São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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TERCEIRA VIA
Reunião de trabalhistas discute aumento do uso do setor privado em áreas como aposentadoria e auxílio- desemprego
Blair faz plano para cortar gastos sociais

ANDREW GRICE
do "The Independent"

O Partido Trabalhista britânico traçou planos polêmicos de enxugamento do Estado de Bem-Estar Social, pelos quais deve aumentar o número de pessoas que dependerão de planos privados de seguros, em lugar dos benefícios pagos pelo Estado.
As propostas revelam que os ministros querem que os britânicos que tiverem condições financeiras para tanto se protejam contra "riscos previsíveis", contratando planos privados de seguros.
A esquerda afirma que as modificações implicam "o fim do Estado de Bem-Estar Social" e podem levar à substituição do salário-desemprego por um seguro privado.
No curto prazo, o governo poderá reduzir a ajuda que presta às pessoas que possuem casa própria hipotecada e que perderam seus empregos. Mas os ministros afirmaram ontem que não vão incentivar a criação de seguros-saúde privados para reduzir a pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde.
Os planos do Partido Trabalhista para um "novo Estado de Bem-Estar Social" serão discutidos em seu fórum político nacional, que terá lugar em Swansea, neste fim-de-semana, antes de serem aprovados no congresso anual do partido, em outubro.
De acordo com as propostas apresentadas, as novas metas do governo incluiriam o aumento do dinheiro reservado pelos cidadãos para poupança e seguros, "sem incremento da parcela que fica a cargo do governo". Os planos prevêem uma parceria entre os setores público e privado "para garantir que, sempre que possível, as pessoas estejam seguradas contra riscos previsíveis e poupem dinheiro para suas aposentadorias".
No fórum deste fim-de-semana, o partido vai informar os participantes que sua liderança rejeitou fortes pressões feitas pelas bases no sentido de elevar as aposentadorias básicas pagas pelo Estado de acordo com os salários, e não com os preços -vínculo esse que foi rompido, em 1980, por Margaret Thatcher (então primeira-ministra pelo Partido Conservador).
Foi promovida uma consulta, a título de teste, no qual várias células do Partido Trabalhista pediram que o governo tome medidas para impedir que os pensionistas e aposentados mais pobres empobreçam ainda mais em relação ao resto da sociedade.
A ala esquerda do Partido Trabalhista, liderada pela ex-secretária do Serviço Social baronesa Castle pretende combater os planos, mas a previsão é que Tony Blair consiga garantir a aprovação de todos. O premiê vai argumentar que os planos darão ao governo condições de direcionar os recursos à camada mais pobre da população.
A nova estratégia de bem-estar tem como fundamento o corte do auxílio-desemprego, obrigando os desempregados a voltar a trabalhar. Os ministros pretendem promover outras mudanças nos sistemas tributário e de benefícios sociais, para fazer com que "valha a pena trabalhar".
Na sexta-feira à noite, um ministro declarou: "Queremos mudar toda a cultura do sistema de auxílios sociais. Em lugar de simplesmente informar as pessoas dos benefícios aos quais têm direito, queremos perguntar a elas que ajuda precisam para se tornar independentes".
Para diminuir os temores da esquerda, o governo vai fixar várias metas para a resolução dos problemas sociais. Entre essas metas figuram a redução do número de jovens e pessoas em idade economicamente ativa que vivem em famílias onde não há nenhum membro empregado, a redução do número de desempregados que se encontram nessa situação há mais de dois anos e o aumento do auxílio prestado pelos sistemas tributário e de benefícios sociais às famílias com filhos pequenos.
Mas os críticos de Blair vêem com preocupação sua perspectiva de reduzir o papel do Estado.
˛


Tradução de Clara Allain



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