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São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

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ATROCIDADES

Entre as armas usadas por rebeldes em combates recentes, estão estupros em massa, tortura e sequestros

Guerra no Congo teve canibalismo, diz ONU

Christine Nesbitt/Associated Press
Congoleses em caminhão que aguarda para cruzar fronteira com República Centro-Africana


DA REDAÇÃO

Canibalismo, estupros em massa, tortura e sequestros foram usados como armas por rebeldes em combates recentes em regiões remotas do Congo (ex-Zaire) habitadas sobretudo por pigmeus, afirmou a ONU ontem.
"Eles picaram o coração e outros órgãos de suas vítimas e forçaram as famílias a comê-los... Uma menininha foi assassinada, cortada em pequenos pedaços e comida", disse porta-voz da ONU sobre as revelações de investigação em torno das atrocidades cometidas no nordeste do país.
"Esses grupos são formados por malucos, e esses malucos estão fora de controle", disse Patricia Tome, em Kinshasa. Ela contou que os combatentes do Movimento pela Liberação do Congo (MLC), apoiado por Uganda, e outros dois grupos menores eram responsáveis pelas atrocidades.
A guerra civil do Congo já deixou 2,5 milhões de mortos, principalmente por causa da fome e de doenças. O conflito começou em 1998, quando Ruanda e Uganda apoiaram rebeldes que queriam derrubar Laurent Kabila, então presidente do país. Angola, Zimbábue e Namíbia enviaram tropas para apoiar o governo. Após a morte de Kabila, em janeiro de 2001, seu filho, Joseph, intensificou as negociações de paz.
O governo do Congo e rebeldes firmaram em dezembro um acordo de paz para pôr fim à guerra e instaurar um governo de transição até a convocação das primeiras eleições democráticas desde a independência, em 1960. Mediado pela África do Sul, o acordo determinou que Joseph Kabila continuaria no poder até a realização do pleito, daqui a 30 meses.
A saída de dezenas de milhares de soldados estrangeiros do país tinha como objetivo ajudar a implementar o acordo.
O acordo também previa uma força policial, com membros de regiões controladas pelo governo e pelos rebeldes, que devia atuar em Kinshasa (capital). Apesar dos esforços diplomáticos e do acordo, os combates vêm se mantendo em algumas regiões do Congo.
Investigadores da ONU foram enviados à região próxima à fronteira da Uganda. "A missão recebeu testemunhos que corroboraram relatos de saques e estupros sistemáticos, além de execuções sumárias e sequestros, usados como armas de guerra", disse Tome.
Entre as vítimas, há pigmeus, habitantes originais daquela região antes de outros grupos étnicos expulsarem parte deles dali.
O diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, alto comissário da ONU para os direitos humanos, disse que era importante levar os criminosos à Justiça.
"Pode levar algum tempo, pode ser ante um tribunal internacional ou nacional, mas a justiça é um dos pilares de uma paz duradoura", afirmou. "Há uma cultura de violência que existe por causa da anarquia neste país."
Os investigadores entrevistaram 368 pessoas, incluindo testemunhas e vítimas. "Eles diziam à população que havia uma campanha de vacinação com o objetivo de saquear todas as casas e estuprar todas as mulheres", declarou Tome, porta-voz da ONU.

Com agências internacionais


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