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DEMOGRAFIA
Relatório da ONU diz que são necessários US$ 3,9 bi anuais em programas para prevenir gravidez indesejada no mundo
201 milhões de mulheres não têm planificação familiar
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com uma população mundial
que já chega a 6,37 bilhões de pessoas, há cerca de 201 milhões de
mulheres, principalmente em
países mais pobres, que não têm
acesso adequado a meios de prevenção à gravidez.
Para atendê-las, seria necessário
aplicar US$ 3,9 bilhões ao ano em
programas desse tipo, o que evitaria 23 milhões de nascimentos
não-planejados e outros 22 milhões de abortos induzidos. Levando-se em conta os casais, são
350 milhões sem atendimento de
planejamento familiar.
Os números são parte do relatório "Situação da População Mundial 2004", divulgado ontem pelo
Fundo de População da ONU.
Contém dados repassados por 151
dos 169 países consultados no ano
passado, inclusive o Brasil.
Pelas projeções do documento,
a população mundial será de 8,91
bilhões de pessoas em 2050, apesar de a taxa de fertilidade estar
caindo em várias regiões. Dos países mais pobres, 50 triplicarão de
tamanho. Até 2007, mais da metade da população estará, pela primeira vez, em zonas urbanas.
Para o pesquisador Marcelo
Medeiros, coordenador do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) no Centro Internacional de Políticas para Redução da
Pobreza, o que preocupa não é o
crescimento da população, mas se
a sociedade terá capacidade de incorporar esse contingente, oferecendo condições adequadas de vida. Atualmente, 2 em cada 5 pessoas no mundo sobrevivem com
menos de R$ 6 por dia.
Enfatizando os resultados obtidos pelos países dez anos depois
do chamado Consenso do Cairo,
o documento aponta que as metas
estabelecidas para reduzir o crescimento da população mundial e
assegurar os direitos das mulheres podem não ser alcançadas por
falta de verba e vontade política.
"A falta de recursos está impedindo maiores progressos e, mesmo que as necessidades continuem a crescer, a resposta da comunidade internacional tem sido,
para falar francamente, deploravelmente inadequada", disse a diretora do Fundo de População da
ONU, Thoraya Ahmed Obaid.
Violência
O Consenso do Cairo, adotado
em 1994 por 179 países, associou
às políticas populacionais temas
como desenvolvimento humano,
direito das mulheres e igualdade
de escolhas. Uma das principais
metas é dar acesso universal à
saúde reprodutiva até 2015.
A encarregada do escritório do
fundo no Brasil, Tania Patriota,
destacou que, apesar dos avanços
dos países nas leis e melhoria das
políticas de saúde reprodutiva, a
implementação delas não tem a
mesma velocidade. Esse é o caso
do Brasil, que ainda tem o desafio
de reduzir desigualdades no atendimento de mulheres.
Outro exemplo disso é que 131
países aparecem no relatório com
mudanças nas políticas e nas leis
para reconhecer os direitos reprodutivos. Mas apenas 21 deles, inclusive o Brasil, aplicaram concretamente essas leis para conter ou
punir a violência contra a mulher.
"Violência não se resolve com a
criação de legislação. Esse é um
mecanismo que auxilia, mas não
resolve de imediato", diz Taís
Santos, representante auxiliar do
escritório do fundo no Brasil.
Patriota lembra ainda que uma
das prioridades para os próximos
anos é cobrar dos países, principalmente os desenvolvidos, o
cumprimento do compromisso
de aplicar recursos para atender a
essas metas.
No ano passado, por exemplo,
esses doadores deveriam ter contribuído com US$ 6,1 bilhões para
programas populacionais, mas
repassaram apenas US$ 3,1 bilhões. Os países em desenvolvimento se comprometem a mobilizar dois terços do total de recursos, e os doadores, um terço. No
total, estima-se chegar a US$ 18,5
bilhões em 2005.
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