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SAIBA MAIS
Inquisições visavam assegurar ortodoxia católica
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os seis séculos de Inquisição
percorrem momentos bastante
diferenciados de repressão a hereges, alquimistas, bruxos e, nos
países ibéricos, também a muçulmanos e judeus, suspeitos de
práticas religiosas proibidas.
Mas todas essas formas têm
como denominador comum a
violência institucional da igreja,
o sectarismo e a intolerância incompatíveis com as liberdades
do indivíduo que o iluminismo
difundiu a partir do século 18.
A Inquisição partia da idéia,
compartilhada pela igreja, pela
nobreza e por boa parte das pessoas pobres, de que a sociedade
deveria ser homogênea em suas
idéias confessionais. A adesão
incompleta a determinada forma de cultuar Deus tornava-se,
então, passível de punição.
Hereges -que contestavam a
ortodoxia do cristianismo-
existiam desde o princípio da religião. A novidade em 1231,
quando Gregório 9º instituiu o
primeiro tribunal, estava na
adoção de práticas jurídicas codificadas para identificar dissidentes e submetê-los a penas
que iam do simples jejum ou penitência até a morte na fogueira.
Dirigidos por franciscanos e
dominicanos, tais tribunais foram de início ativos no sul da
França, no norte da Itália e na
Alemanha. Em 1478, Sixto 4º autorizou-os na Espanha, onde os
julgamentos ocorreram segundo a lógica persecutória do poder temporal -os reis Fernando e Isabel não haviam obtido a
conversão voluntária de mouros
e judeus sefaraditas.
Em 1542, Paulo 3º cria a Inquisição romana, destinada a conter a propagação na Itália dos
adeptos de Lutero e Calvino.
Na Espanha, a Inquisição foi
extinta apenas em 1834, e só depois disso na Polônia. Deixou
um rastro de arbítrio e aberrações. Entre elas, as condenações
de Giordano Bruno, em 1592, e
de Galileu, em 1633, ambos
adeptos da teoria de Copérnico,
segundo a qual a Terra girava em
torno do Sol.
Alguns inquisidores são de
tristíssima memória, como o dominicano Tomás de Torquemada, responsável por algo como
2.000 mortes em fogueiras espanholas. Ele também aplicou amplamente o confisco dos bens
dos réus -suspeita-se que Inquisição "fabricava" hereges para ampliar seu patrimônio.
Tribunais da Inquisição não
foram instalados no Brasil. Os
processos eram julgados em
Portugal, onde, em 1536, a monarquia obteve do papa a autorização para instalá-los. Mas as
terras brasileiras foram objeto
de "visitações" do Santo Ofício, a
primeira delas em 1618, a segunda em 1623. Fora desses períodos, bispos da colônia eram encarregados dos inquéritos.
Entre 1694 e 1748 foram 18 os
brasileiros condenados à morte
pela Inquisição de Lisboa. A
mais conhecida das vítimas foi o
dramaturgo Antônio José da Silva (autor de "Guerras de Alecrim e Manjerona"), cognominado "O Judeu", queimado em
1793.
Mas os efeitos desse conjunto
heterogêneo de tribunais não
podem ser contabilizados pelo
número de execuções. Eles criaram na verdade um clima generalizado de temor e delação. Retrospectivamente, representaram uma forma explícita de insegurança e de terrorismo ideológico.
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