São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Rumsfeld diz que não previa tamanha deterioração da segurança; EUA ampliarão estadia de soldados

Iraquianos matam diplomata iraniano

DA REDAÇÃO

Insurgentes iraquianos mataram ontem a tiros um diplomata do Irã em Bagdá, no momento em que o país vizinho media um impasse entre as forças de ocupação e um líder radical xiita em Najaf.
O governo iraniano confirmou que Khalil Naimi, primeiro secretário da Embaixada do Irã em Bagdá, foi atingido quando dirigia para o trabalho, perto da missão iraniana, e morreu imediatamente. Os agressores fugiram noutro veículo sem serem identificados.
A Chancelaria iraniana investiga se há relação entre o assassinato do diplomata e a colaboração de Teerã, onde vigora um regime teocrático xiita, nas negociações em Najaf. Os dois países estiveram em guerra de 1980 a 1988.
O Irã enviou uma delegação ao Iraque para mediar o impasse entre o clérigo xiita Moqtada al Sadr, que está sitiado por 2.500 soldados dos EUA em Najaf, e as forças de ocupação. Al Sadr, que exige a retirada americana e liderou um levante contra os EUA no início do mês, após ter seu jornal fechado, aceitou negociar sem precondições diante da pressão de líderes xiitas mais graduados.
Segundo o governo iraniano, os EUA pediram sua intervenção na negociação, apesar das relações congeladas entre os dois países. Embora o comando americano tenha declarado que pretende prender ou matar Al Sadr, busca-se evitar a entrada em Najaf, já que a invasão da cidade sagrada xiita poderia provocar uma revolta popular generalizada no país, já conturbado pelos confrontos entre ocupantes e insurgentes.

Surpresa
O outro foco de tensão é Fallujah (sunita), a oeste de Bagdá, onde os americanos apreenderam armas. O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, general Richard Myers, disse que os marines que controlaram o levante na cidade, onde vigora um frágil cessar-fogo, não conterão a situação por muito tempo.
"Em dado momento, alguém terá de decidir o que faremos, e não podemos descartar o uso da força lá mais uma vez", disse Myers, que está no Iraque para avaliar a segurança.
Ataques terrestres e aéreos dos EUA contra Fallujah neste mês mataram mais de 600 iraquianos, metade dos quais seria de civis, segundo entidades humanitárias. No início desta semana, uma ação americana em um vilarejo perto de Fallujah resultou na morte de mais de cem iraquianos que os EUA dizem ser insurgentes.
As mortes de soldados americanos também estão disparando. Ontem, mais um militar foi morto na cidade de Samarra, na região central do Iraque, elevando para 88 os mortos neste mês.
Myers e o secretário da Defesa americano, Donald Rumsfeld, confirmaram ontem que, diante dos quadros, a licença de cerca de 20 mil soldados que sairiam de férias no próximo mês será suspensa, e eles terão sua estada ampliada. O comandante das forças dos EUA no Oriente Médio, general John Abizaid, e no Iraque, general Ricardo Sanchez, solicitaram "maior capacidade [bélica] dada a atual situação de segurança no país", disse Myers. "Essa capacidade será ampliada."
Já Rumsfeld expressou surpresa quanto ao número de soldados mortos recentemente. "Eu certamente não estimaria que teríamos uma perda de vidas tão grande quanto na semana passada", disse o secretário. "Se há um ano vocês [a imprensa] me pedissem para descrever como eu achava que estaria o Iraque agora, não é esse cenário que eu descreveria."
A violência também pode prejudicar o cronograma político do país, que recuperará a soberania no próximo dia 30 de junho.
Segundo a ONU, se a lei eleitoral -ainda em fase de elaboração- não for endossada dentro de seis semanas, não será possível realizar eleições gerais na data prevista, 31 de janeiro de 2005.


Com agências internacionais

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