São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Parentes de mortos querem indenização de acusados de financiar a Al Qaeda, incluindo o Sudão e sauditas

Famílias do 11 de setembro exigem US$ 1 tri

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Pelo menos 600 parentes de vítimas do ataque terrorista de 11 de setembro passado entraram ontem na Justiça dos EUA com pedido de indenizações que somam US$ 1 trilhão. Os acusados são grupos que teriam ajudado financeiramente a organização terrorista Al Qaeda, do saudita Osama bin Laden, e o Taleban, que governou o Afeganistão.
Na lista estão incluídos o governo do Sudão, integrantes da família real da Arábia Saudita, instituições financeiras, a construtora que pertence à família de Bin Laden e diversas entidades islâmicas. Já o governo norte-americano é acusado de não perseguir essas instituições de maneira mais eficaz devido a seus interesses na indústria de extração petrolífera.
O objetivo é "invocar o império da lei e o estado de direito para que sejam responsabilizados aqueles que incentivaram, financiaram, patrocinaram ou apoiaram materialmente os atos de barbárie e terror de 11 de setembro de 2001", diz texto da ação judicial de 259 páginas, impetrada no tribunal federal do Distrito de Colúmbia, em Washington.
Os autores coletivos se autodenominam Famílias de 11 de Setembro Unidas para Arruinar o Terrorismo, associação que reúne parentes, bombeiros e trabalhadores de resgate de países como África do Sul, Argentina, Canadá, França e Paraguai, além é claro, dos Estados Unidos.
Ao todo estão sendo processados sete bancos internacionais, oito fundações e organizações de caridade islâmicas e suas subsidiárias, supostos financiadores individuais do terrorismo, o Grupo Bin Laden, três príncipes sauditas e o governo do Sudão.
Os príncipes são Turki al Faisal al Saud, Sultan bin Abdul Aziz al Saud e Mohammed al Faisal al Saud. O Grupo Bin Laden é a empreiteira operada pelos irmãos do terrorista saudita, que é acusado de usar sua parte na fortuna da família para financiar suas atividades de terrorismo.
Dos 19 sequestradores dos quatro aviões usados como bombas no dia 11 de setembro, 15 eram sauditas. Desde então, o governo da Arábia Saudita nega sistematicamente qualquer participação no ataque e se define como "forte aliado" dos Estados Unidos.

O mesmo de Lockerbie
A ação é comandada pelo advogado Allan Gerson, que ganhou fama mundial por sua atuação no processo movido pelas vítimas do vôo da extinta Pan Am que caiu sobre Lockerbie, na Escócia, em 1988, derrubado por uma bomba que explodiu a bordo.
"Sabemos que temos pouca chance de ganhar a indenização pedida, mas queremos que o processo ajude a desvendar as complexas transações financeiras que patrocinaram os atentados de 11 de setembro", disse ele.
Os parentes, no entanto, estão confiantes na vitória tanto financeira quanto moral e acreditam que, com o passar dos dias, outros familiares se juntarão ao processo, até que todas as pouco mais de 3.000 vítimas do dia 11 de setembro estejam representadas na ação coletiva de Washington.
"Eu continuarei com essa ação até que a Justiça seja feita e o terrorismo seja contido", disse Matt Sellitto, cujo filho Matthew, então com 23 anos, morreu no World Trade Center. "Se o mal está voltado contra nós, é nossa obrigação tentar derrotá-lo."
Já para Deena Burnett, cujo marido foi morto no vôo 93, que caiu numa área rural da Pensilvânia, a ação "só depende de nós e acredito que podemos vir a ser bem-sucedidos".


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