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Mediação, que corre contra o relógio, preocupa países latinos
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Cada dia que passa os golpistas se tornam mais robustos,
com prejuízos para o povo de
Honduras. É um retrocesso para toda a América Latina", lamentou ontem, à Folha, o
chanceler do Equador, Fander
Falconí. "Creio que a comunidade internacional já se pronunciou de modo firme e categórico. Neste momento, pode-se agregar pouco mais."
A frase ilustra o ânimo dos
países da região ao analisar a
crise hondurenha, 18 dias após
o golpe que tirou Manuel Zelaya do poder, quando se reduz a
aposta nas chances de sucesso
no diálogo entre governo golpista e deposto, sob a mediação
do presidente costa-riquenho,
Óscar Arias.
A discussão, então, desloca-se para as eleições gerais de
Honduras, marcadas para novembro e mantidas, a princípio, pelos golpistas -se chegarem a acontecer, serão reconhecidas no exterior?- e para
o debate sobre o papel de Washington nas negociações.
Vários países da Alba (Alternativa Bolivariana para as
Américas), liderados pela Venezuela, argumentam que os
EUA têm como pressionar economicamente o governo golpista mais do que têm feito.
Washington cortou parte dos
programas de ajuda (US$ 16,5
milhões) e congelou a parceria
militar com Tegucigalpa.
Quando o presidente deposto, dois dias atrás, exigiu voltar
ao poder após a próxima rodada de negociações na Costa Rica, Washington reagiu pedindo
que não fossem criados "prazos
artificiais". Em resposta, ouviu
pedidos para que os EUA publicamente digam que não reconhecerão eleições hondurenhas, se feitas sob o governo de
Roberto Micheletti.
"As mensagens dos atores internacionais não podem ser
ambíguas. Quando temos resquícios de ambiguidade, isso
fortalece aos golpistas", disse
Falconí, questionado sobre a
atitude americana.
O Brasil apostou as fichas
nas fracassadas gestões da OEA
(Organização dos Estados
Americanos), lideradas pelo secretário-geral José Miguel Insulza. Além do mais, a entidade
já tomou a medida mais dura
que poderia adotar: a suspensão de Honduras.
Depois disso, houve poucas
manifestações brasileiras, embora, a princípio, declarações
anteriores do governo o aproximem das pressões bolivarianas públicas a Washington.
Na semana passada, o chanceler Celso Amorim, disse à
Folha, em Paris, que "eleições
conduzidas por um governo ilegítimo já estão inquinadas de
ilegitimidade", deixando claro
que o Brasil não apoiaria uma
solução semelhante.
Quanto às pressões econômicas, o ministro sublinhou o peso dos EUA e dos organismos
multilaterais na questão.
O trecho da resolução da
OEA que exorta os países a revisarem suas relações com
Honduras, sob os golpistas, foi
incluído por exigência do Brasil, segundo o embaixador do
país na entidade, Ruy Casaes.
Quanto à possibilidade de
convocar uma nova reunião do
Grupo do Rio, para uma nova
onda de pressão política de Micheletti, o Itamaraty afirmou
que o país "não se opõe" a ela.
As consultas sobre a possível
reunião estão sendo feitas pela
Chancelaria do México, que
tem a presidência rotativa do
mecanismo diplomático regional que abarca 23 países.
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