São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Outros seis também vão para a prisão

"Vingador" americano é condenado a dez anos de prisão no Afeganistão

NICK MEO
DO "INDEPENDENT", EM CABUL

O caso extraordinário do caçador de recompensas, sua câmara de tortura particular e o jornalista que fazia um filme sobre sua caçada a Osama bin Laden chegou ao fim num tribunal de Cabul, ontem, com três homens sendo condenados a longas penas de prisão nos medonhos cárceres afegãos.
O ex-militar americano e fraudador condenado Jonathan Idema insistiu em que, em sua carreira de justiceiro, trabalhou com Donald Rumsfeld e esteve em contato com o Pentágono e com autoridades afegãs. No julgamento, sua trajetória foi exposta como uma parte sombria e pouco conhecida da guerra ao terror.
Idema, que fumou cigarros na corte e "explicou" ao juiz o significado da democracia, usava o uniforme que ele próprio criou e resmungava obscenidades, tachando os juízes de membros do Taleban e se queixando dos EUA.
Mais cedo, numa cena melodramática, ele tentara converter-se ao islamismo diante do tribunal, recitando os versos corânicos daqueles que procuram se converter à fé e tentando jurar pelo Alcorão.
O juiz não ocultou a irritação que Idema lhe provocava e pareceu espantado com o estilo agressivo dos advogados criminalistas americanos convocados pelo suposto caçador de recompensas.
Idema mostrou imagens de vídeo dele próprio sendo saudado por autoridades afegãs e afirmou que o FBI confiscara as suas evidências, incluindo mensagens de fax trocadas com outras pessoas. Não ficou claro se ele mentiu.
Acusado de tortura, de seqüestro e de ter ingressado ilegalmente no Afeganistão, Idema foi condenado a dez anos de prisão. Seu braço direito, Brent Bennett, também foi condenado a dez anos de prisão, e o premiado cineasta nova-iorquino Edward Caraballo, a oito. Quatro afegãos também foram condenados a penas que variam de um a cinco anos.
Caraballo parecia estar em estado de choque e guardou silêncio durante o julgamento inteiro.
Não está claro onde os três americanos vão cumprir suas penas. Até agora, eles estavam em local secreto, sob vigilância da polícia.
Idema foi flagrado com ""suspeitos de terrorismo" pendurados pelos pés do telhado de uma casa em Cabul. Um deles era um clérigo de uma das maiores mesquitas da cidade. Idema insistiu em que o homem tinha participado de conspirações que teriam sido frustradas por sua equipe.
Com a capital afegã repleta de homens armados, uniformizados ou não, tanto a Otan quanto as forças americanas se deixaram enganar por Idema. A Otan chegou a enviar homens para ajudá-lo em suas ações armadas.
Idema afirmava ter impedido a concretização de conspirações terroristas para assassinar o presidente Hamid Karzai e para explodir a grande base militar americana de Bagram, perto de Cabul.
Ele disse que tinha localizado Osama bin Laden num povoado no Paquistão. Mas sua credibilidade ficou comprometida quando veio à tona que ele tentara processar o ator George Clooney por conta do filme "O Pacificador".


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