São Paulo, domingo, 15 de novembro de 1998

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TENSÃO NA INDONÉSIA
Presidente orienta Exército a coibir protestos e saques em Jacarta; chineses voltam a ser atacados
Habibie pede repressão militar a estudantes

France Presse
Manifestante, em Jacarta, empurra máquina de lavar para fogueira; presidente ordenou o exército a repreender os estudantes


das agências internacionais

O presidente da Indonésia, Jusuf Habibie, deu ordens ontem ao Exército para reprimir os protestos estudantis em Jacarta. As manifestações por reformas políticas desencadearam nova onda de saques e incêndios a lojas da capital do país.
"Eu disse ao ministro da Defesa para tomar ação imediata contra o que está acontecendo", disse Habibie aos jornalistas.
Suas declarações levantaram o temor de que as Forças Armadas passem a agir com maior brutalidade. Pelo menos 11 pessoas (nove estudantes e dois ativistas pró-governo) morreram em choques durante a semana passada.
Dezenas de milhares de estudantes promoveram ontem uma passeata pacífica em direção ao Parlamento. Muitos pediam a saída do comandante do Exército, general Wiranto.
Os manifestantes protestam também contra a concentração de poder político nas mãos dos militares. Das 500 cadeiras do Parlamento, 75 são ocupadas por pessoas ligadas ao Exército.

Ataque aos chineses
O bairro de Chinatown foi ontem novamente alvo dos manifestantes, que viraram e queimaram carros. Um comerciante foi incendiado e teve graves ferimentos.
Os imigrantes chineses fazem parte da elite na Indonésia e costumam servir de bode expiatório durante crises no Sudeste Asiático.
Os protestos da semana passada foram os mais violentos a se realizar no país desde as manifestações que antecederam à renúncia, em maio deste ano, do então presidente do país, Suharto, havia 32 anos no poder. À época, 1.200 pessoas foram mortas.
O manifestantes pedem agora a aprovação de reformas pró-democracia pela Assembléia de Consulta do Povo (ACP), o Parlamento do país.
Na sexta-feira, os deputados discutiram e aprovaram 12 itens de uma reforma. Entre os pontos aprovados, foram convocadas eleições para maio e levantadas as restrições à formação de partidos- atualmente só há três no país.
As medidas foram ao encontro das reivindicações estudantis. Mas a insatisfação não foi eliminada por inteiro, já que a principal demanda, a retirada dos militares da política, não foi atendida.
O novo levante estudantil começa a se espalhar a outros pontos do país do sudeste asiático. Houve marchas ontem nas cidades de Surabaya e Bandung. Em Medan, cerca de 5.000 estudantes tomaram o aeroporto local durante algumas horas.
O presidente Jusuf Habibie, que assumiu com a renúncia de Suharto, tenta se distanciar da imagem do ditador. Ontem, ele prestou condolências às famílias dos mortos nos últimos choques.



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