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Baltika tenta fazer os russos esquecerem a vodca
VÉRONIQUE SOULÉ
do ''Libération'', em Moscou
Pavel Dejkoun, 36 anos, sonhava
ser jogador de futebol, mas foi
obrigado a desistir da idéia depois
de uma séria contusão. Tornou-se
professor de ginástica e bebedor
-de cerveja.
Hoje é presidente da Associação
Russa dos Amantes da Cerveja,
criada em 1995 com o objetivo de
''transformar a Rússia de país da
vodca em país da cerveja''.
Os russos, campeões mundiais
no consumo de vodca, ainda estão
longe dos grandes países consumidores de cerveja.
Bebendo em média 20 litros de
cerveja por ano, o russo perde para os alemães, que tomam 140. Os
tchecos bebem 162. Mas a cerveja
está em alta. Entre 1996 e 1997, seu
consumo subiu 15% no país.
Uma nova cultura está nascendo
nas grandes cidades, especialmente Moscou e São Petersburgo. Foram abertos bares e restaurantes
que oferecem chope e cervejas, como a russa Baltika, impossíveis de
serem encontrados há dez anos.
Preocupada em não ferir as tradições, a associação promove uma
campanha fundada em bases
pragmáticas: ela aconselha a vodca para festas e cerimônias, a cerveja para quem quer relaxar depois do trabalho.
"Estamos assistindo a uma lenta
transição da vodca à cerveja'',
confirma Alexandre Tchupejkin,
diretor de uma revista sobre cerveja criada em 1996.
A esperança de mudança é depositada nos jovens cidadãos urbanos. Os ''bikers'' optam pela Miller (americana); os moscovitas
preferem a russa Baltika.
Mas ainda restam vários obstáculos à penetração da cerveja. O
primeiro deles é o preço. Uma garrafa de meio litro de vodca custa
em torno de 15 rublos (cerca de RÏ
2,85); ''para obter o mesmo resultado'' com cerveja, é preciso gastar
o triplo. Num bar moscovita, o caneco de cerveja estrangeira chega
a custar entre US$ 5 e US$ 6 (de RÏ
5,85 a RÏ 7). Além disso, há antigas, e más, recordações. Tchupejkin recorda que, sob o comunismo, ''os bares que vendiam cerveja eram escuros e cheiravam mal.
O freguês ficava em pé diante de
mesas sujas e gordurosas. Sempre
faltavam copos''. A cerveja só era
servida com peixes secos.
Outro problema é que a cerveja
fazia parte dos produtos que costumavam estar em falta. Para poder comprá-la, era preciso fazer fila horas antes da entrega.
Muitos já se esqueceram de que,
antes da Revolução Russa, o país
produzia uma das melhores cervejas da Europa. No início do século
19, a Rússia tinha duas escolas de
formação de fabricantes de cerveja. Várias grandes cervejarias fundadas na época ainda sobrevivem
em São Petersburgo. É o caso da
Stepan Razin, que acaba de abrir
um museu da cerveja.
O fenômeno dos últimos anos é
o sucesso fulgurante da cervejaria
Baltika, na região de São Petersburgo. Criada em 1991 por um
consórcio escandinavo, ela já domina 30% do mercado moscovita.
A indústria da cerveja é um dos
poucos setores atraentes para os
investidores estrangeiros na Rússia. O retorno sobre o investimento é rápido.
Apesar disso, o lobby pró-cerveja ainda está em seus primórdios.
Alguns cantores e atores militam
nele, mas poucas figuras públicas.
Os políticos ainda preferem a vodca. O ultranacionalista Vladimir
Jirinovski produz sua própria
marca de vodca, e as preferências
de Ieltsin, antes de sua cirurgia
cardíaca, eram conhecidas.
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