São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONTRA

Ações provocaram violência, diz autor

DA REPORTAGEM LOCAL

Thomas Sowell é pesquisador do Instituto Hudson. Acredita que a ação afirmativa gera mais problemas do que efetivamente resolve e desaconselha sua adoção por outros países. Leia trechos de sua entrevista. (JBN)

Folha - Seu livro trata de cinco países em que a ação afirmativa teria criado problemas. Não há aspectos positivos a sinalizar?
Thomas Sowell -
Podemos sempre esperar, mas é perigoso ignorar a experiência, especialmente quando ela é repetida sucessivamente em outros países. Há, além desses cinco países, outros que menciono mais sumariamente. A ação afirmativa repetidamente provocou polarização e desembocou em violência. Tudo isso tem um preço elevado.

Folha - Quais foram, nos EUA, as vantagens reais para os negros?
Sowell -
Os negros e hispânicos que foram beneficiados não eram propriamente pobres ou eram menos pobres que a média dos americanos brancos.

Folha - Como fica a ação afirmativa quando ela protege maiorias?
Sowell -
Não está para mim muito claro de que forma os estragos são menores. Violência repetidamente eclodiu na Índia em razão de medidas de ação afirmativa contra a casta minoritária dos "intocáveis".

Folha - Seu livro levanta aptidões de determinados grupos étnicos em detrimento de outros. O sr. realmente quis ir tão longe?
Sowell -
Meu estudo sobre ação afirmativa faz parte de uma pesquisa mais ampla sobre os efeitos das diferenças étnicas e culturais. Em 15 anos, publiquei três livros sobre o assunto. Notei que a norma era a existência de disparidades de aptidões em sociedades muito díspares e em períodos diversos. No início do século 20, na cidade de São Paulo, por exemplo, apenas alemães ou seus descendentes eram donos de fábricas de fogões, papel, chapéus, gravatas, couro, sabão, vidro e cerveja.

Folha - Que conclusão tirar desse fato paulistano?
Sowell -
Os germânicos produzem cerveja desde o Império Romano. Não é então surpreendente que sejam eles os cervejeiros no Brasil, na Argentina, nos EUA e na Austrália. Não precisamos acreditar que haja algo de genético nos alemães para que eles consigam fabricar cerveja, mas que há algo ligado à história deles.

Folha - Há outros exemplos além do alemão?
Sowell -
Creio que muitos outros grupos étnicos têm habilidades, potencialidades, aptidões específicas, conhecimento e disciplina para produzir determinadas coisas. Essas coisas nunca são as mesmas. Como imaginar que esquimós possam saber como cultivar abacaxis? Como imaginar que polinésios saibam mais de camelos que os beduínos do Saara?

Folha - Em alguns casos, como Sri Lanka, Nigéria e Malásia, a ação afirmativa, segundo o sr., estimulou a corrupção. Há meios de imaginar mecanismos movidos a honestidade?
Sowell -
Os graus de corrupção variam enormemente de sociedade para sociedade, com ou sem a ação afirmativa, que apenas estimula a ocorrência de uma corrupção maior.


Texto Anterior: A favor: "Choque" reduziu fosso, diz historiador
Próximo Texto: Panorâmica - Iraque ocupado: Coalizão mata 41 insurgentes; ataque rebelde mata quatro civis iraquianos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.