São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2010

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Israelense propõe que Brasil medeie paz com Síria

DO ENVIADO A JERUSALÉM

O presidente israelense, Shimon Peres, sugeriu ontem a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva que convide o presidente da Síria, Bashar al Assad, a visitar o Brasil, juntamente com o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, no que seria a porta de entrada do Brasil para as negociações de paz no Oriente Médio, hoje estancadas.
Assad já está convidado e a data tentativa para a viagem é julho. Netanyahu foi convidado ontem por Lula e também acenou com a hipótese de ir em 2010, mas a situação em Israel é tão volátil que uma eventual confirmação pode demorar.
Ainda mais agora que há uma crise nas relações com os EUA que levou a uma "situação crítica", conforme avaliação de Peres para a delegação brasileira.
Israel e Síria vinham mantendo negociações indiretas usando a Turquia como canal, até que a invasão da faixa de Gaza pelos israelenses, há pouco mais de um ano, pôs fim à intermediação. O Brasil está dialogando intensamente com a Turquia em torno do problema iraniano, o que tornaria em tese mais fácil passar a ser um canal alternativo ou complementar a outros esforços.
O que é mais complicado é entrar na negociação entre Israel e palestinos, por uma razão bastante objetiva: "Enquanto as partes não tiverem confiança uma na outra, é muito difícil haver negociação", diz o vice-chanceler Dan Ayalon. Fica impraticável, portanto, o Brasil entrar no que não existe.
Lula, em sua fala à Knesset, lamentou a paralisação das negociações e criticou "iniciativas unilaterais que as dificultam, como o anúncio da construção de residências em Jerusalém, às vésperas do reinício de uma rodada de negociações".
O que, sim, existe é um ativo brasileiro, exaltado coincidentemente pelos presidentes de Israel e da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas: a boa convivência entre as comunidades árabe e judia no Brasil.
Aliás, o encontro empresarial Brasil/Israel, que Lula encerrou ontem, acabou sendo involuntariamente uma demonstração dessa convivência: fechava a fila de autoridades no salão do hotel em que se deu o seminário, a dupla Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, de origem árabe, e Daniel Feffer, da Suzano, judeu.
Os dois, aliás, nem notaram a coincidência, quando a Folha apontou-a, o que demonstra como é natural representantes das comunidades conviverem sem nenhuma estranheza.
Lula aproveitou o seminário para fazer um sermão pela paz. "O vírus da paz está comigo acho que desde que estava no útero de minha mãe", disparou. (CR)


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