshawe
tem uma postura diferente. "Na
verdade, não é tão ruim." Ele explora razões antropológicas e históricas dos bons modos no livro
"The Done Thing" ("O Usual") e
diz que só recentemente os britânicos começaram a procurar a felicidade pessoal. Em outras palavras, "o que importa sou eu".
"Derrubamos autoridades que
antes a sociedade britânica aceitava sem questionar", diz. Ele distingue rejeição a autoridades e o
comportamento anti-social que
prevalece. "Dizem que é "meu direito" fazer isso ou aquilo. Não,
não é seu direito gritar ao celular
ou tocar som alto. É egoísmo."
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