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IRAQUE SOB TUTELA
Para Barton, deputados deverão agir rápido
Novo Parlamento terá de negociar até com terroristas, diz analista
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Os membros do novo Parlamento iraquiano terão três tarefas
principais: enfrentar o grave problema de segurança, negociar a
saída das forças estrangeiras de
seu território, inclusive com representantes de grupos terroristas, e acordar uma partilha razoável da renda gerada pelo petróleo.
A análise é de Frederick Barton,
diretor do Projeto para Reconstrução Pós-Conflito, do Centro
para Estudos Estratégicos e Internacionais, um reputado "think
tank" de Washington, e professor
da Universidade de Princeton.
Folha - O sr. crê que o fim do processo eleitoral abra caminho para o
início da saída das tropas dos EUA?
Frederick Barton - Isso só ocorrerá se os políticos iraquianos que
serão eleitos tomarem a iniciativa
de consolidar sua independência
das forças estrangeiras e estiverem preparados para trabalhar
pela população, não em defesa de
seus interesses pessoais.
Há três questões críticas com as
quais eles terão de ocupar-se desde o início, além das reformas
constitucionais que serão necessárias. Elas são: a situação de segurança, as negociações com as
forças estrangeiras sobre sua saída do país, inicialmente com os
militares e, em seguida, com os
terroristas, e um acordo sobre a
partilha dos recursos financeiros
gerados pela venda do petróleo.
É possível resolver essas questões, mas, se isso não for feito rapidamente, os legisladores iraquianos não conseguirão ter
grande influência política.
Folha - Num lugar em que a violência ainda é grave, isso é factível?
Barton - Isso não será fácil a curto prazo, porém o único modo de
resolver a questão da insegurança
passa por um diálogo sobre o que
está na cabeça de todas as pessoas
que estão no Iraque atualmente e
pela percepção dos interlocutores
de que as autoridades estão, de fato, tentando resolver o problema
de maneira criativa.
Folha - Será, portanto, preciso
negociar com os terroristas?
Barton - Se as autoridades iraquianas afirmam que querem a
saída das forças estrangeiras de
seu território o mais rápido possível, é, portanto, necessário falar
com todas as partes envolvidas.
Folha - E quanto aos árabes sunitas, que se sentem excluídos?
Barton - A parte mais dura da insurgência não-terrorista é composta por nacionalistas que, segundo suas próprias palavras,
querem ver os estrangeiros fora
do país. Assim, devemos crer no
que eles dizem, inserindo-os no
processo de negociação.
Folha - O sr. acredita em mudanças no governo americano após o
pleito ou no início de 2006?
Barton - Trata-se de especulações. É possível que isso ocorra.
Contudo o presidente crê ter nas
mãos um bom plano para a vitória no Iraque, o que lhe dá certa
tranqüilidade para continuar com
a equipe de que dispõe. Por outro
lado, não acredito que seu plano
seja bom. Para mim, a situação
não vai tão bem no Iraque quanto
George W. Bush diz que vai.
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