São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Para Barton, deputados deverão agir rápido

Novo Parlamento terá de negociar até com terroristas, diz analista

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Os membros do novo Parlamento iraquiano terão três tarefas principais: enfrentar o grave problema de segurança, negociar a saída das forças estrangeiras de seu território, inclusive com representantes de grupos terroristas, e acordar uma partilha razoável da renda gerada pelo petróleo.
A análise é de Frederick Barton, diretor do Projeto para Reconstrução Pós-Conflito, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, um reputado "think tank" de Washington, e professor da Universidade de Princeton.
Folha - O sr. crê que o fim do processo eleitoral abra caminho para o início da saída das tropas dos EUA?
Frederick Barton -
Isso só ocorrerá se os políticos iraquianos que serão eleitos tomarem a iniciativa de consolidar sua independência das forças estrangeiras e estiverem preparados para trabalhar pela população, não em defesa de seus interesses pessoais.
Há três questões críticas com as quais eles terão de ocupar-se desde o início, além das reformas constitucionais que serão necessárias. Elas são: a situação de segurança, as negociações com as forças estrangeiras sobre sua saída do país, inicialmente com os militares e, em seguida, com os terroristas, e um acordo sobre a partilha dos recursos financeiros gerados pela venda do petróleo.
É possível resolver essas questões, mas, se isso não for feito rapidamente, os legisladores iraquianos não conseguirão ter grande influência política.

Folha - Num lugar em que a violência ainda é grave, isso é factível?
Barton -
Isso não será fácil a curto prazo, porém o único modo de resolver a questão da insegurança passa por um diálogo sobre o que está na cabeça de todas as pessoas que estão no Iraque atualmente e pela percepção dos interlocutores de que as autoridades estão, de fato, tentando resolver o problema de maneira criativa.

Folha - Será, portanto, preciso negociar com os terroristas?
Barton -
Se as autoridades iraquianas afirmam que querem a saída das forças estrangeiras de seu território o mais rápido possível, é, portanto, necessário falar com todas as partes envolvidas.

Folha - E quanto aos árabes sunitas, que se sentem excluídos?
Barton -
A parte mais dura da insurgência não-terrorista é composta por nacionalistas que, segundo suas próprias palavras, querem ver os estrangeiros fora do país. Assim, devemos crer no que eles dizem, inserindo-os no processo de negociação.

Folha - O sr. acredita em mudanças no governo americano após o pleito ou no início de 2006?
Barton -
Trata-se de especulações. É possível que isso ocorra. Contudo o presidente crê ter nas mãos um bom plano para a vitória no Iraque, o que lhe dá certa tranqüilidade para continuar com a equipe de que dispõe. Por outro lado, não acredito que seu plano seja bom. Para mim, a situação não vai tão bem no Iraque quanto George W. Bush diz que vai.


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