São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006

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Hamas propõe trégua por temor de escalada de Israel

Jornal diz que premiê Haniyeh seria alvo se não cessassem mísseis palestinos

Porta-voz do grupo islâmico condiciona trégua ao fim das incursões israelenses para retaliar; Israel concorda e também mata 3 terroristas


Kevin Frayer/Associated Press
O presidente palestino, Mahmoud Abbas (dir.), que negocia um acordo com o rival Hamas, recebe o título de doutor honoris causa na Universidade An Najah, em Nablus, na Cisjordânia


DA REDAÇÃO

O Hamas ofereceu ontem a Israel uma trégua que se traduziria na interrupção no lançamento de foguetes Qassam contra alvos israelenses, mas exigiu como contrapartida que Israel cesse as operações contra lideranças do grupo islâmico em Gaza e na Cisjordânia.
Essa predisposição representa um recuo na intenção anunciada na última sexta-feira pelo braço armado do grupo de voltar a atacar alvos civis israelenses, em represália pela morte de seis civis palestinos numa praia de Gaza. Israel nega envolvimento no incidente.
Ghazi Hamad, porta-voz do governo palestino controlado pelo Hamas, afirmou "estar claro para nós que estamos interessados em manter a situação calma, sobretudo em Gaza".
Disse que o governo tem mantido contatos com outras facções palestinas e que a trégua será restabelecida "caso os israelenses demonstrem enfaticamente que aceitam cessar sua agressão".
A proposta foi apoiada pela liderança do Hamas exilada na Síria. Moussa Abu Marzouk, afirmou à Associated Press que "se Israel parar de atirar em civis, então o Hamas dará um passo positivo".
A única reação israelense até agora partiu de Mark Regev, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. "Se eles sossegarem, responderemos sossegando também", disse.
Esse conjunto de declarações fechou um dia bastante confuso nas relações entre Israel e o governo palestino, controlado pelo grupo islâmico.
Já à noite Israel matou três palestinos que enterravam bombas na cerca que separa seu território de Gaza.
O jornal israelense "Haaretz" disse que o Jihad Islâmico, grupo terrorista palestino, lançou ontem dois mísseis Qassam e feriu três civis israelenses na cidade de Sderot.
O Jihad estava aparentemente autorizado pelo Hamas a efetuar esses dois disparos. O próprio Hamas divulgou pela manhã um comunicado, no qual negava informações da mídia israelense de que cessaria essa forma de agressão.
O grupo islâmico, apesar de controlar o Parlamento e o gabinete palestinos, anunciou no texto que havia lançado dois Qassam na quarta-feira. A informação foi desmentida pelo Exército israelense.
O "Haaretz" disse que o premiê palestino pertencente ao Hamas, Ismail Haniyeh, reuniu-se na segunda-feira com os chefes do braço armado do grupo e com eles discutiu a informação passada pelos israelenses ao presidente palestino, Mahmoud Abbas. Segundo esse relato, Israel alvejaria o próprio Haniyeh caso os Qassam continuassem a ser lançados.
Anteontem, o ministro israelense da Defesa, Amir Peretz, confirmou ter enviado aos palestinos o recado de que, se os ataques prosseguissem, uma "ação decisiva" seria tomada.

Dinheiro em espécie
O ministro palestino da Informação, Youssef Rizka, entrou ontem em Gaza com uma mala carregada com US$ 2 milhões em espécie. Na véspera, outro ministro, Mahmoud Zahar, das Relações Exteriores, já havia transposto a fronteira operada por funcionários da União Européia com US$ 20 milhões em sua bagagem.
Ambos declararam a quantia transportada, uma exigência legal, e a entregaram ao Ministério das Finanças palestino.
Informantes do Hamas dizem que essa é uma maneira de contornar a suspensão da transferência de fundos para o governo palestino e que o dinheiro é para pagar os cerca de 160 mil servidores públicos.
Mas israelenses dizem que o dinheiro contido nas duas malas pode se destinar às atividades políticas e militares do Hamas, que está se preparando para o plebiscito convocado pelo presidente Mahmoud Abbas, e no qual os palestinos poderão -contrariamente à posição do grupo islâmico- reconhecer os direitos de Israel à existência.


Com agências internacionais

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