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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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ARGENTINA

Pesquisas e analistas mostram que os presidenciáveis estão mais preocupados com questões legais e partidárias

Candidatos argentinos "esquecem" eleitor

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, teria mais votos na Argentina do que os quatro principais candidatos à Presidência do país juntos. Os argentinos não sabem em quem votar, ninguém confia nas pesquisas divulgadas no país, e os candidatos, até agora, comportam-se como se a campanha não tivesse começado -apesar de a eleição estar marcada para o próximo dia 27 de abril.
Na quinta-feira, a Fundação Konrad Adenauer publicou pesquisa sobre a cobertura dos meios de comunicação argentinos sobre a eleição. Em 86% dos casos, tratavam-se de brigas internas dos partidos, disputas pela definição das regras eleitorais ou troca de acusações. Das cerca de 1.200 aparições de candidatos na mídia, em apenas uma se discutiam medidas para diminuir o desemprego, o principal problema do país para 70% dos argentinos.
A pesquisa mostrou que em apenas 3% dos casos os candidatos eram mencionados pela mídia por conta de propostas ou anúncio de medidas que adotarão caso cheguem ao governo.
"Os candidatos atuam como se estivessem disputando os votos em eleição partidária interna. Falam pouco à população, que espera", diz Hugo Martin, pesquisador da consultoria Nova Maioria.
Há duas semanas, uma pesquisa mostrou que 50% dos argentinos votariam em Lula. Nenhum candidato argentino atinge 20% das intenções de votos. Outro levantamento, da Global News, empresa argentina que monitora meios de comunicação em 33 países, mostra que Lula teve mais espaço nos jornais argentinos do que a maioria dos candidatos à Presidência do país. O presidente brasileiro só perde para o ex-presidente Carlos Menem (1989-99) e, em alguns casos, para o governista Néstor Kirchner, ambos do PJ (Partido Justicialista). Ainda assim, a exposição na mídia não é sempre um dado positivo para os dois candidatos. Na maioria dos casos, diz Laura García, presidente da Global News, os textos traziam críticas aos presidenciáveis.

No escuro
A única certeza que têm hoje os argentinos é que a eleição se decidirá, pela primeira vez na história do país, no segundo turno. Ninguém arrisca dizer quem ganhará, ainda que a percepção seja a de que Menem e Kirchner tenham as melhores chances. O motivo: não existe legislação que controle as pesquisas de intenção de voto, e cada levantamento mostra resultados diferentes. E, claro, cada candidato acusa os oponentes de fabricarem pesquisas falsas.
Na semana passada, a Consultora Equis saiu às ruas e perguntou aos argentinos se confiavam nas pesquisas. Sete em cada dez pessoas responderam que não.

Nem tudo muda
Nos últimos 60 anos, prever como votariam os argentinos foi fácil. Cerca de 40% optavam pelo candidato peronista (do PJ), aproximadamente 25% escolhiam o candidato radical (da UCR, União Cívica Radical). A eleição era decidida pelos cerca de 20% considerados independentes, que migravam para um ou outro partido.
No dia 27 de abril, três candidatos peronistas repartirão os 40% de votos com os quais conta o peronismo. O candidato radical, Leopoldo Moreau, não atinge sequer 3% das intenções de voto. "O quadro político mostra uma mudança fenomenal, com o quase desaparecimento da UCR e a balcanização do peronismo", avalia Martin.
Ele diz, no entanto, que, de alguma maneira, as mudanças não são tão drásticas: Lopez Murphy e Elisa Carrió, ambos ex-radicais que fundaram novos partidos depois da derrocada do governo de Fernando de la Rúa, em dezembro de 2001, somam cerca de 20% das intenções de voto. Os peronistas somam aproximadamente 40%. A eleição, de novo, prevê o pesquisador, seria decidida pelos independentes, eleitores pragmáticos, que voltam segundo as propostas de governo e decidem seu voto às vésperas da eleição.


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