São Paulo, quinta-feira, 16 de julho de 2009

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Mediação, que corre contra o relógio, preocupa países latinos

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Cada dia que passa os golpistas se tornam mais robustos, com prejuízos para o povo de Honduras. É um retrocesso para toda a América Latina", lamentou ontem, à Folha, o chanceler do Equador, Fander Falconí. "Creio que a comunidade internacional já se pronunciou de modo firme e categórico. Neste momento, pode-se agregar pouco mais."
A frase ilustra o ânimo dos países da região ao analisar a crise hondurenha, 18 dias após o golpe que tirou Manuel Zelaya do poder, quando se reduz a aposta nas chances de sucesso no diálogo entre governo golpista e deposto, sob a mediação do presidente costa-riquenho, Óscar Arias.
A discussão, então, desloca-se para as eleições gerais de Honduras, marcadas para novembro e mantidas, a princípio, pelos golpistas -se chegarem a acontecer, serão reconhecidas no exterior?- e para o debate sobre o papel de Washington nas negociações.
Vários países da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), liderados pela Venezuela, argumentam que os EUA têm como pressionar economicamente o governo golpista mais do que têm feito. Washington cortou parte dos programas de ajuda (US$ 16,5 milhões) e congelou a parceria militar com Tegucigalpa.
Quando o presidente deposto, dois dias atrás, exigiu voltar ao poder após a próxima rodada de negociações na Costa Rica, Washington reagiu pedindo que não fossem criados "prazos artificiais". Em resposta, ouviu pedidos para que os EUA publicamente digam que não reconhecerão eleições hondurenhas, se feitas sob o governo de Roberto Micheletti.
"As mensagens dos atores internacionais não podem ser ambíguas. Quando temos resquícios de ambiguidade, isso fortalece aos golpistas", disse Falconí, questionado sobre a atitude americana.
O Brasil apostou as fichas nas fracassadas gestões da OEA (Organização dos Estados Americanos), lideradas pelo secretário-geral José Miguel Insulza. Além do mais, a entidade já tomou a medida mais dura que poderia adotar: a suspensão de Honduras.
Depois disso, houve poucas manifestações brasileiras, embora, a princípio, declarações anteriores do governo o aproximem das pressões bolivarianas públicas a Washington.
Na semana passada, o chanceler Celso Amorim, disse à Folha, em Paris, que "eleições conduzidas por um governo ilegítimo já estão inquinadas de ilegitimidade", deixando claro que o Brasil não apoiaria uma solução semelhante.
Quanto às pressões econômicas, o ministro sublinhou o peso dos EUA e dos organismos multilaterais na questão.
O trecho da resolução da OEA que exorta os países a revisarem suas relações com Honduras, sob os golpistas, foi incluído por exigência do Brasil, segundo o embaixador do país na entidade, Ruy Casaes.
Quanto à possibilidade de convocar uma nova reunião do Grupo do Rio, para uma nova onda de pressão política de Micheletti, o Itamaraty afirmou que o país "não se opõe" a ela.
As consultas sobre a possível reunião estão sendo feitas pela Chancelaria do México, que tem a presidência rotativa do mecanismo diplomático regional que abarca 23 países.


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